28 Abril 2017
A saga da Ordem de Malta continua. No próximo sábado, 29 de abril, a eleição do Grão-Mestre foi convocada, mas não acontecerá. Porque, com toda a probabilidade, será eleito apenas um Tenente para os próximos 12 meses, à espera da reforma da Constituição da antiga ordem cavalheiresca, que não só é uma instituição católica, mas também goza dos privilégios da independência e das garantias diplomáticas como um Estado soberano.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada no sítio L’HuffingtonPost, 26-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Isso é possível de acordo com a Consulta Jurídica da Ordem, e uma carta nesse sentido foi enviada por cinco Cavaleiros a todos os outros. Sabe-se que esta “solução” é apoiada no Vaticano, porque é o Papa Francisco que quer a reforma da Ordem, considerada, de algum modo, paradigmática, tanto que uma espécie de supervisão da Ordem foi anunciada no mesmo dia de um duro discurso do pontífice à Cúria Romana por ocasião dos votos de Natal de 2016.
O papa recebeu na tarde dessa quarta-feira, em Santa Marta, 15 expoentes da cúpula da Ordem. O encontro não foi anunciado oficialmente, mas é um sinal claro da atenção com que Francisco acompanha os acontecimentos da Ordem.
E, por fim, a última reviravolta também ocorreu nessa quarta-feira: o ex-Grão-Mestre, o inglês Matthew Festing, (“destituído” em janeiro), desafiou abertamente o papa que, por meio do seu delegado especial, Dom Angelo Becciu, no dia 15 de abril, Sábado Santo, havia lhe ordenado, por carta, a não se apresentar em Roma para participar da eleição do seu sucessor, a fim de facilitar o fechamento das “feridas” do passado e para ajudar a restabelecer um clima de paz e de harmonia.
Indiferente a isso, Festing chegou à capital, vindo da Inglaterra, pronto para lançar batalha: há algumas semanas, ele tinha até proposto a sua candidatura para voltar a desempenhar o papel de Grão-Mestre.
Recentemente, o próprio papa falou sobre o que aconteceu com a Ordem de Malta em uma entrevista à revista alemã Die Zeit (9 de março). Naquelas declarações, ele tinha dado a entender que o cardeal patrono da Ordem, o estadunidense Raymond L. Burke – que tinha endossado a gestão de Festing e que foi, de fato, desautorizado com a nomeação de Dom Becciu (que é o substituto da Secretaria de Estado), e que é o líder dos cardeais conservadores que manifestaram abertamente as suas dubia sobre a exortação apostólica Amoris laetitia sobre o casamento –, embora sendo um excelente jurista, carece de algumas capacidades essenciais para a gestão de um caso complexo como o da Ordem de Malta.
Como se sabe, há décadas, sobre a Ordem, pesaram suspeitas de ingerências com lobbies de negócios e filiações até em lojas maçônicas. Como ocorreu, no que diz respeito à Itália, com o caso do financista Umberto Ortolani, inscrito na loja P2 de Licio Gelli, que podia usar o passaporte diplomático da Ordem.
Na primeira carta que o Papa Francisco enviou em dezembro para a Ordem, o pontífice ressaltou que os membros não podem fazer parte de outras organizações, e todos pensaram na suspeita de filiações maçônicas ou até de aparatos de inteligência. Depois, houve o inquérito realizado por um grupo de trabalho nomeado pelo secretário de Estado vaticano e que realizou as suas investigações entre 2016 e 2017, sobre o caso da destituição do Grão-Chanceler (isto é, o chefe do Executivo e “ministro do Exterior” da Ordem), o alemão Albrecht Freiherr von Boeselager, que, com a saída de Festing, foi reintegrado ao seu papel.
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