29 Setembro 2016
Em um clima de grande serenidade, 215 jesuítas provenientes de todo o mundo iniciarão, na próxima segunda-feira, o processo de eleição do novo superior geral que assumirá o posto do espanhol Adolfo Nicolás.
A reportagem é de Juan Vicente Boo, publicada por ABC, 28-09-2016. A tradução é do Cepat.
O jesuíta palentino (de Palência), eleito em 2008, após muitos anos de serviço no Japão e Filipinas, afirma que “os tempos mudaram e que na Companhia há uma nova consciência de que necessitamos de audácia, imaginação e coragem para cumprir nossa missão”.
A “fumaça branca” da 36ª Congregação Geral é aguardada para a segunda-feira, dia 10, ou terça-feira, 11 de outubro. O primeiro a ser informado do nome do 31º Superior Geral dos jesuítas será o Papa Francisco. Mas, apenas como cortesia, pois o cargo não requer a confirmação do Papa.
O padre jesuíta Federico Lombardi – auxiliar do Superior Geral e porta-voz do Papa até o último mês de julho – explicou que o máximo cargo da Companhia de Jesus já não é “vitalício”, mas “sem limite de tempo”, pois “se estabeleceram normas para o caso de renúncia”, assim como João Paulo II fez a respeito da renúncia dos papas, apresentada pela primeira vez nesse marco por Bento XVI.
Em um encontro com os jornalistas que farão a cobertura da Congregação Geral – o máximo órgão do governo da ordem -, quatro destacados membros da Companhia explicaram o peculiar mecanismo eletivo, amplamente “rodado” ao longo de mais de quatro séculos.
O processo começa neste domingo, 2 de outubro, com uma missa concelebrada pelos 215 eleitores na igreja mãe dos jesuítas em Roma, que incluirá uma homilia a cargo de Bruno Cadoré, superior dos Dominicanos, “que são nossos amigos”.
Entre os 215 eleitores, estão todos os provinciais e alguns outros cargos, mas a maioria – 54% do total – é formada por jesuítas – sacerdotes ou irmãos – eleitos diretamente por seus companheiros de território. O mais ancião é Adolfo Nicolás, que completou 80 anos em abril, e o mais jovem é um irmão da África Oriental, de 39 anos. Entre eles, estão 10 espanhóis.
O padre Antonio Moreno, provincial das Filipinas e coautor do extenso relatório geral sobre a situação da Companhia, explicou que, “na segunda-feira, 3 de outubro, começaremos a debater ponto por ponto este relatório para estudar com profundidade a situação da ordem. O processo levará vários dias”.
Segundo o padre Orlando Torres, antigo superior de Porto Rico e responsável pela formação na Companhia, “nesses primeiros dias, não falaremos em nada sobre candidatos, mas somente da situação da Companhia. Em vista desse estado e dos desafios que se decida enfrentar, será traçado o melhor candidato para assumi-los”.
Na sequência, passa-se para a fase mais original, os quatro dias de murmuraciones – que neste caso não é uma atividade negativa – em conversas pessoais estritamente privadas entre dois eleitores por vez.
Segundo o padre Torres, “não há candidatos e não se fala em grupos. Qualquer pessoa pode perguntar a qualquer outra quem considera o jesuíta mais capacitado de sua região, perguntando inclusive por suas qualidades e suas limitações. O que não se pode dizer é “vota neste” ou “não vote nele”. Isso está proibido”.
O resultado é que, “normalmente, ao final de três dias de conversas um a um em toda a casa, emergem dois ou três nomes, ou então cinco ou seis, das pessoas mais capacitadas. Costuma-se chegar a muito consenso: Kolvenbach foi eleito, em 1983, na primeira votação, e Nicolás, em 2008, na segunda”.
Ainda que teoricamente qualquer sacerdote jesuíta possa ser eleito – o que exclui bispos e cardeais -, a eleição costuma recair em algum dos eleitores, pois são os que melhor se conhecem mediante este sistema de conversas, um a um, em particular.
Como provincial da Argentina, Jorge Bergoglio participou da Congregação Geral de 1974-75 e na de 1983, que elegeu o holandês Hans-Peter Kolvenbach, que conduziu a direção da Companhia durante 25 anos.
Segundo Torres, “o Papa nos conhece por dentro”. E conhece o trabalho em todo o mundo. De fato, em suas viagens, sempre inclui um tempo para se reunir com jesuítas de alguma atividade, geralmente caritativa, nesse país”.
O padre Federico Lombardi explicou que, ao longo dos últimos 50 anos, ocorreu um descenso no número de jesuítas e uma mudança no continente de origem: “diminuiu o número de europeus e norte-americanos, e aumentou o de asiáticos e africanos”.
No atual momento, a Companhia é formada por 16.376 pessoas: 11.785 sacerdotes, 1.192 irmãos, 2.681 “estudantes” que se preparam para o sacerdócio e 718 noviços.
O futuro rosto da Companhia está justamente nesses noviços: 63% são asiáticos e africanos. Mas, isso não significa que já, agora, tenham que escolher um superior desses continentes. Os três últimos superiores gerais foram europeus, mas “inculturados” em outro lugar. Arrupe no Japão, Kolvenbach no Líbano, e Nicolás no Japão e nas Filipinas.
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Dentro de duas semanas, jesuítas escolherão novo superior - Instituto Humanitas Unisinos - IHU