22 Agosto 2016
“A economia imaterial se transformou no núcleo propulsor do novo capitalismo e empurra para a periferia a velha economia material”. O comentário é de Cesar Sanson, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e pesquisador na área do trabalho.
Eis o artigo.
Nesses dias, a Volvo e o Uber anunciaram investimentos na ordem de quase 1 bilhão de reais para desenvolveram veículos autônomos que dispensam o motorista para circular nas cidades. O projeto da Uber é substituir um milhão de motoristas no mundo todo pelo software auto-dirigível. O Uber pretende ainda oferecer transporte de comida, artigos comprados pela internet e até grandes encomendas através de veículos autônomos.
Fonte: Youtube/divulgação
Não é apenas o Uber que corre atrás do veículo auto-dirigível, a Google vem apostando alto em protótipos autônomos. Todas as montadoras correm atrás dos startups de tecnologia Uber, Google, Apple e Tesla, entre outras, para desenvolverem o carro do futuro. O carro dos próximos anos sem aplicativos de deslocamento inteligente serão como um notebook sem acesso à internet, ou seja, ‘carros burros’.
Hoje, empresas como Uber e Google valem mais do que a General Motors ou a Ford, com a diferença de que no caso das empresas de tecnologias o serviço é gratuito, já no caso das montadoras, os veículos sedans, os mesmos utilizados por motoristas do Uber, não custam menos de R$ 50 mil.
O que faz com que empresas que não possuem unidades físicas espalhadas pelo mundo e oferecem produtos gratuitos, sejam mais valiosas do que empresas que vendem caro a sua mercadoria? A resposta é simples. O Uber assim como o Google integram a emergente economia do imaterial, já as montadoras permanecem presas à economia material.
A economia imaterial substitui o capital físico pelo capital intangível, um capital associado a conceitos e ideias e não mais coisas. Uma economia que tem o poder de alterar padrões de consumo e, mais do que isso, o relacionamento entre as pessoas. Como destaca Gorz [1], na economia imaterial o conhecimento se tornou a principal força produtiva e consequentemente, os produtos da atividade social não são mais, principalmente, produtos do trabalho cristalizado, mas sim do conhecimento cristalizado.
A economia imaterial se transformou no núcleo propulsor do novo capitalismo e empurra para a periferia a velha economia material. No caso, específico, as montadoras, tributárias da economia material, se tornaram subordinadas às empresas que lidam com os ativos imateriais e por isso mesmo perderam valor no mercado.
Como já dizia Marx, o capital “não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção, e com isso, todas as relações sociais (...) Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar”.
Notas:
1 - GORZ, André. O imaterial. São Paulo: Annablume, 2005.
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A economia do imaterial está engolindo a economia material - Instituto Humanitas Unisinos - IHU