20 Junho 2016
O protesto com ataques a estudantes da Universidade de Brasília (UnB), promovido por um grupo de cerca de 15 pessoas na noite da última sexta-feira (16), foi convocado nas redes sociais pela ativista de direita Kelly Cristina Cardoso, mais conhecida como Kelly Bolsonaro. A UnB e a Polícia Civil investigam o ato, marcado por agressões verbais contra os universitários, que foram chamados de “vagabundos”, “maconheiros”, “parasitas” e “gays safados” por manifestantes que vestiam camisas com inscrições como “Bolsonaro presidente” e “Fora PT”. Uma bomba caseira foi lançada.
“Tem alguém daqui de bsb (Brasília) afim (sic) de participar de uma ação na UNB?? :) #opressão”, perguntou Kelly Bolsonaro às 15h52 de 9 de junho no Facebook, conforme mostra o Correio Braziliense. “Estou sentindo cheiro de treta no ar”, escreveu um homem. Kelly responde: “treta… das melhoreeeess.” Outro seguidor interveio: “Sorte desses comunas c. da UnB que eu já passei da idade de tretar, senão iria com todo prazer oprimir e partir a cara de uns…”.
Kelly Bolsonaro invadiu o gramado do Mané Garrincha, durante um Fla x Flu, para pedir impeachment de Dilma/Fonte: Reprodução/Facebook
A reportagem é publicada por Congresso em Foco, 19-06-2016.
O relações públicas George Marques entrou com uma denúncia no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) contra a ativista, sugerindo que ela seja processada por terrorismo, já que, de acordo com relatos dos estudantes, manifestantes levaram bombas e armas de choque para a universidade.
Kelly, que estava presente no protesto, tem como principal bandeira a defesa da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à Presidência da República. Daí a incorporação do sobrenome. “Uh, é Bolsonaro, uh, é Bolsonaro. É Bolsonaro presidente, porra”, gritou ela na saída do protesto. A militante tem 5 mil amigos em sua página pessoal e outros 10 mil seguidores na conta em que divulga suas posições políticas.
A militante, de 29 anos, não quis comentar o protesto na UnB com a imprensa. Procurada pelo Correio Braziliense, passou a palavra a um amigo identificado apenas como Maurício, que disse que o objetivo do ato foi mostrar que há outras forças políticas dentro da universidade e pedir o fim da doutrinação esquerdista nas instituições de ensino superior.
“Nós nos organizamos pelo WhatsApp para um ato pacífico, com cerca de 40 pessoas, inclusive com estudantes”, afirmou. Segundo ele, a intenção do grupo era pedir liberdade de expressão. O ativista reconheceu que alguns manifestantes se exaltaram, mas ressaltou que houve provocação por parte dos estudantes.
“Eu sou empresária, pago imposto caríssimo pra manter esse parasita. Gay, safado, parasita”, gritou uma mulher a um aluno. “Maconheiro, maconheiro”, emendou. Entre os gritos de guerra, “Golpistas cotistas não passarão”, “Golpistas comunistas não passarão” e “A nossa bandeira jamais será vermelho”, “Uh, é Bolsonaro”, “Bolsonaro presidente” e “Viva Sérgio Moro”.
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No último dia 8, professores da UnB aprovaram indicativo de “greve e mobilização nacional” a partir do segundo semestre, enquanto a presidente afastada Dilma não retornar ao governo. O documento será submetido ao congresso nacional de sindicato de docentes. A proposta enfrenta resistência de parte dos alunos e dos próprios docentes da universidade e é tida como principal alvo da manifestação dessa sexta.
Em fevereiro, Kelly Bolsonaro invadiu o gramado do Estádio Mané Garrinha, durante o jogo entre Flamengo e Fluminense, com cartaz “Fora, Dilma”. Ela também foi expulsa do Palácio do Planalto, em abril, ao gritar contra a presidente afastada durante o “Encontro com mulheres em defesa da democracia”, que reunia movimentos sociais. Em janeiro, a militante repetiu uma frase escrita pelo lutador do UFC Rony Jason em março de 2015: “Em vez de cotas, deveriam dar passagens de volta pra África para aqueles que choram pelo passado que nem viveram”.
Investigação
O reitor da UnB, Ivan Camargo, defendeu em nota o respeito à diversidade nos quatro campi da universidade e repudiou o “ato de intolerância e de agressão”. “As ocorrências de natureza agressiva e intolerantes são devidamente apuradas e, quando se trata de ações que extrapolam a alçada administrativa da Universidade, os órgãos competentes são acionados”, afirma a reitoria.
O governador Rodrigo Rollemberg anunciou que determinou à Polícia Civil que apure os responsáveis pelo episódio. “Determinei à Polícia Civil que apure os casos recentes de ataques a estudantes da UnB com especial atenção. Nosso governo está em sintonia com a sociedade de Brasília, que não aceita atos de intolerância e ódio”, escreveu no Facebook.
Veja a íntegra da nota da reitoria da UnB
“Esclarecimento sobre o incidente da última sexta-feira (17) no Instituto Central de Ciências
A Reitoria da Universidade de Brasília reitera a intransigente postura de respeito ao direito à diversidade nos seus quatro campi e repudia veementemente qualquer ato de intolerância e de agressão.
As ocorrências de natureza agressiva e intolerantes são devidamente apuradas e, quando se trata de ações que extrapolam a alçada administrativa da Universidade, os órgãos competentes são acionados.
Na noite desta sexta-feira (17), um grupo de aproximadamente 15 pessoas, aparentemente alheias à comunidade acadêmica, entrou no ICC Norte, com megafones, gritando palavras de ordem de cunho homofóbico e com atitudes de extrema intolerância. Uma pessoa teria disparado um rojão do lado de fora do ICC. Houve discussão verbal entre o grupo e alguns alunos.
A segurança do campus foi acionada e retirou grupo do ICC, sem a necessidade do uso de força ou de violência.
Até o momento, não chegou ao conhecimento da Administração Superior qualquer ocorrência de agressão física.
Continuaremos nosso trabalho diário e incessante de promoção de ações de cultura da paz, tolerância, respeito mútuo e não violência nos quatro campi da instituição.
Reitoria
Universidade de Brasília”
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Militante que convocou ato de “opressão” na UnB é denunciada ao Ministério Público - Instituto Humanitas Unisinos - IHU