22 Fevereiro 2018
Em 23 de fevereiro, no auditório da Pontifícia Universidade Gregoriana, será realizada a conferência Rutilio Grande. Uma vida dedicada à mudança promovida pela Embaixada de El Salvador junto à Santa Sé, em colaboração com o Instituto da Espiritualidade da universidade romana. O evento acontece no quadro do 41º aniversário do assassinato de Rutilio Grande, amigo fraterno de Oscar Romero, que celebrou seu funeral. Depois das saudações de Padre Anton Witwer, presidente do Instituto, teremos a apresentação de Jaime Alfredo Miranda, vice-ministro das Relações Exteriores de El Salvador, de padre Ramón Rosa Borjas, colaborador historiador da causa de beatificação de Rutilio Grande, e de Padre Pascual Cebollada Silvestre, postulador geral da Companhia de Jesus.
Durante o encontro serão exibidos um vídeo-testemunho de Salvador Carranza, coirmão muito próximo de Rutilio Grande e o documentário Rutilio Grande. A vida consagrada à mudança, editado pela Universidad Centroamericana José Simeón Cañas, de San Salvador.
Encerrará a conferência Manuel A. Lopez, Embaixador de El Salvador junto à Santa Sé. Para a ocasião, estamos publicando alguns trechos do livro La fuerza transformadora del evangelio. Biografia de Rutilio Grande (San Salvador, 2016), escrito pelo padre jesuíta Rodolfo Cardenal atualmente diretor do Centro Monseñor Romero da Universidade Centro Americana (UCA), de San Salvador.
A informação e o artigo a seguir são publicados por L'Osservatore Romano, 21-22 fevereiro de 2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Estas páginas contam a vida de Rutilio Grande, uma vida de fé ao Evangelho e ao povo de Deus. Rutilio tinha plena confiança no poder transformador do Evangelho. Ele viveu a sua vocação jesuíta e sacerdotal como "serviço da fé, do qual a promoção da justiça constitui uma exigência absoluta, enquanto faz parte da reconciliação dos homens exigida pela reconciliação dos mesmos com Deus" (Congregação Geral 32, Decreto 4.2). É por isso que o mataram.
Em seus primeiros anos, formou seminaristas, nos quais incutiu a fidelidade ao Evangelho e ao povo salvadorenho, e a vocação para o serviço. Depois, ele passou os últimos quatro anos de sua vida pregando o evangelho e a justiça do reino para os agricultores da paróquia Aguilares. Entre eles favoreceu a fundação de comunidades cristãs e promoveu os laicos como agentes pastorais ativos. Então, retornou à cidade que ela tinha deixado décadas antes de entrar no seminário. Lá foi encontrado por seus assassinos. Arrancaram a sua vida, junto com a de um velho homem e uma criança, símbolos do povo salvadorenho. Apesar do perigo que corria, ele não quis fugir. "Precisamos fazer o que Deus quer", foram suas últimas palavras.
Rutilio viveu a sua opção "primária e fundamental" para os pobres em uma complexa realidade sócio-econômica e política, uma crise estrutural que levou a doze anos de guerra civil sangrenta e cruel. A realidade eclesial não era tão complicada. A Igreja de El Salvador acolheu o concílio só depois de Medellín. Rutilio foi um dos sacerdotes que mais se empenhou para que aquele ensinamento fosse implementado, não sem experimentar adversidade e recusas, que o fizeram sofrer tanto. Rutilio convidou à conversão pessoal e institucional para enfrentar os desafios da realidade que estava se vivendo. A coerência consigo mesmo e a fidelidade ao evangelho de Jesus Cristo o levaram a uma encruzilhada da história de El Salvador, onde se decidia a vida e a morte da maioria dos salvadorenhos. A história de El Salvador, da paróquia de Aguilares e a biografia de seu pároco ficaram assim intimamente ligadas para sempre.
A vida de Rutilio foi dramática. Limitações severas impostas à sua saúde, a obsessão com a fidelidade à sua vocação, à Igreja e à Companhia de Jesus o levaram a viver situações ambíguas e complexas. Às vezes, caminhava na escuridão, no não saber, prisioneiro de dúvidas cruéis e perturbadoras incertezas, que testavam a sua fé e a sua confiança em Deus. Naqueles momentos, entregou-se com confiança a Deus.
Rutilio Grande foi um padre e um jesuíta de estatura humana e religiosa inimagináveis. Em sua vulnerabilidade encontrou a sua magnitude. Ele passou a maior parte de sua vida em silêncio. Não foi um estudante brilhante, não se destacou pela sua liderança. Nos momentos mais difíceis, existem inclusive sinais de certo desprezo por parte de seus companheiros e superiores. No entanto, todos aqueles que tinham relações com ele encontraram uma pessoa próxima, disponível e boa.
Os seminaristas e o clero encontraram nele um formador e um companheiro humano, compreensivo e amigável, mas firme e sério. Os moradores de El Paisnal e Aguilares, bem como os agricultores dos arredores, os Guaimis de Hato Pilón (Panamá) e os agricultores de Gaviñay (Equador) encontraram nele um padre próximo, altruísta e amigável. Quando assumiu a direção da paróquia de Aguilares, sua vida adquiriu uma dimensão pública inesperada e desconhecida, e seu trabalho paroquial teve uma grande influência sobre a pastoral da Arquidiocese de San Salvador e até mesmo da província eclesiástica de El Salvador.
Estas páginas estão baseadas em duas biografias que escrevi há vários anos, por sugestão do padre provincial, César Jerez. O primeiro livro, Rutilio Grande. Mártir de evangelização rural em El Salvador (San Salvador, UCA Editores, 1978), foi publicado de forma anônima no primeiro aniversário do assassinato do servo de Deus e de seus dois companheiros camponeses com a devida aprovação do arcebispo Oscar Romero, concedida em março 1978. Trata-se de um trabalho curto, escrito rapidamente para poder ser distribuído por ocasião da comemoração do primeiro aniversário de sua morte.
A intensa repressão desencadeada contra a Igreja e a Companhia de Jesus desaconselhava publicar a biografia com o meu nome. Assim, no Prólogo é registrado que os autores são vários jesuítas. Pelo mesmo motivo de prudência, não coloquei muitos nomes, especialmente dos jesuítas e dos informantes entrevistados. Naquele momento e nos anos seguintes circularam milhares de cópias dessa biografia. Recentemente, foi publicada com o meu nome (2015).
No entanto, o arquivo pessoal de Rutilio merecia uma investigação mais aprofundada. Graças a sua obsessão para documentar o seu trabalho, legou à posteridade um patrimônio documental que merecia ser estudado no contexto e relatado de forma mais detalhada. Essa foi a melhor maneira de lembrar Rutilio e seus companheiros mártires. Também satisfez o desejo expresso por monsenhor Romero em uma de suas homilias, e até pelo clero da arquidiocese, de colocar à disposição uma biografia de Rutilio. Dessa forma, depois de 1978, entre outras tarefas, eu trabalhei nisso. Em 1985 foi publicada História de uma esperança. Vida de Rutilio Grande (San Salvador, UCA Editors).
As páginas seguintes estão em dívida com essas duas obras, mais da segunda do que da primeira. Mas a nova versão também inclui novidades. Nos últimos anos, apareceram mais informações sobre a sua vida. Talvez a mais importante esteja relacionada à autoria intelectual e material do assassinato. Esta nova versão inclui os nomes dos jesuítas mais próximos a Rutilio, especialmente em Aguilares. No entanto, os depoimentos de algumas pessoas permanecem anônimos por sua própria vontade.
Por fim, cuidadosamente revisei o texto para torná-lo mais claro e compreensível. Eliminei as repetições e explicações desnecessárias, e organizei algumas seções de forma mais coerente com o curso da vida de Rutilio.
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Em sua vulnerabilidade encontrou a sua magnitude. A vida dramática de Rutilio Grande, assassinado com o seu povo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU