17 Novembro 2016
Filho de agricultores de Santa Maria, Antônio Cechin dedicou grande parte da sua vida à causa dos necessitados, lutando pelos movimentos populares no Rio Grande do Sul. “Antes de descer para os pobres eu olhava o mundo com olhos de bovinos. Eu não enxergava a vida, a realidade, o fundo dos fatos”, relata. Desde cedo, ele optou pela vida religiosa e aos 18 anos já lecionava no Colégio do Rosário, em Porto Alegre. Com o trabalho da Catequese Libertadora, incentivava os alunos a pensarem num mundo melhor. Com quase 80 anos, os quais serão completados no próximo domingo, 17-06-2007, e uma disposição imensa para viver, ele lamenta a falta de participação dos jovens nos movimentos sociais. No entanto, acredita “que o mundo vai caminhar para a direção de Deus”. E nos ensina que é necessário “viver acordados, alegremente e entusiasticamente”.
Antônio Cechin é graduado em Letras Clássicas (grego, latim e português) e em Ciências Jurídicas e Sociais. Especialista em Economia e Humanismo no IRFED de Paris, ele já trabalhou, entre outras coisas, como diretor do Colégio Marista São Luís, em São Leopoldo, Coordenador da Equipe de Catequese Libertadora do Regional Sul-3, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Secretário particular do Promotor Geral da Fé, no Vaticano e assessor do MST enquanto esse estava ligado às Comunidades Eclesiais de Base (de 1979 a 1984).
Nas parcerias com a irmã Matilde Cechin, foi autor das Fichas Catequéticas, proibidas pela ditadura, e criador da Pastoral da Mulher Pobre, hoje a atual Rede Mística Feminina. É co-fundador do Movimento Nacional Fé e Política e criador da Romaria da Terra, Romaria das Águas, além de idealizador da missa em honra a São Sepé Tiaraju. Atualmente, ele é Agente de Pastoral em diversas periferias da região metropolitana de Porto Alegre, assessor de Comunidades Eclesiais de Base do Rio Grande do Sul, dos catadores e recicladores. Desempenha a função de coordenador do Comitê Sepé Tiaraju-2006 e da Pastoral da Ecologia do Regional Sul-3 da CNBB.
Em visita ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, Cechin concedeu entrevista exclusiva à IHU On-Line. A seguir, ele conta um pouco da sua trajetória e fala sobre sua escolha religiosa, a opção pelos pobres, Teologia da Libertação, MST. Cechin concedeu outra entrevista à IHU On-Line, no dia 23-02-2007, intitulada A utopia da Terra sem males. Escreveu carta a Ildo Sauer, em 22-03-2007, agradecendo o nome de Sepé Tiaraju concedido a uma termoelétrica da Petrobrás.
*Em memória ao Ir. Antônio Cechin, reproduzimos a entrevista a seguir, publicada originalmente na Revista IHU On-Line, Nº. 223, de 11 de junho de 2007.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Desde menino o senhor começou a se preparar para seguir a vida religiosa. Por que essa opção?
Antônio Cechin - Eu sou de uma família profundamente religiosa , que morava na periferia de Santa Maria. O sonho de toda família italiana é a vida religiosa. Como meus pais não tinham terras e trabalhavam de chacareiros em uma propriedade de 130 hectares dos Irmãos Maristas, do Colégio Santa Maria, nós não tínhamos muitas opções. Meus pais e os maristas insistiam muito para que eu seguisse a vida religiosa, e acabei não tendo muito tempo para refletir. De nove para dez anos, fui levado para o Juniorato dos Maristas, porque se não fosse cedo, perderia a vocação. Naturalmente, depois eu tive que optar e tomei a decisão de seguir a vida religiosa. Dos 15 irmãos, 14 nasceram nessa chácara e nove se tornaram religiosos.
IHU On-Line - Mesmo com a pressão inicial, de seus pais e dos maristas, o senhor fez a melhor escolha?
