29 Julho 2016
Mortes ocorreram nos dias 19 e 22 deste mês em Rio Branco, diz Aldo Moura. Ex-servidores foram intoxicados quando usavam DDT para conter malária.
A reportagem é de Caio Fulgêncio, publicada por G1 e reproduzida por Amazônia.org, 27-07-2016.
A Associação DDT e Luta Pela Vida registrou a morte de mais dois ex-servidores da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam) no Acre, devido ao contato direto com o pesticida Diclorodifeniltricloroetano (DDT) – usado para conter o mosquito da malária na região amazônica nas décadas de 70 e 90.
As mortes ocorreram nos dias 19 e 22 deste mês em dois hospitais de Rio Branco, conforme o representante da associação, Aldo Moura. Com isso, um levantamento do órgão aponta que, apenas este ano, seis pessoas morreram no estado acreano. “Temos outro [ex-servidor] passando mal no hospital e ainda os que se encontram enfermos em suas residências”, diz.
Moura fala que os dois que morreram passaram aproximadamente três meses em viagens para tratamentos médicos, porém, sem haver um diagnóstico específico sobre a causa da doença. Ele ressalta que, apesar de novos casos aparecerem com frequência, a associação contabiliza que outras cinco pessoas também estão doentes.
“Não descobriram realmente o que eles tinham, que doença os estava afetando. Nessa incerteza, eles findaram falecendo e não tem um diagnóstico correto. Acontece que quando falecerem, procuram um diagnóstico e colocam no atestado de óbito. É uma luta incansável e muito triste”, explica Moura.
Atualmente, a associação está levantando dados comparativos sobre mortes registradas também em outros órgãos federais. O intuito, de acordo com Moura, é comprovar que as mortes de pessoas que tiveram contato com o DDT superam as contabilizadas em outras instituições federais.
Ao G1, em 2015, o Ministério da Saúde alegou que a intoxicação pelo uso do produto não era comprovada. Porém, as três mortes registradas nos primeiros cinco meses de 2016, apontam porcentagem do veneno ainda no sangue das vítimas. Geralmente, os ex-servidores morrem quando os órgãos paralisam.
Também em 2015, o toxicologista de São Paulo Anthony Wong, informou que não só o DDT era o responsável pela intoxicação dos antigos guardas, mas também os solventes à base de petróleo usados na mistura para obter o veneno.
Em junho de 2015, um estudo de cinco décadas comprovou que mulheres que tiveram contato direto com o pesticida tinham mais facilidade de serem acometidas pelo câncer de mama.
O levantamento deve ser enviado a uma comissão em Brasília (DF), que luta pela aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC 17/2014) que prevê uma indenização de R$ 100 mil aos ex-servidores da extinta Sucam. “Em todos os estados estamos trabalhando nisso para levarmos subsídios”, acrescenta Moura.
Extinta Sucam tinha quase 600 servidores
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) informou que a extinta Sucam tinha 578 servidores, destes, 382 estão ativos, 115 aposentados e 81 saíram do órgão. Porém, nenhum dos ativos presta serviço para a Funasa, uma vez que foram redistribuídos para o Estado e municípios.
Sobre a possibilidade desses servidores terem sido intoxicados pelo DDT, o superintendente do órgão no Acre, Raphael Bastos, alega que não há nenhuma manifestação formal das administrações passadas, mas que já garantiu apoio à categoria. Além disso, foi a primeira superintendência que emitiu apoio e, de forma indireta, assumiu a responsabilidade do Estado no quadro de saúde dos ex-servidores.
“Já solicitei ao setor responsável uma análise aprofundada do tema e o que posso garantir é que, eu, particularmente, já me coloquei à disposição para ajudar no que for possível. É uma causa nobre porque essas pessoas e seus familiares devem ser reconhecidos pelo serviço que fizeram e que hoje compromete a saúde dos mesmos”, finaliza.
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Associação registra 2 mortes por uso de pesticida DDT neste mês no AC - Instituto Humanitas Unisinos - IHU