10 Dezembro 2016
Donald Trump tem se descrito como membro da Igreja Presbiteriana. No entanto, se ele fosse levado e indiciado por ser presbiteriano, creio que não haveria provas suficientes para condená-lo.
O comentário é de Bill Tammeus, presbiteriano, que escreve diariamente para o blog Faith Matters, do jornal The Kansas City Star, e para The Presbyterian Outlook e é autor de vários livros, sendo o seu mais recente com o título “The Value of Doubt: Why Unanswered Questions, Not Unquestioned Answers, Build Faith”, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 08-12-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Mas há muitos exemplos de que Trump está em sintonia espiritual e econômica com o desastroso e idólatra “evangelho da prosperidade”. Entre os charlatães que pregam essa mensagem distorcida, de que Deus quer que enriqueçamos, está Paula White, quem se tornou uma assessora espiritual próxima do presidente eleito.
Portanto há motivos para crermos que a rendição de Trump da religião civil irá incluir a ideia de que os indivíduos devem primeiramente buscar riqueza e saúde, e que a prosperidade é um sinal de que Deus está ao nosso lado. O corolário inescapável, evidentemente, é que a pobreza e a doença são sinais de que Deus não pensa muito em quem nessas situações se encontra.
O que é especialmente desalentador com os proponentes do evangelho da prosperidade é que eles usam a letra e o espírito da Bíblia de um jeito completamente equivocado.
Muito frequentemente, a Escritura adverte as pessoas sobre os perigos da riqueza, assim como nos ensina a cuidar dos pobres: “Quem gosta de dinheiro nunca se sacia de dinheiro. Quem é apegado às riquezas nunca se farta com a renda”, diz o pregador em Eclesiastes 5,9. “Quem ajuda o pobre empresta a Javé, que lhe dará a recompensa devida”, diz Provérbios 19,17. E, em Lucas 12,15, Jesus vai dizer: “Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens”.
E, é claro, nas oito Bem-Aventuranças contraculturais de Mateus 5, Jesus diz que felizes são os “pobres de espírito”.
Diferentemente, temos Paula White, descrita como a “God whisperer” de Trump [literalmente, “a sussurradora de Deus” ou pessoa que conta os segredos a outra, no caso, segredos divinos]. Em reportagem feita após a eleição, o sítio Religion News Service observa que “os ministérios de TV e rádio e a megaigreja de Paula White têm sido lucrativos. Em 2007, o jornal St. Petersburg Times informou que White era dona de uma casa de 2.1 milhões de dólares na Flórida, tinha um apartamento na Trump Tower e deu a T.D Jakes [pregador do evangelho da prosperidade] um Bentley conversível pelo seu 50º aniversário.
Os Whites, os Joel Osteens, os Creflo Dollars e os Kenneth Copelands, todos do mundo do evangelho da prosperidade, distanciaram-se das duras palavras presentes nas Escrituras, aquelas que nos incentivam a ter compaixão e misericórdia pelos empobrecidos. Os pobres, no ver dessas pessoas, não estão nos planos de Deus, não são mais desejados por Ele, e precisam começar a melhorar suas próprias condições de vida.
O sistema de assistência social do país possui muitas falhas, e sem dúvida há pessoas que manipulam as regras para o seu próprio benefício. Mas ele existe por causa da crença fundacional, nutrida especialmente pelas religiões abraâmicas, de que toda pessoa é de inestimável valor. No livro “The Political Meaning of Christianity”, o cientista político e leigo episcopaliano Glenn Tinder considera essa crença como “o centro espiritual da política ocidental”.
Mas se atitudes associadas com a pregação do evangelho da prosperidade começarem a ter espaço na Casa Branca sob Trump e no Congresso, que agora é controlado pelo partido do presidente eleito, os pobres e necessitados dos EUA estão em apuros.
É por isso que é necessário às pessoas que sustentam os valores tradicionais cristãos, judaicos e islâmicos estarem vigilantes e prontas a auxiliar na proteção dos sem voz e dos marginalizados. Isso significa que precisamos de reformas nos nossos sistemas de assistência social e saúde. Na verdade, essas reformas são necessárias – em alguns casos, são desesperadamente necessárias.
Mas isso quer dizer que quando aqueles que são atingidos pelo nosso sistema econômico – muitos dos quais, contra os seus próprios interesses, votaram em Trump após frustrarem-se com o sistema existente – acabam ignorados por um governo marinado no evangelho da prosperidade, nós os demais devemos vir em seu auxílio e exigir que cada um seja tratado com respeito, especialmente os que não podem se dar ao luxo de comprar respeito no mercado aberto do capitalismo americano.
Qualquer coisa menos que isso seria rejeitar o coração compassivo de Jesus.
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Cuidado com o “evangelho da prosperidade” no governo Trump - Instituto Humanitas Unisinos - IHU