23 Novembro 2016
E agora, o que devemos esperar? É a pergunta que muitos, dentro das sagradas salas, fizeram a si mesmos depois de lerem a carta apostólica do fim do Jubileu, Misericordia et misera, do Papa Francisco, onde Bergoglio anuncia grandes novidades vindouras para a Igreja, da possibilidade para todos os sacerdotes de perdoar o aborto (até hoje possível apenas durante o Ano Santo), à validade das confissões com os lefebvrianos (isto até novas disposições).
A reportagem é de Fabio Marchese Aragon, publicada no jornal Il Giornale, 22-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Certamente, não chegará, em breve, um Concílio Vaticano III e, seguramente, Francisco, como ele mesmo reiterou há alguns dias em uma entrevista ao jornal Avvenire, não tem nenhuma intenção de “baratear” a doutrina católica ou de “protestantizar” a Igreja.
Mas uma reviravolta marcante poderia vir dentro de alguns anos. Essa é a convicção de um dos teólogos mais próximos e estimados pelo Papa Francisco, o cardeal alemão Walter Kasper, que admite: “Este é um papa das surpresas”, diz, sorrindo. “Há muitos canteiros de obras em aberto. Veremos o que vai acontecer. Entenderemos em breve sobre qual assunto Francisco vai se concentrar”.
Com efeito, o “hospital de campanha” levantado por Bergoglio está se movendo em várias frentes, no rastro do Concílio, como o papa quer, para tentar trazer algumas inovações. Fala-se de celibato dos padres, de diaconato das mulheres, de vocações, estão abertas várias questões ecumênicas, discute-se sobre casamentos mistos entre católicos e protestantes.
Um dos dossiês sobre os quais o papa certamente está refletindo é o dos “padres casados”: embora Francisco, em maio passado, tranquilizou os bispos italianos reunidos em assembleia sobre o fato de que “o celibato sacerdotal vai permanecer como está”, a questão está sendo aprofundada do outro lado do oceano, no “laboratório Brasil”, onde um dos seus homens de confiança, o cardeal Claudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero e presidente da Comissão para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, faz as contas todos os dias com bispos cada vez mais em dificuldades por causa da falta de padres e do crescimento exponencial de seitas e movimentos.
Uma solução apresentada reservadamente ao papa foi a de “abrir”, justamente no Brasil, para homens casados com filhos adultos ou homens viúvos, de fé comprovada, que, hoje, embora não podendo administrar a comunhão, desempenham todas as funções dos sacerdotes, tornando-se inicialmente “pastores” de pequenas comunidades católicas.
Uma solução que agradaria a Bergoglio e contornaria o problema do celibato, sem minar os fundamentos da doutrina e sobre a qual uma comissão especial está trabalhando.
E depois há o dossiê sobre as “mulheres”: também recentemente, Francisco foi claro, não se abrirá ao sacerdócio feminino: “São João Paulo II disse a última palavra”.
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"Francisco está preparando grandes surpresas", afirma o cardeal Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU