30 Agosto 2016
Documentos da ditadura militar, em especial do período entre 1966 e 1991, estarão disponíveis para o público, de forma gratuita, na Unisinos. Ao todo, 17.635 arquivos serão disponibilizados em plataforma digital. É o segundo maior acervo – o primeiro é o de São Paulo, com 20.185 documentos, e o terceiro, o do Rio de Janeiro, com 17.333.
A reportagem é de Léo Gerchmann, publicada por Zero Hora, 30-08-2016.
A universidade receberá hoje a visita do professor Grimaldo Zachariadhes, coordenador do Núcleo de Estudos Sobre o Regime Militar. O historiador fará a entrega dos Arquivos Digitais do Serviço Nacional de Informações (SNI) – Agência RS, a partir das 17h, na sala Santander do campus Porto Alegre. Em seguida, será lançado o livro do pesquisador sobre a época, 1964: 50 anos depois, a ditadura em debate, em parceria com o Arquivo Nacional.
– É um acervo inédito. Havia agências regionais do SNI, com informações fornecidas pelos arapongas gaúchos. Houve muita destruição de documentos. A estimativa é de que 20% estejam preservados – afirma Zachariadhes.
O material que chega à Unisinos, reunido pelo projeto Resgate da História, consiste no mapeamento e na coleta da documentação digitalizada nos arquivos do Sudeste e de Brasília. No total, foram reunidos cerca de 500 mil documentos de vários acervos e organizações. Em cada região do país, uma instituição foi escolhida para ser o centro de referência do arquivo digital e responsabilizar- se pela guarda e disponibilização das informações.
No Rio Grande do Sul, essa tarefa ficou a cargo da Unisinos. A escolha se deu devido ao compromisso da universidade em disponibilizar os documentos a todas as pessoas de forma gratuita, ao ambiente que sua biblioteca oferece e ao histórico de preservação da memória – a universidade já é a guardiã do Memorial Jesuíta.
– Temos esse material porque a ditadura brasileira foi muito burocrática. Foi a ditadura mais burocrática entre todas as da América do Sul. Os documentos mostram a ênfase que os arapongas davam para a questão dos costumes. Havia muita perseguição, chantagens. Esses arquivos mostram que a ditadura brasileira foi ainda pior do que se fala, era ampla. Perseguia esquerda armada, a esquerda moderada e também grupos conservadores – diz Zachariadhes, citando como exemplo investigações aos testemunhas de Jeová.
Havia diversos tipos de arapongas, e o SNI diferenciava os “oficiais” dos “cachorros” – delatores voluntários. Destacam-se as investigações sobre a sexualidade. Zachariadhes supõe que, a partir dessas informações, ocorriam chantagens.
Uma caracterização corriqueira era de “maconheiro, esquerdista e pederasta passivo”. Outra era a que atribuía ao investigado “indiferença ou impotência sexual”. Também a atuação da imprensa era acompanhada anualmente e em detalhes, um controle permanente. Eram citados nomes de jornalistas e a preferência ideológica de cada um deles. Havia comentários como o de que determinado meio de comunicação não publicava informações positivas em razão da suposta “infiltração comunista”.
O que é: entrega da doação dos Arquivos Digitais do SNI. Em seguida, será lançado o livro 1964: 50 anos depois, a ditadura em debate
Local: Sala Santander – Campus Unisinos Porto Alegre (Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744 – Bairro Três Figueiras)
Horário: das 17h às 18h
A partir desta quinta-feira, 1º de setembro
Agendamentos: não serão necessários
Horário para consultas: das 8h às 22h, de segunda a sextas-feira
Local: Biblioteca da Unisinos em São Leopoldo e, a partir de março, também no campus de Porto Alegre
Custo da consulta: gratuita
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Arquivos da ditadura ao alcance do público, na Unisinos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU