05 Outubro 2017
A imprensa brasileira vem noticiando, desde o início da temporada de reprodução das baleias em nossas águas, uma grande quantidade de encalhes desses animais, o que causa sempre preocupação no público em geral e nos amantes da Natureza. Até agora, mais de 90 encalhes de baleias jubarte foram registrados, a maioria na Bahia e Espírito Santo. Será que há motivos para preocupação?
A reportagem é de Eduardo Melo, publicada por EcoDebate, 04-10-2017.
Baleia Jubarte (Foto: PxHere)
Para começar, é preciso lembrar que a população de jubartes que frequentam as águas brasileiras no inverno e primavera está em franca recuperação da depredação sofrida durante muitas décadas de matança comercial da espécie. De uma população que na virada do século era de apenas cerca de 3.000 baleias, Projeto Baleia Jubarte estima que hoje ela já seja superior a 17.000 animais, o que é motivo para celebrar. E mais baleias vivas quer dizer, necessariamente, mais baleias mortas de causas naturais.
Essa recuperação populacional, por outro lado, está fazendo com que esse grande número de baleias encontre um ambiente cada vez mais alterado por atividades humanas, que podem também causar encalhes e mortes. Um número significativo de animais encontrados mortos nas praias, por exemplo, apresenta marcas de emalhamento em redes de pesca.
Há também o risco de colisões com grandes embarcações, principalmente onde as rotas de navios que demandam portos cruzam as áreas de concentração das jubartes, e mesmo o ruído de determinadas atividades, como prospecção sísmica, podem trazer problemas.
Para entender o quanto desses animais encalhados morrem por causas naturais ou devido à ação do ser humano, é importante examinar as carcaças de baleias para descobrir a causa da morte e buscar soluções para estes problemas. Por isso mesmo o Projeto Baleia Jubarte busca, sempre que possível, atender os eventos de encalhe com sua equipe de veterinários e pessoal especializado. O registro detalhado das condições dos animais encontrados mortos ajuda a entender o contexto dos encalhes, e a construir estratégias para minimizar os impactos da atividade humana que possam estar relacionados a um aumento de mortalidade das jubartes.
Outras atividades humanas de maior abrangência também podem impactar as jubartes. Por exemplo, é possível que haja uma correlação entre o maior número de encalhes detectado este ano – e em alguns anos anteriores – com uma menor produção de krill (o principal alimento das jubartes do Hemisfério Sul) na região antártica. O quanto essa diminuição de produtividade pode estar sendo causada pelas mudanças climáticas induzidas pela humanidade é ainda motivo de estudos, mas certamente causa preocupação, porque pode comprometer a recuperação futura das populações de baleias.
São raros os casos em que as baleias encalham vivas na praia. Quando acontecem encalhes de animais vivos, o grande desafio é mover criaturas tão pesadas sem feri-las ainda mais. O recente exemplo bem-sucedido em que a comunidade de Búzios, RJ, trabalhou com êxito para resgatar uma jubarte jovem encalhada demonstra que coordenação e uso de boas técnicas podem trazer um final feliz para esses eventos. É importante frisar, entretanto, que tentar o desencalhe de uma baleia viva é uma ação que envolve muitos riscos, tanto de ferimentos provocados involuntariamente pelo animal como a aquisição de doenças ao entrar em contato com o mesmo e com o spray de sua respiração. Por isso, essas tentativas devem sempre ser realizadas sob orientação especializada.
Em suma, apesar de números elevados e da tristeza causada por ver animais majestosos mortos no nosso litoral, os encalhes de jubartes nessa temporada ainda não constituem uma ameaça para a recuperação da espécie em nossas águas. Mas é preciso estarmos vigilantes e seguirmos monitorando esses eventos, para assegurar que as atividades humanas não sejam responsáveis por mais mortes e que possamos garantir a existência das baleias no mar brasileiro em uma convivência harmônica com as pessoas.
O Programa de Resgate do Projeto Baleia Jubarte atua no litoral da Bahia e do Espírito Santo e conta com telefones de emergência, que recebem, inclusive, ligações a cobrar.
Caravelas: (73) 3297-1340* e (73) 98802-1874**
Praia do Forte: (71) 3676-1463*
WhatsApp (73) 98802-1874 *
Horário comercial (segunda a sexta) ** 24 horas
Atuando há 28 anos na pesquisa e conservação das baleias jubarte e do ambiente marinho no Brasil, o Projeto Baleia Jubarte, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, e integra a Rede Biomar juntamente com outros projetos patrocinados pela empresa (Projeto Albatroz, Coral Vivo, Golfinho Rotador e Tamar), que atuam de forma integrada na conservação da biodiversidade marinha do Brasil. O Projeto Baleia Jubarte é administrado pelo Instituto Baleia Jubarte a partir de suas sedes na Praia do Forte e em Caravelas, Bahia. Mais informações sobre as atividades podem ser obtidas no Facebook e no site do projeto.
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Encalhes de baleias jubarte não afetam recuperação da espécie, mas conflito com atividades humanas é uma das causas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU