26 Janeiro 2018
IMAGINA SÓ!!!
(Imagem da página Diálogos do Sul)
No dia 02 de janeiro de 2003, Lula recebeu o relatório da equipe de transição propondo uma série de medidas para enfrentar o oligopólio da Globo, aproveitando que a empresa vivia um mau momento financeiro. 15 anos depois, o resultado está aí.
O dia foi muito triste, tanto pelas derrotas que a direita nos impõe quanto pela quantidade absurda de equívocos que a esquerda cometeu. Independente da opinião que tenhamos sobre o lulismo, vamos pagar caro pelo dia de hoje.
Não, galera, não vivemos "a ditadura do judiciário". Continuamos na ditadura dos banqueiros, onde o poder financeiro determina os destinos políticos do país. E, considerando a capacidade humana de mudar o clima planetário, do mundo inteiro.
O resto é só consequência.
Eu achava cínico pra caralho e uma chantagem das mais desprezíveis quando Dilma dizia que a barragem moedora de pobres e índios chamada Belo Monte - a única promessa que a presidenta conseguiu cumprir em 6 anos - era necessária porque "ninguém quer ficar sem luz". Hoje a gente já sabe que o mais preciso seria "ninguém quer ficar sem caixa 2 de empreiteira em 2014".
Sem tergiversar mais, eis que me aparece Bob Murray, amigo de Trump e lobista do setor de carvão dos EUA - fonte de energia que consegue ser mais ultrapassada que usinas hidrelétricas - levando a coisa pra um outro patamar:
"Se o carvão baixar dos 30% [atuais na matriz energética dos EUA,] as luzes vão se apagar e a vovó congela, no escuro".
Sim, é exatamente esse o som que fazem, em qualquer lugar, os dinossauros do planejamento energético, quando sentem a água batendo no pescoço.
Este é Márcio Matos. Secretário de Administração da Prefeitura de Itaetê (BA), ex-dirigente nacional do MST, da Esquerda Popular Socialista, tendência interna do PT e líder da luta pela reforma agrária e proteção do meio ambiente na região da Chapada Diamantina.
Márcio foi executado na noite de ontem (24), poucas horas depois da condenação de Lula, com vários tiros diante, de seu filho pequeno, em sua casa numa fazenda do município Iramaia.
Veja a foto de Márcio com Lula. Em seu perfil no Facebook é possível ler o último post de Márcio, exatamente a nota do PT contra a condenação de Lula, postada às 19h. Pouco depois, estava morto, assassinado.
Quem tem medo de Kim Kataguiri?
Não tive o cuidado de avisar Marcia Tiburi e Roberto Requião de que encontrariam Kim Kataguiri em meu programa.
Em jornalismo isso é padrão.
Avisa-se por cortesia e para manter relações.
Alguns, contudo, veem nisso um dispositivo ético.
Em se tratando de políticos isso é bastante discutível.
O eleito deve estar sempre disponível para debater com qualquer um.
Sem aviso prévio.
Se Requião tivesse encontrado José Sarney no programa, reclamaria de não ter sido avisado?
Pedi e peço desculpas a Márcia.
Li sua carta de protesto no programa.
Parei para pensar.
Por que não se pode debater com Kim Kataguiri?
Por que ele é jovem demais?
Por que o MBL é considerado fascista?
Por que mesmo o MBL é fascista?
Por que quer Estado mínimo?
Por que Kataguiri teria sido treinado nos Estados Unidos?
Por que acha que Lula é corrupto?
Por que pensa como parte considerável da população brasileira?
Por que apoiou Doria?
Por que apoiou o impeachment de Dilma?
Por que não bate panelas contra Temer?
Por que é debochado, arrogante, agressivo?
Por que intimida as pessoas (já sofri muita tentativa de intimidação da esquerda)?
Por que o MBL filma as pessoas às escondidas para expô-las e isso é realmente grave?
No meu programa já foram Cesare Batistti e Jair Bolsonaro.
Nesta semana, João Pedro Stedile e Guilherme Boulos.
Por que Boulos pode e Kataguiri não?
O cara de esquerda considera Kataguiri fraco e perigoso.
O cara de direita considera Boulos fraco e perigoso.
O cara de direita afirma que não se deve dar espaços para gente como Boulos.
O cara de esquerda afirma que não se deve dar espaços para gente como Kataguiri.
Recebi duas críticas: por não ter avisado (justa) e por ter convidado Kataguiri (inaceitável).
Minha visão de pluralismo é essa mesma: Boulos e Kataguiri no mesmo programa, juntos ou separados. Certo, pelo protocolo, avisados.
Nos comentários que li transpareceu uma velha tentação atribuída à esquerda, mas comum na direita que me patrulha diariamente, de controlar a mídia, dizer quem tem legitimidade para falar.
Todos aqueles que pensam como Kataguiri devem ser banidos da mídia?
Por que não debater e desmontar seus argumentos?
Achei que ele debateu muito bem com Requião.
Não concordo com uma só ideia de Kataguiri.
Discordo de 50% do que defende Requião.
A meu ver, Kataguiri deu um baile em Requião na forma.
Argumentou com calma, com frieza e com organização.
Quem tem medo de Kim Kataguiri?
Eu tenho. Dele, do MBL e de todos os aparelhos de pressão.
Tenho medo de certa esquerda e de certa direita.
Entendo o medo dos outros.
Tenho medo de tudo e de todos, especialmente de quem me manda para o paredão moral por crime de lesa expectativa de fidelidade.
Não sou de esquerda.
Não sou de direita.
Não tenho partido.
Sou anarquista. Um anarquismo fora do catálogo.
Fazia tempo que não era vilão.
Ainda conheço o script.
Até hoje só a esquerda me fez perder emprego.
Cada um com seus clichês e sua tribo.
Sem diabolizar o outro. Qualquer outro.
O outro tem sido sempre o demônio.
Gosto de Olívio Dutra. Gosto de Michel Houellebecq.
Esquerda e direita.
Não sou, como diria Edgar Morin, de ninguém.
Não contem comigo como porta-voz.
Eu pertenço à solidão da minha loucura.
Estão linchando o Juremir Machado e eu não concordo com isso. Até porque, o Juremir e o seu programa, o Esfera Pública, juntamente com a Taline Optiz, é um dos poucos espaços de debate equânime na imprensa gaúcha e brasileira. Por tanto, é uma burrice crucificar o Juremir. Além disso, acredito que o Juremir esteja sendo pressionado pela direção da Rádio Guaíba, que pertence à Igreja Universal do Reino de Deus, assim como o jornal Correio do Povo e a Rede Record de rádio e TV, a levar convidados de extrema direita ao seu programa.
Sim, acho que Juremir errou ao não comunicar à Márcia Tíburi e ao senador Roberto Requião que eles debateriam com um tal de Cataaqui durante o programa. Normalmente cabe aos entrevistados indagaram com quem partilharão a bancada de debates. No entanto, dado a disparidade intelectual e de representatividade política entre o tal de Cataaqui e o senador Roberto Requião e Márcia Tiburi, entendo que Requião e Tiburi deveriam ter sido prevenidos de que debateriam com o tal de Cataaqui.
Juremir ficou abalado com o fato de dois entrevistados de reconhecido prestígio público o terem recriminado no ar, durante o programa e resolveu partir para o revide. Acho que ele fez mal. Melhor seria se tivesse assimilado o golpe e ficado quieto. Não o fez e reagiu, atirando contra os que o criticaram. Acho que fez mal.
Isto não autoriza a ninguém a crucificá-lo. Juremir e Taline, no Esfera Pública, fazem parte do diminuto grupo de jornalistas e programas, nas rádios e tvs gaúchas (talvez só acompanhando pelo Conexão RS da TV Ulbra e o programa Democracia da TV Assembleia, já que a TVE, tomada pela mediocridade que a dirige, retirou seus programas de debates) e brasileira que concedem voz às esquerdas.
Nunca é demais lembrar: a neutralidade SEMPRE será uma tomada de posição (política). Gente neutra quer ganhos como qualquer gente militante. Em geral, a "apatia" da neutralidade é recompensada de prestígio por operadores do status quo. Eu prefiro quem se rasga para defender a sua posição (mesmo recheada de equivocidade), porque isso a faz ser mais objetiva, clara, corajosa, verdadeira.
Nunca é demais lembrar. Nunca.
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