23 Novembro 2016
“A decisão do papa Francisco, de estender a todos nós, padres, a autorização para que perdoemos o pecado do aborto, deve ser vista mais como um ato de misericórdia do que como um ato progressista”, afirma José Arnaldo Juliano, padre, professor de Teologia e capelão do Mosteiro da Luz de São Paulo, em depoimento publicado por O Estado de S. Paulo, 22-11-2016.
Eis o depoimento.
A decisão do papa Francisco, de estender a todos nós, padres, a autorização para que perdoemos o pecado do aborto, deve ser vista mais como um ato de misericórdia do que como um ato progressista. Até agora, somente os bispos e alguns confessores por eles designados podiam perdoar esse pecado.
'Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente', diz o papa Francisco Isso trazia uma grande dificuldade, porque sabemos muito bem que muitas mulheres abortam por decisão dos parceiros ou da família e viviam a angústia de não terem acesso ao perdão. É preciso registrar que o aborto é um crime hediondo e, dada essa gravidade, a Igreja sempre condenou fortemente essa prática. Mas essas mulheres, que muitas vezes se arrependem sinceramente do seu ato, vivem a angústia de uma culpa muito forte e - frequentemente com problemas psicológicos graves - nos procuram com a esperança de receber o perdão de Deus.
Hoje, de dez confissões que atendo, quatro relacionadas ao aborto. Como o padre deveria fazer? Deixá-las desamparadas? Dizer para procurar o bispo? A decisão não é decorrente de um suposto progressismo do papa Francisco - que está apenas cumprindo o que determina o Concílio Vaticano II -, mas de um ato de misericórdia ligado a disposição da Igreja que nos orienta a acolher aqueles que realmente precisam - neste caso, as mulheres.
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De dez confissões que atendo, quatro envolvem aborto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU