29 Junho 2016
O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, com a experiência de governar um país repetidamente ameaçado de expulsão do euro, expressou o seu lamento pela saída do Reino Unido da União Europeia. “A Europa chegou a uma crise previsível por causa do défice democrático, da falta de coesão social e de solidariedade”, afirmou à chegada à Bruxelas, para a primeira cimeira europeia após os resultados do referendo que dita a saída britânica da união.
A reportagem é de Clara Barata, publicada por Público, 28-06-2016.
A primeira cimeira após o “Brexit" tornou-se uma montra de acusações e pedidos de que o Reino Unido se apresse a iniciar o processo de saída. Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês, que assegura a presidência rotativa da UE, foi brutal na avaliação do processo que levou ao resultado do referendo britânico e à crise política que se está a seguir: “A Inglaterra colapsou política, monetária, constitucional e economicamente”, relata o Financial Times.
“O Brexit já aconteceu, psicologicamente, por causa da votação e porque o Reino Unido se tornou refém das ambições de uns quantos políticos, que propuseram o referendo”, declarou a Presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite.
David Cameron disse que ia “explicar” aos restantes líderes dos 27 que o Reino Unido vai mesmo sair da UE. “Mas quero que o processo e o resultado sejam o mais construtivos possível, porque quando sairmos da UE não lhe podemos voltar as costas”, assegurou.
Multiplicam-se no entanto as declarações dos líderes europeus apelando a que o Reino Unido invoque “tão rápido quanto possível” o artigo 50.º do Tratado de Lisboa para que comece a contagem decrescente de dois anos, prazo máximo para que seja efetiva a saída de um país da UE. “Não posso imaginar que o Governo britânico não respeite a escolha do povo. Há que respeitar o sufrágio universal”, afirmou o Presidente François Hollande, recusando dar crédito às especulações de que os governantes de Londres estejam a preparar-se para ignorar os resultados do referendo.
Angela Merkel está disposta a dar algum tempo a Londres para respirar e o peso da Alemanha conteve a pressa dos outros países. “O que a Europa precisa é de um período de paralisia no centro e a chanceler Merkel é a pessoa indicada para o fazer”, escreveu, corrosivo, Alan Beattie no Financial Times. “Os alemães inventaram um verbo, merkeln, que significa adiar decisões sucessivamente. E esse talento nunca foi tão necessário. Iniciar conversações para a saída do Reino Unido nesta altura, forçar decisões apressadas, seria desastroso”, defende o editor do diário britânico.
Mas a chanceler alemã prometeu aos deputados no Bundestag em Berlim que não permitirá que o Reino Unido escolha apenas os benefícios que lhe convêm na União Europeia sem ter nenhuma das responsabilidades, como aceder ao mercado único rejeitando o livre movimento de pessoas. “Deve existir e existirá uma diferença de relevo entre um país que quer fazer parte da família da União Europeia e os que não querem”, afirmou Angela Merkel. A Noruega é um exemplo de como as coisas devem funcionar: tem acesso ao mercado único “porque em troca aceita migração livre da União Europeia, entre outras coisas”.
Problema não é só britânico
“Posso apenas aconselhar os nossos amigos britânicos a não se iludirem a si próprios”, disse a chanceler, atacando o argumento-chave dos que no Reino Unido defenderam a saída da União, prometendo “recuperar o controlo das fronteiras” e reduzir o número de imigrantes vindos de outros países europeus. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, manifestou a intenção de convocar uma cimeira extraordinária sobre o futuro da Europa para 27 de Setembro.
Outro apelo ouvido em várias línguas é o da necessidade de aproveitar esta crise na UE para fazer uma reforma que a torne mais aceitável para os cidadãos europeus. Essa é também a ideia que primeiro-ministro português António Costa leva para o jantar com os seus pares à porta fechada. Não se pode encarar o "Brexit" como um problema exclusivamente britânico, defende. A falta de confiança dos cidadãos nas instituições europeias gera um sentimento negativo em relação à UE, que é preciso enfrentar.
De Washington veio uma análise política com assinatura de Barack Obama: o referendo britânico teve o efeito de acionar o “botão de pausa no projeto de integração europeia”, afirmou o Presidente norte-americano, em entrevista à National Public Radio (NPR).
O resultado do referendo britânico foi “uma reação ao crescimento acelerado da UE, que provavelmente foi rápido demais e sem o consenso necessário”, considerou. “Tem havido um pouco de histeria, como se a NATO tivesse acabado, a aliança transatlântica se estivesse a dissolver, e cada país estivesse a refugiar-se no seu canto. Não é o que está a acontecer”, sublinhou Obama.
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O dia em que Tsipras consolou Cameron pelo "Brexit" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU