01 Setembro 2017
Quando finalmente voltou a frequentar a Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio (UFRJ), no começo deste ano, Maria Fernanda Fernandez, de 26 anos, se deparou com os cinco elevadores do prédio sem funcionar. Cadeirante desde 2013, quando ficou paraplégica depois de um acidente de carro, acabou instruída então a utilizar o elevador de carga, o único em funcionamento após o incêndio que atingiu o edifício da faculdade em outubro do ano passado. Foi ali que Maria Fernanda se deu conta de que, para estar presente nas aulas, enfrentaria ainda mais dificuldades do que imaginava.
A reportagem é publicada por O Estado de S. Paulo, 31-08-2017.
O elevador de carga não é acionado apenas por meio de um botão. Um papel fixado com fita crepe na parede de cada andar avisa que, para utilizá-lo, é preciso ligar para um dos dois ramais indicados. Liga do próprio telefone, passam para outro ramal, “não é esse número”, espera... Cada vez que precisa usar o elevador, ela relata uma demora de cerca de 20 minutos. O pior aconteceu no dia 4. Depois da aula ter terminado no terceiro andar, Maria Fernanda percebeu que o elevador estava em manutenção. “Eu subi, mas não tinha mais como descer. Os seguranças chegaram a cogitar que eu descesse no colo deles. A espera foi de 40 minutos e eu fiquei muito mal.”
E a falta de elevadores é apenas um dos problemas que afetam o prédio da Faculdade de Arquitetura, que é também o prédio da Reitoria e da Escola de Belas Artes da UFRJ, na zona norte da cidade. Logo na entrada do edifício, chama a atenção uma grande marquise, completamente destruída por infiltrações. De acordo com a universidade, tanto a situação da biblioteca quanto da marquise são resultado de uma obra que teve “erro na execução do projeto”. Em relação ao incêndio de outubro e as estruturas danificadas, a UFRJ disse que o Ministério da Educação liberou R$ 9 milhões para reformas.
Cursando o quinto semestre de Agronomia da Universidade de Brasília (UnB), Aline Holanda sentiu na sala de aula o impacto da restrição de verbas das universidades federais. Testes de fertilidade do solo, que no passado eram feitos pelos próprios alunos, agora são executados pelo professor. “Pequenos grupos foram formados para ver o procedimento. Em vez de executores, fomos espectadores”, conta.
Para Laila Fernandes, do quarto semestre de Psicologia, o maior impacto da restrição de recursos é sentido na segurança. “Para completar, em alguns locais a iluminação é pouca.” Por essa razão, Laila diz que não escolhe mais disciplinas à noite. “É melhor evitar.” Questionada sobre os problemas, a UnB não se pronunciou.
Na Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), criada em 2013, estudantes precisam viajar por até um dia inteiro para usar laboratórios de outras faculdades.
“É muito ruim, porque ficamos uma semana inteira fora em uma atividade que deveria ser parcelada e vista aos poucos, com a teoria. E enquanto estamos fora perdemos aulas ministradas no decorrer da semana”, relata a estudante de Agronomia Gleice Kelly, de 19 anos. Os laboratórios da Ufob estão em construção.
Os cortes no orçamento começaram a atingir os alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A universidade dobrou o valor cobrado pelas refeições oferecidas no Restaurante Universitário. O contingenciamento de dinheiro afeta, também, o funcionamento das Residências Universitárias.
A reitora, Ângela Paiva, disse que um levantamento da execução orçamentária está em curso e será necessário se adaptar. "Os cortes são bastante prejudiciais ao desenvolvimento dos projetos acadêmicos e de infraestrutura para o ano em curso e para 2018. O corte de 6,74 % no custeio de 2017 além do contingenciamento implicam na necessidade de redução drástica de gastos e na priorização de projetos acadêmicos para não haver prejuízos na qualidade do ensino, pesquisa e extensão. Quanto à infraestrutura, o corte implica no prejuízo ao plano de obras e de aquisição de equipamentos", disse.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), localizada em Porto Alegre, os alunos sentem o corte de verbas na prática. "Há sujeiras nas salas de aulas, corredores e banheiros dos prédios. Falta até papel higiênico e papel toalha para secar as mãos", reclamou o estudante Daniel Bruno Momoli, de 29 anos, doutorando em Educação na UFRGS.
A UFRGS ressalta que tem feito todos os esforços, cortes e sacrifícios possíveis, mas, mesmo assim, atrasos eventuais de pagamentos têm ocorrido. Os riscos de atrasos maiores para o segundo semestre são significativos, diz a instituição.
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Até ficar na faculdade vira um problema - Instituto Humanitas Unisinos - IHU