14 Julho 2017
Os “antipapas” sempre existiram. Em tempos recentes, até mesmo o cardeal Martini gostava de se definir, de brincadeira, como “antepapa”, mas o fazia em termos positivos, dizendo-se “um precursor e um preparador para o Santo Padre”. Não é assim neste momento. O cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller concedeu uma entrevista ao jornal alemão Passauer Neue Presse, na qual usou palavras sem precedentes.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 13-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Müller, demitido pelo pontífice no dia 30 de junho passado, dois dias antes do prazo final do cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, definiu como “inaceitável” o tratamento que Francisco reservou a ele e, antes dele, a outras três autoridades “altamente competentes” do ex-Santo Ofício, demitidos, na sua opinião, sem consultá-lo. “Eu não posso aceitar esse modo de fazer as coisas”, disse Müller. E ainda: “Como bispo, o papa não pode tratar as pessoas desse modo”.
Nos últimos meses, várias vezes o purpurado alemão havia concedido entrevistas em que fazia críticas ao magistério do papa. Aliás, ele também estava entre os 13 signatários de uma carta com a qual, em outubro de 2015, eram expressadas “preocupações” sobre os procedimentos do Sínodo dos bispos sobre a família, na opinião do texto “configuradas para facilitar resultados predeterminados sobre importantes questões controversas”.
Talvez Müller não digeriu o fato de que, pelo menos nos últimos 60 anos, os prefeitos da mais importante Congregação vaticana foram todos demitidos ou se retiraram por questões de saúde ou de idade, enquanto ele foi convidado a dar um passo atrás quando ainda podia desempenhar um segundo quinquênio.
Certamente, as suas palavras soam particularmente ressentidas: “O ensino social da Igreja também deve ser aplicado ao modo como os trabalhadores são tratados aqui no Vaticano”, afirmou Müller, insinuando que houve uma discrepância entre o ensinamento do papa e o modo pelo qual ele foi aplicado na Cúria Romana.
O cardeal afirmou que o papa não deu nenhuma explicação sobre a sua demissão e a das três autoridades. Sobre o último encontro ocorrido entre os dois no dia 30 de junho passado na Casa Santa Marta, houve diversas reconstruções. A última, no site One Peter Five, que falou de cinco perguntas dirigidas pelo papa a Müller sobre temas delicados do pontificado em curso e sobre a demissão que lhe foi anunciada logo depois, sem dar explicações.
Em relação a um artigo do site Stilum Curiae, que relatava justamente as palavras do One Peter Five, o porta-voz vaticano, Greg Burke, disse, pedindo a publicação das suas palavras, que essa reconstrução é “totalmente falsa”. A reconstrução “não é correta”, disse ele sobre o próprio Müller, que, em todo o caso, negou ter sido maltratado no dia 30 de junho.
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Müller contra o papa: “Modos inaceitáveis” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU