27 Novembro 2016
O líder das FARC, Rodrigo Londoño, disse que é provável que muitos membros dessa guerrilha sejam assassinados após a dissolução da organização. E garantiu que o partido político que nascer da insurgência apoiará nas próximas eleições o candidato que garantir a continuidade do processo de paz.
A reportagem é publicada por Página/12, 26-11-2016. A tradução é de André Langer.
O chefe das FARC, Rodrigo Londoño, mais conhecido pelo apelido Timochenko, afirmou na última sexta-feira que o mais provável é que muitos membros dessa guerrilha sejam assassinados após a dissolução da organização. Também assegurou que o partido político que nascer da insurgência apoiará, em 2018, um candidato que unificar e garantir a continuidade do processo de paz.
“Muitos ficarão pelo caminho”, afirmou Timotchenko, mas enfatizou que os acordos de paz devem ser rapidamente referendados e implementados pelo Congresso, porque aqueles que rejeitam este processo já estão se posicionando em vista das eleições presidenciais de 2018, motivo pelo qual os adeptos da paz devem começar a falar também. “Eu não cito nomes, digo apenas que devemos procurar pessoas, unificar critérios; quem quiser a paz deve começar a unificar critérios”, acrescentou, e explicou que além dos possíveis assassinatos o mais importante é produzir um impulso que já não pode ser interrompido e impulsionar a saída política para o conflito armado que o país enfrenta há mais de meio século.
Ainda na sexta-feira, o governo enviou ao Congresso o acordo de paz assinado pelo presidente Juan Manuel Santos e Timochenko para que seja referendado pelo Legislativo e, na sequência, crie as leis necessárias para a sua implementação. De acordo com o presidente do Congresso, o senador Mauricio Lizcano, a discussão do acordo de paz na Câmara Alta começará na próxima terça-feira, e, no dia seguinte, na Câmara de Representantes. O mais provável, dadas as maiorias que o governo e partidos aliados têm no Congresso, é que o acordo seja referendado na próxima [nesta] semana.
Timochenko afirmou no encontro com a imprensa internacional em Bogotá que a Colômbia está vivendo atualmente uma queda de braço entre forças a favor da paz e aquelas que querem a continuidade do conflito armado que deixou 220 mil mortos, cerca de 60 mil desaparecidos e sete milhões de deslocados. “A paz é um longo processo. Este é um projeto de longo prazo. Não vai se conseguir consolidar a paz após mais de 50 anos de confrontos em alguns meses nem em alguns anos. Nós consideramos que o próximo governo, o próximo presidente, deve garantir a continuidade deste processo”, disse o veterano líder rebelde de 57 anos.
Referindo-se ao assassinato de vários líderes sociais em diferentes partes do país nas últimas semanas, indicou que já sabiam que este tipo de situação ocorreria e considerou muito possível que aumente. Por tudo isso, asseverou que alertaram muito aos guerrilheiros e simpatizantes para que não aceitem provocações, mas indicou que esse é precisamente o desafio que enfrentam. Ele pediu, além disso, à comunidade internacional que tenha um papel proativo.
O líder guerrilheiro também reiterou o pedido que fez na quinta-feira no discurso que fez no Teatro Colombo de Bogotá após a assinatura do acordo de paz: um governo de transição integrado, segundo disse na sexta-feira, pelas forças que apoiam o processo. “Esse Executivo deve garantir o processo iniciado e não pode oferecer resistências a nenhuma das partes”, disse. No entanto, não indicou possíveis nomes que poderiam liderar esse governo e tampouco se pronunciou sobre qual papel desempenharia nesse hipotético gabinete.
Por outro lado, o governo colombiano exigiu na sexta-feira que a guerrilha do ELN (Exército de Libertação Nacional) envie uma prova de que o ex-congressista Odín Sánchez, que está sequestrado desde março passado e cujo caso mantém suspenso o início de uma negociação formal entre as partes em Quito, no Equador, está vivo. A solicitação foi feita pelo chefe da equipe de negociação do governo no processo de paz com o ELN, Juan Camilo Restrepo, diante de rumores que circulam há vários dias no sentido de que algo teria acontecido a Sánchez no momento em que estava para ser libertado. Restrepo acrescentou que espera que Sánchez seja entregue a uma comissão humanitária para que as negociações possam começar antes do final do ano.
Por sua vez, o bispo de Quibdó, dom Juan Barreto, disse à W Radio que no Departamento de Chocó, de onde é Sánchez, são insistentes os rumores de que o político não foi libertado devido a um imprevisto. “A libertação de Odín estava muito próxima devido a compromissos entre o ELN e o governo, e quando parecia iminente aparecem estas versões que são preocupantes e poderão ser desvirtuadas quando aparecerem as provas (de que está vivo)”, disse o bispo.
O ELN respondeu a Restrepo na rede social Twitter com uma mensagem na qual assinalou que enviará uma prova de que está vivo, mas que há dificuldades devido às operações militares na região. “A entrega da prova de que está vivo está demorando porque o Exército intensificou de maneira inesperada as operações militares no (Departamento de) Chocó”, revelou o ELN.
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Colômbia. “A paz é um longo caminho” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU