O que há de tão chocante na linguagem neutra em gênero?

Abstrato. | Foto: PxHere

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09 Março 2018

"O problema parece vir a partir de um emprego particular que é notado na maioria das reportagens conservadores. O material sugere que, como uma alternativa a “marido/esposa”, os escritores usem “cônjuge, parceiro, ou outro significante”. Ninguém é obrigado a usar os termos alternativos, mas o material existe para ajudar quem escreve a entender que uma linguagem está disponível e que será exata, honesta e respeitosa. Por que isto é um problema?"

A opinião é de Francis DeBernardo, diretor-executivo da New Ways Ministry, organização católica de gays e lésbicas. O artigo é publicado por Bondings 2.0, 07-03-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Eis o artigo.

Ao longo de todo o mês de fevereiro, sítios eletrônicos religiosos e seculares conservadores foram à loucura com um desdobramento ocorrido na Universidade de Dayton, instituição católica em Ohio da congregação dos Irmãos e Padres Marianistas.

Que desdobramento é este que provocou tanto falatório? A página na internet da instituição disponibilizou aos alunos, professores e funcionários um material sobre como usar a linguagem neutra em gênero, ou linguagem inclusiva.

O sítio explica a justificativa por trás da iniciativa:

“A lista de linguagem inclusiva de gênero é um recurso educacional – não é um guia, nem um material consultivo, tampouco representa a Universidade de Dayton ou o Centro da Mulher. Ele foi pensado para auxiliar as pessoas que preferem empregar a linguagem inclusiva bem como aquelas que desejam evitar pressupor o gênero de alguém que está em debate”.

“A maior parte das associações e revistas acadêmicas profissionais esperam que pesquisadores e discentes empreguem a linguagem inclusiva nas apresentações e publicações. O material de linguagem inclusiva de gênero auxilia os/as discentes a compreender e cumprir com estas expectativas profissionais.”

“Como uma universidade católica e marianista, somos guiados/as por nossa missão de fomentar uma comunidade educativa que acolha e inclua todas as pessoas. Como comunidade cristã e educativa, reconhecemos que toda pessoa possui dignidade inata porque todos/as são feitos/as à imagem e semelhança de Deus e porque buscamos criar um ambiente onde todo mundo se sinta respeitado, seguro e valorizado”.

Onde está a polêmica? O que há nesse material que não devemos gostar? As sugestões dadas atualizam principalmente a linguagem que existia em situações predominantemente masculinas, como o uso de um “cumprimento informal” ao invés de um “prezados senhores”, ou substituir “manpower” (força de trabalho) por “workforce” (força de trabalho sem citar o gênero) ou mesmo “labor”, e ainda substituir “fireman” (bombeiro) por “firefighter” (bombeiro sem citar o gênero).

O problema parece vir a partir de um emprego particular que é notado na maioria das reportagens conservadores. O material sugere que, como uma alternativa a “marido/esposa”, os escritores usem “cônjuge, parceiro, ou outro significante”. Ninguém é obrigado a usar os termos alternativos, mas o material existe para ajudar quem escreve a entender que uma linguagem está disponível e que será exata, honesta e respeitosa. Por que isto é um problema?

A razão para a oposição, evidentemente, é que os sítios conservadores não querem reconhecer que o casamento homoafetivo existe. No entanto, ele existe. E os alunos, o corpo docente e funcionários muito provavelmente estarão escrevendo sobre esta realidade de vez em quando. Não é importante ajudá-los a saber quais termos são apropriados? É errado uma universidade disponibilizar aos alunos um conhecimento que os ajude a descrever o mundo em torno de si? Não há nenhuma indicação de que a igualdade matrimonial está implicada quando se emprega estes novos termos.

Como explica a introdução à lista, o material não é prescritivo e nem é uma norma oficial da instituição. Está lá para ajudar os alunos com padrões profissionais comuns de linguagem. Talvez o mais importante é que o material também é um auxílio que surge a partir do carisma da instituição, o de ser um lugar seguro e acolher a todos.

Muitas das reportagens de sítios conservadores manifestaram surpresa pelo fato de um tal material ser disponibilizado por uma universidade católica. A educação superior católica geralmente está aberta à realidade do mundo. Seria uma surpresa se uma instituição católica não fornecesse um tal recurso.

Parabéns à Universidade de Dayton por ajudar os alunos a serem bons escritores e a serem pessoas íntegras que demonstram respeito por todos e todas.

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