Antônio Cechin - Se eu tivesse que recomeçar, eu teria feito uma opção pela vida religiosa. Sinto isso através da minha primeira comunhão e de certos momentos da minha infância. Talvez não optasse pelos maristas. Mesmo porque, hoje, eu sou marista, mas um marista diferente. A revolução de 1964 me colocou na cadeia, e o superior dos maristas não fez questão de impedir que eu fosse preso. Então, houve aí uma espécie de não aceitação do meu engajamento na opção pelos pobres. Por isso, eu realmente não tenho muita saudade do meu tempo de marista. A minha vida teve um salto qualitativo a partir da minha opção pelos pobres. Sou marista juridicamente. Meu ideal é ser religioso totalmente dedicado à causa dos últimos.
IHU On-Line - O senhor guarda alguma mágoa por que os maristas não impediram sua prisão na década de 1960?
Antônio Cechin - Mágoa propriamente não. Mas no momento em que todas as circunstâncias indicavam que eu iria ser preso, conversei com D. Vicente Scherer, que sempre foi meu amigo. Ele me deu um cartão escrito, no qual mandava meu provincial falar com o Governador do Estado ou com o Secretário de Segurança para saber o que estava acontecendo a meu respeito. Mas o provincial se negou a falar com o Governador. Eu fiquei um mês na casa da minha irmã Matilde Cechin e ele não fez nada. Assim, o exército veio e me prendeu. Depois disso, eu tive que reorganizar a minha vida a partir desse fato. Vi que eu não tinha futuro dentro da congregação, porque eu estava muito engajado no movimento de jovens, com a Catequese Libertadora, com a Teologia da Libertação . Naturalmente, continuo marista porque não aceitei pedir dispensa dos votos e nem exclaustração, pois, devido à maneira do direito canônico funcionar, depois que tivesse esgotado esses dois anos de exclaustração, se eu não voltasse eu me auto-eliminava.
IHU On-Line - Quando o senhor foi preso, em que coisas pensava? Como foi sua rotina na prisão e de que maneira o senhor avalia esse momento?
Antônio Cechin - Eu fui preso duas vezes. Mas eu tive um tive um grande padrinho, o Cardeal D. Vicente Scherer, que me ajudou. A primeira prisão foi no dia 09-11-1969, no mesmo dia em que Frei Betto foi preso, em Porto Alegre. Ele foi capturado às 6h30min e eu às 16h.
Junto com a minha irmã, eu sou autor de uma coleção de fichas catequéticas produzidas para aulas em colégios. Essas fichas foram consideradas altamente subversivas pelo Ministério da Educação, do ministro Jarbas Passarinho . Fui preso nesse contexto. Mas o estopim ocorreu quando meu endereço foi encontrado dentro de um livro de oração do D. Marcelo Cavalheira, que é arcebispo emérito de João Pessoa. Ele veio fazer um curso em São Leopoldo. Na época, Frei Betto também estava fazendo curso no Colégio Cristo Rei, e meu endereço servia como destino para as cartas que eram enviadas para ele, que vinham com seu nome de guerra: Olavo Borges. Ele tinha combinado comigo que essas cartas vinham para Porto Alegre e eu as entregava para alguém que fosse ao Cristo Rei. Assim, o exército ligou a minha pessoa ao Frei Betto. Nessa primeira vez, fiquei preso por dois dias, porque a minha mana Matilde falou imediatamente com D. Vicente, e ele “forçou a barra” com o Secretário de Segurança, que me entregou no Palácio Episcopal.
A segunda vez foi em 1971: aí sim me massacraram. Durante dez dias fui torturado com choques magnéticos e soro da verdade. Mas de novo eu fui entregue ao meu provincial, com a condição de ser internado no hospital dos loucos, em Porto Alegre, no Sanatório São José. Fiquei um mês internado, só descansando. Eu não fiz o tratamento que a maioria dos presos políticos torturados fizeram. Eu fiquei com sequelas e por isso eu recebi um dinheiro do Governo do Estado e do Governo Federal. O Governo me pediu perdão e pagou 30 mil reais de indenização pelas sequelas.
Meu primeiro interrogatório foi em torno de Frei Betto. Queriam saber qual era a ligação que eu tinha com ele. Na segunda vez, eu nem fui interrogado. Entrei na prisão e já começou a “pauleira”, choques elétricos, soro da verdade. Eles estavam atrás de nomes. Lembro que quando acordei, estava falando sozinho, sem consciência. Na minha frente tinha uma cadeira e uma jarra cheia de água. Eu estava com tanta sede que acabei com tudo. Foram experiências inéditas.
A prisão foi o momento mais difícil da minha vida. Realmente, é uma experiência da tortura e da ditadura. Uma coisa completamente inimaginável. Eu nunca pensei que existisse esse inferno dos bastidores do poder. Eu era professor e de repente passei a ser tratado como verme. Mas a gente acaba se resignando e achando que o mundo é assim mesmo. Não guardo mágoas. Eu até sofri pouco, comparado com outros jovens que eu trabalhava.
Depois da prisão eu perdi o centro. As pessoas me evitavam na rua. Ex-alunos, colegas que me conheciam atravessavam a rua para não se encontrar comigo, porque eu fui apresentado como assaltante de banco. Minha foto foi estampada na primeira página do jornal. O exército tinha muito interesse em desmoralizar a Igreja.
IHU On-Line - Na sua trajetória, que momento o senhor destacaria como um período alegre, de realização?
Antônio Cechin - A minha opção pelos pobres. Eu fui praticamente pioneiro, junto com o padre Orestes Stragliotto . Nós criamos no Rio Grande do Sul a Regional da CNBB. Ela foi criada por sugestão do papa João XXIII , que deu a ideia a D. Hélder Câmara que era bispo auxiliar no Rio de Janeiro. Antes de D. Ivo Lorscheiter ser encarregado da CNBB Regional do Rio Grande do Sul, eu era responsável pela regional do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e criei a chamada equipe Diocesana de Catequese. A partir da minha opção pelos pobres, meu grande trabalho inicial foi a Catequese Libertadora.
No ano passado, participei de uma atividade que me deu muita satisfação: a organização do Comitê de Sepé Tiaraju , onde nós recanonizamos popularmente a figura do Sepé. Para mim, ele foi o maior herói latino-americano, porque ele lutou contra os dois maiores impérios: Espanha e Portugal. Ele era um índio valente das missões jesuíticas.
IHU On-Line - Por que o senhor optou por atuar nas lutas populares no Rio Grande do Sul e por que a escolha pelos pobres? O que aprendeu com eles?
Antônio Cechin - Eu optei por eles a partir da descoberta do evangelho. Jesus também defendeu os pobres. Quando conheci a teoria marxista, percebi que, para analisar a vida, precisava analisar a realidade. Então, eu e outros membros da ação católica fizemos uma síntese teológica entre cristianismo e marxismo para transformar a realidade injusta. Assim, eu descobri o novo. Os pobres me evangelizaram. Eu não era marista até conviver com eles. Hoje, olho para trás e sinto vergonha dos anos de vida religiosa que vivi antes de encontrá-los. Até então eu sentia uma pena infinita das prostitutas que ficavam ao lado do Colégio, na Rua Barros Cassal, em Porto Alegre. Pensava que o que faltava para aquelas mulheres era religião. Com os conhecimentos do marxismo, percebi que o problema delas era de sobrevivência.
Eu trabalhei dois anos no Vaticano. Quando retornei de lá, vi que a santidade está aqui no meio pobre, na mãe de família que faz faxina o dia todo, e que mesmo cansada ainda descobre uma sobra de energia para cuidar do filho que está doente. Isso é santidade. Antes de trabalhar com eles, eu ficava no convento, com uma boa cama, e isso não era santidade. Eu aprendi com eles a santidade do cotidiano. Eu vi que a fé dos podres não era uma fé doutrinal, mas é uma fé de veemência.
Eu mesmo, que sou filho de sem-terras, como marista me aburguesei. Quando eu era jovem e retornava para casa, de férias, e os maristas vinham para Santa Maria, eu tinha vergonha de levá-los para dentro de casa. Na hora em que eu tive que ir para o meio dos pobres, foi difícil. Eu chegava em casa do trabalho e ia tomar banho. Na hora em que fui para os miseráveis, para o meio do lixo, tive uma conversão muito mais profunda. Essa caminhada significou muita renúncia por outras coisas, mas esse trabalho me ajudou a ver o que eu não teria visto.
IHU On-Line - Durante a sua militância, de todas as causas que o senhor abraçou, qual foi o momento mais gratificante?
Antônio Cechin - Eu tive muitas alegrias. Uma delas foi a Romaria da Terra, que começamos com 500 pessoas em 1978 e com o tempo vieram 40 mil. Esse movimento proporcionou uma alegria muito grande para nós da Teologia da Libertação. Nós inventamos uma romaria que era para ir aonde o Cristo morre hoje, de novo. As primeiras Romarias da Terra eram mais ou menos improvisadas. Por exemplo, uma vez a turma se concentrou na Encruzilhada Natalino, nos Sem-Terras, e nós íamos lá para dar um apoio a eles. Com a Romaria da Terra, desencadeamos o ano dos índios em 1978. Terminamos com a missa da Terra sem Males, em São Miguel das Missões.
Quando não tínhamos a Igreja oficial nos apoiando, a Romaria era muito mais profética. Hoje, a Igreja oficializou e ela perdeu um pouco do seu profetismo.
IHU On-Line - O senhor acredita que um dia a humanidade irá conseguir construir uma terra sem males?
Antônio Cechin - Eu acredito piamente que nós vamos conseguir. Como? A natureza humana está evoluindo. Tudo começa com o cosmos e depois vêm as diferentes etapas e acaba com a humanização e a conscientização na formação da sociedade. Eu acredito que o mundo vai realmente caminhar para a direção de Deus.
IHU On-Line – A Igreja deveria se preocupar mais com os pobres? Como o senhor vê a Teologia da Libertação e a forma como o Papa e o Vaticano encaram essa corrente da Igreja Católica?
Antônio Cechin – Se o Papa deixasse o Vaticano e passasse um mês no Brasil, comigo, no meio dos catadores, bastaria. Seria uma experiência que o levaria a mudar totalmente o seu pensamento. Os pobres nos dão mais clareza de ver o que nós não víamos. Eu sempre disse que antes de descer para os pobres eu olhava o mundo com olhos de bovinos. Eu não enxergava a vida, a realidade, o fundo dos fatos.
A Teologia da Libertação é a única teologia contextualizada, no mundo. A Igreja Católica não existe, o que existe são varias Igrejas Católicas. Hoje o Papa fala como se só existisse uma única teologia, um único modelo de Igreja, que é o deles. Enquanto isso, nós, a partir da Teologia da Libertação, vivemos a nossa realidade. No começo, a Igreja aceitou diferentes ritos, de diversas culturas, e hoje, infelizmente, o Papa tenta centralizar tudo. Eu percebo que não existe mais religião nas periferias. A Igreja recolheu todo mundo, e assim ela está morrendo. O Papa veio para o Brasil, deu sua mensagem com valores que todos aceitamos, mas eu digo: nós não vamos sair do nosso modelo de jeito nenhum. Ou nós somos livres e caminhamos na luz de Deus e da nossa consciência, ou então não vale a pena.
IHU On-Line - O senhor disse em outra entrevista à IHU On-Line que o MST é o mais belo dos movimentos. Por quê? Como o senhor avalia o MST hoje e a maneira que eles são apresentados pela mídia?
Antônio Cechin - O MST é o mais forte movimento popular do mundo. Numa viagem que fiz à Paris, encontrei uma exposição do Sebastião Salgado sobre o MST. À noite, assisti um comício na praça a favor deles, onde estavam alguns representantes brasileiros. Eles levaram a sua luta para todos os lugares do mundo. Senti que o MST é conhecido no mundo todo. O movimento, realmente, com toda a autonomia que tem, conservou aquele coro que o Sepé Tiaraju deu para eles. Eles perceberam que o grande índio Sepé Tiaraju, que lutou contra todo tipo de imperialismo, é exatamente a fonte da profecia e da utopia. O MST, hoje, tem uma imagem distorcida pela mídia, mas eles formam muito inteligentes nas suas estratégias e nas suas táticas de lutas. Eles foram mudando as estratégias de tal maneira que suas lutas foram crescendo. A imprensa mentiu sobre aquela questão de que as mulheres da Via Campesina destruíram as experiências que a Aracruz estava fazendo. Isso é tudo mentira. Não tinham experiências. Agora os Sem Terras estão processando a empresa por causa dessas calúnias. Vejo isso como crescimento para a luta deles, de maneira que pouco a pouco eles estão se impondo até a mídia. Continuo achando o MST uma vanguarda do mundo para organizar mais movimentos populares que vão de encontro ao projeto de Jesus Cristo, que é viver em comunidades.
IHU On-Line - Como o senhor avalia a participação dos jovens nos movimentos sociais? Por que a juventude do século XXI não tem a mesma empolgação e garra para lutar por causas como as que o senhor lutou?
Antônio Cechin - Eu tenho uma grande pena da juventude. Hoje, eu não vejo mais esses movimentos populares. A minha juventude se lançou para a transformação do país, com objetivos que ultrapassavam os horizontes, querendo concertar tudo que ela conseguia. Agora, a juventude está sendo presa pela droga. Tempos atrás, as grandes áreas de formação dos jovens eram a família, a Igreja e a escola. Uma pesquisa recente diz que essas três bases de formação não atingem mais que 30% de influência. Os outros 70% que os influenciam vêm da rua, dos meios de comunicação. Estou perplexo diante do que pode acontecer com os jovens.
No trabalho dos catadores, recebemos alguns jovens da Dinamarca e da Bélgica, que vem trabalhar um ou dois meses no lixo. E por que os jovens daqui não fazem a mesma coisa? Nos colégios católicos, eu vejo que não há nem aulas de religião. Eu constato que as pessoas que atuaram de alguma maneira na religião tiveram uma base mais sólida para a vida.
IHU On-Line - A maioria dos jovens não se interessa pelas causas por que eles perderam a esperança ou por que eles não têm incentivos?
Antônio Cechin - O culpado não é o jovem. Somos nós, educadores. Estão faltando educadores de jovens. Eu sinto que as congregações religiosas também os estão perdendo. Eu tenho o mesmo sentimento de Jesus e lamento muito porque, como o Cristo dizia, são ovelhas perdidas, sem pastor.
IHU On-Line - Pensando no trabalho que o senhor desenvolveu durante esses anos, qual a mensagem que nos deixa?
Antônio Cechin - Aquilo que foi mensagem para mim, eu deixo de mensagem para os outros. A frase de Santo Agostinho: “Na vida de todo mundo como Deus é amor, ele está em nós, dentro de nós”. Se prestarmos atenção e tivermos ouvidos para ouvir, Deus passa sempre para a nossa vida através das ações do cotidiano. Precisamos ficar de ouvidos bem abertos e procurar no meio em que vivemos esses três passos: VER, JULGAR e AGIR. E sempre agir. É preferível agir mesmo com medo do que por medo deixar de agir. Na hora que começamos a atuar, começamos uma caminhada e ao longo dela vamos vendo o passo seguinte. É andando que descobrimos o caminho. Deus nos sugere o que temos que fazer. Ou nos omitimos ou entramos no plano de Deus. Temos que viver acordados, alegremente, entusiasticamente.
IHU On-Line - Como o senhor se sente completando 80 anos?
Antônio Cechin - Eu, quando vi se aproximarem meus 80 anos, levei um susto. Eu estou tão metido na ação com os catadores, com os moradores de rua, que fui vivendo sem pensar nos anos. Hoje, sinto que estou perto do final, mas contente porque estou no caminho certo. Eu estou muito alegre. Graças a Deus, eu fiz a opção pelos pobres. Mas eu sempre me pergunto: por que eu consegui fazer a opção pelos pobres e não consegui que meus confrades religiosos não tenham optado por isso? Eles não a colocaram como opção de classe.
Durante esses anos, vi que quem manda é o mercado. Já os confrades religiosos não se preocupam em organizar o povo a partir dele mesmo. Eles deveriam partir desses miseráveis e acreditar que aí está a força histórica dos povos.
A minha vida é uma maravilha. Hoje, com quase 80 anos, estou encantado com os trabalhos que venho desenvolvendo com os catadores, na periferia. Toda essa caminhada eu faço com muita alegria, entusiasmo. Nós temos que agir, porque se não agirmos, perdemos a vontade de viver.
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“Os pobres me evangelizaram”. Entrevista especial com Antônio Cechin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU