10 Fevereiro 2018
Em 5 de fevereiro, completaram-se 27 anos desde a morte de Pedro Arrupe após nove anos de martírio incruento, vítima de um aneurisma cerebral, na cúria dos jesuítas em Roma. Fui vê-lo várias vezes e para entrevistá-lo para a minha biografia. Segue um dos poemas que escrevi na época.
O poema é de Pedro Miguel Lamet, publicado por Religión Digital, 08-02-2018. A tradução é de André Langer.
À manta de enfermo de Pedro Arrupe
Encolhida e imóvel, com a dócil brandura
de um animal amado, que segredos escondes?
Nove anos de doença ou a glória perfeita?
Sobre a lã xadrez duas mãos de um amigo,
aqueles dedos longos com palidez de morte,
duas pombas torcidas por um raio de sangue
que arrulhavam ao mundo em seu regaço aberto.
Com o pescoço quebrado e olhar ardente
e a graça assomada a um rosto em paralisia,
quem disse que a cruz não pode ser sorriso?
Tua pele deixava transparecer, perdida no vazio,
a brancura infinita de outras brancas paredes.
Teu coração batia com o pulso do cosmos.
Oriente e Ocidente sentem saudades do teu abraço,
do tapinha nos ombros, da voz de companheiro.
Quão órfãs estão as sombras da sua forte palavra!
Quão habitado silêncio se abria em tuas pupilas!
Arrancaram-te pedaços da alma peregrina,
deixaram-te sem nada para chorar a sós...
E a tocha de Deus, sob tanto abandono,
como uma vela em chamas de ti transluzia.
Poderes deste mundo e púrpuras de Igreja
já são apenas cinzas nas sombras de Hiroshima.
No Japão, te há deplorado, atônito, um nenúfar,
quando em São Pedro os sinos dobram a morte.
Oh, Pedro, quem pudera deitar-se como um cão
ao teu pé de líder esvaziado do presente
e ser como tua manta, um dócil instrumento,
a “inaciana pelagem” de amor a Jesus Cristo!
Pedro Miguel Lamet
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Aos 27 anos da morte de Pedro Arrupe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU