Por: André | 01 Julho 2016
Quarenta anos após o assassinato de cinco sacerdotes palotinos na igreja de San Patricio de Belgrano, a justiça aguarda esperançosa a resposta a uma precatória pedindo dados dos arquivos do Vaticano sobre a última ditadura argentina, que o Papa Francisco prometeu tornar públicos.
Fonte: http://bit.ly/29l6q8j |
A reportagem é publicada por Telam y Aica, 30-06-2016. A tradução é de André Langer.
Trata-se da suposta ex-comunhão aplicada automaticamente a alguns envolvidos no múltiplo assassinato e que, de acordo com versões jornalísticas, tentou-se reverter no final dos anos 80 a partir de um escritório portenho especializado em direito canônico.
A precatória foi expedida na semana passada pelo Juizado Federal Nº 12 da Capital, a cargo de Sergio Torres, e foi completada com outra enviada à Secretaria de Culto esta semana, requerendo algumas informações em igual sentido que poderiam ter sido armazenadas nos arquivos da Chancelaria.
Os pedidos foram feitos no momento em que já se encontra encaminhado o trâmite para a canonização dos cinco padres “mártires”, que o então arcebispo portenho Jorge Bergoglio iniciou em 2006, quando ainda faltavam sete anos para tornar-se o chefe máximo da Igreja católica.
No próximo dia 04 de julho, segunda-feira, se completará um novo aniversário do crime dos sacerdotes Alfredo Leaden, Alfredo Kelly e Pedro Daffau, e dos seminaristas Salvador Barbeito e Emilio Barletti, mortos a tiros dentro da residência da igreja de San Patricio, localizada a poucas quadras do centro de detenção clandestino da Esma.
Em 2007, Torres processou 17 ex-integrantes do Grupo de Tarefas que operavam nesse centro naval como suspeitos do crime, baseando-se em testemunhos de sobreviventes que disseram ter ouvido o marinheiro torturador Antonio Pernías gabar-se de ter participado da ação.
Mas a Câmara Federal reverteu esse processamento por considerá-lo pouco fundamentado, já que outros indícios envolvendo um policial da ex-Coordenação Federal, cuja sede tinha sofrido um atentado com 23 mortos dois dias antes.
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As primeiras pessoas que chegaram, de manhã, na casa paroquial encontraram nas paredes e no tapete as seguintes frases: ‘Assim vingamos os nossos companheiros da coordenação federal’ e ‘Isto acontece com quem envenena a mente da juventude’.
Os padres foram mortos com armas munidas de silenciador e testemunhas disseram que havia uma “área liberada”, já que um Peugeot estacionado em frente à casa paroquial nessa noite afastou do lugar uma patrulha que se aproximou.
A precatória enviada ao Vaticano e a complementar à Secretaria de Culto parte de outra hipótese e vincula-se à homilia pronunciada dias antes do massacre pelo padre Kelly, que denunciou do púlpito que integrantes do seu rebanho compravam móveis de desaparecidos.
Ele, ali, referiu-se às mães que não encontravam os seus filhos e advertiu que aqueles que prosperavam com essa perseguição “deixam de ser, para mim, ovelhas para se transformar em baratas”.
Endossando a hipótese de que algum dos presentes aludido tenha participado ou ao menos instigado a chacina, uma nota que apareceu em 1987 no semanário El Periodista assegurou que um escritório portenho especializado em direito canônico administrava o levantamento da excomunhão que a Igreja católica aplica automaticamente aos matadores de um sacerdote.
“Nos últimos anos, levantamos testemunhos e produzimos provas, como a perícia em balas com tecnologia moderna, mas os dados que o Vaticano puder proporcionar e que apenas agora são acessíveis, abrem uma nova possibilidade na investigação”, disse à Télam Cecilia Brizzio, secretária do Juizado de Torres, encarregado do processo.
A reativação do caso do Massacre de San Patricio pode ser percebida também na iminente apresentação da congregação dos palotinos solicitando ser coautor do crime, somando-se ao Estado Nacional, através da Secretaria dos Direitos Humanos.
A etapa foi resolvida de forma unânime pelos padres da comunidade em sua última assembleia, onde foi designado o superior Juan Sebastián Velasco como representante legal, ao passo que a assessoria jurídica ficará nas mãos de um advogado da organização Justiça Já.
O grupo reúne sobreviventes da Esma, uma vez que o expediente tramita na mesma megacausa por crimes de lesa humanidade imprescritíveis cometidos no centro naval de detenção e extermínio.
A decisão demandou quatro décadas de amadurecimento, quase o mesmo tempo que a máxima hierarquia mundial da Igreja católica levou para abrir os seus arquivos sobre a ditadura argentina. Com todas as gestões e omissões do episcopado vaticano e argentino é a única forma de fechar com justiça as feridas sem estancar.
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O cardeal Poli presidirá a missa pelos 40 anos do Massacre de San Patricio
O arcebispo de Buenos Aires e primaz da Argentina, cardeal Mario Aurelio Poli, presidirá uma missa na Paróquia San Patricio pelos 40 anos do assassinato dos padres Pedro Dufau, Alfredo Leaden e Alfie Kelly e dos seminaristas Salvador Barbeito e Emilio Barletti, todos palotinos.
O cardeal portenho celebrará a Eucaristia na segunda-feira, 4 de julho, às 20h, na igreja onde foi perpetrado o Massacre de San Patricio, que é considerado pelos religiosos “o atentado mais violento já sofrido pela Igreja argentina em toda a sua história”.
O convite tem por lema “Juntos viveram e juntos morreram. Hoje são luz e vida” e recorda palavras pronunciadas pelo cardeal Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco, em uma missa que presidiu no dia 4 de julho de 2001 na igreja de Villa Urquiza.
“Esta paróquia, ungida pela decisão daqueles que juntos viveram, ungida pelo sangue daqueles que juntos morreram, diz algo a esta cidade, algo que cada um de nós precisa recolher em seu coração e assumir. Livrar-se de rótulos e olhar o testemunho”, disse o então arcebispo de Buenos Aires.
A comissão organizadora dos 40 anos e a comunidade palotina na Argentina manifestam que “nos deparamos com duas certezas: os ‘Cinco’ entregaram suas vidas por fidelidade a Jesus, sendo testemunhas dos valores que o Evangelho anuncia: o respeito à vida, à justiça e à paz, e este fato, na perspectiva da fé, nos impulsiona a seguir o seu caminho”.
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Entrevista coletiva e atividades planejadas
Na quinta-feira, 30 de junho, houve uma entrevista coletiva na igreja de Villa Urquiza, onde lideranças leigas da comunidade e religiosos da Sociedade do Apostolado Católico, palotinos, deram detalhes sobre o caminho martirial dos Cinco e sobre a situação em que se encontra a causa de beatificação.
Conversaram com a imprensa Rolando Savino, leigo e testemunha do massacre; o padre Rodolfo Capalozza SAC, sacerdote e sobrevivente; o padre Pablo Bocca SAC, pároco de San Patricio; María Inés Galmarini de Ferrando, coordenadora do arquivo e memorial; padre Jeremía Murphy SAC, provincial da Província Mãe do Divino Amor (Irlanda); padre Juan Sebastián Velasco SAC, postulador da causa; e Francisco Chirichella, vice-postulador da causa.
Assista ao vídeo:
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A Justiça argentina espera que o Vaticano tenha dados sobre o massacre dos palotinos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU