25 Setembro 2017
As disputas sobre a moral sexual estão levando a Igreja a uma segunda Reforma, na qual a "gravidade" do que está em jogo “é tão real” quanto na Reforma de Lutero e "as consequências serão igualmente transcendentais". É dessa maneira que o arcebispo da Filadélfia, Charles Chaput, referiu-se à polêmica suscitada pelo livro favorável à aproximação das pessoas LGBT do jesuíta James Martin. Considero que, disse, ele questiona a relação entre a misericórdia, a doutrina e o juízo pessoal na teologia católica.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 24-09-2017. A tradução é de André Langer.
Embora em um artigo publicado no portal First Things, o arcebispo da Filadélfia lamente a quantidade de insultos "injustificadamente feios" que foram proferidos contra Martin por seu livro – sobretudo por parte da extrema direita católica –, esta invectiva não isenta o jesuíta de "uma crítica legítima e séria que não tem nada a ver com o rancor ad hominem".
De acordo com Chaput, o livro de James Martin – que, desde o seu próprio título, Building a Bridge, defende a "construção de uma ponte" entre a Igreja e a comunidade LGBT – não é, como muitos argumentaram, "sobre se estamos dispostos ou não a eliminar o farisaísmo na vida da Igreja". O que está em jogo na controvérsia é nada mais, nada menos, argumenta o arcebispo da Filadélfia, do que o papel do juízo crítico, do qual o farisaísmo supostamente está cheio, mas que, "temperado pela misericórdia e fiel às Escrituras e à constante doutrina da Igreja, é uma obrigação do discipulado católico, especialmente em questões morais, e especialmente na erudição católica".
Assim, o arcebispo Chaput acusa Martin de ter suscitado "apreensão e críticas" entre os fiéis com a negação desta teologia e com suas "ambiguidades" sobre a atitude que a Igreja deve ter com as pessoas LGBT. Medos que provocaram a ira desencadeada por adeptos da Igreja ultraconservadora que montaram uma implacável campanha contra Martin, mas que – por mais que Chaput considere esta campanha "um contra-testemunho destrutivo do Evangelho" – não deixa de ser por esse motivo "a perfeita imagem invertida do sarcasmo venenoso, desdém e cultivo sistemático de ceticismo e dissidência" que em marcado a Igreja "progressista" durante décadas.
É dessa maneira, em suma, que o arcebispo da Filadélfia chega a colocar a culpa por estarmos às portas de outra Reforma firmemente no jesuíta e na Igreja "progressista", que, supostamente, a apoia. "Sob muitos aspectos", conclui o arcebispo– e não pela raiva que James Martin está provocando e pela dissidência que ele fomenta –, "o nosso tempo assemelha-se ao mal-estar geral que havia às vésperas da Reforma" e, assim, vivemos "uma espécie de 'Reforma 2.0'".
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Chaput adverte que as disputas sobre a moral sexual estão levando a “uma ‘Reforma 2.0’” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU