07 Março 2016
Vítimas de abuso sexual cometidos por padres disseram, nesta sexta-feira (04-03-2016), que ficaram decepcionados por não terem podido falar ao Papa Francisco e questionaram a afirmação do Vaticano de que eles não submeterem o seu pedido através dos canais adequados em vista a um encontro com o papa.
A reportagem foi publicada por The Guardian, 05-03-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Um grupo de aproximadamente 15 pessoas esteve em Roma esta semana para assistir ao Cardeal George Pell prestar esclarecimentos via videoconferência a uma comissão governamental australiana sobre abusos sexuais no país quando ele, o cardeal, era padre e bispo nas décadas de 1970 e 1980. Pell é hoje o tesoureiro do Vaticano.
“Nós queríamos ter falado com ele [o papa] sobre as nossas histórias”, disse David Ridsdale, um menino quando foi abusado por seu tio, que era padre na época.
“Gostaríamos de saber como o papa poderia nos ajudar, manifestando o seu apoio e reconhecendo os erros do passado”.
Na segunda-feira, as vítimas anunciaram que haviam enviado um fax à Prefeitura da Casa Pontifícia requerendo um encontro. Segundo eles, o fax foi enviado a um número fornecido pelo departamento em que Pell trabalha.
Na sexta-feira, um porta-voz do Vaticano disse que nenhum pedido fora feito através dos canais adequados.
“Fizemos tudo o que era possível para marcar este encontro, utilizando canais públicos e os canais normais”, disse Ridsdale. Ele e outra vítima mostraram a jornalistas uma cópia do fax que, segundo afirmam, foi enviado ao Vaticano e em uma troca de emails com o departamento em que Pell atua. O conteúdo do fax diz respeito à possibilidade de um encontro.
“Considerando o que vem acontecendo, eu não acho que houve uma falta de conhecimento para com os nossos esforços”, declarou Ridsdale em um hotel de Roma antes de o grupo partir para o aeroporto.
Pell depôs direto de Roma à comissão governamental que se encontrava na Austrália porque alegou não poder viajar devido a problemas cardíacos. Uma campanha de financiamento colaborativo na Austrália angariou o dinheiro para que o grupo viajasse a Roma para se fazer presente na sala de audiência com Pell.
Em todas as sessões, a impossibilidade de ele lembrar detalhes de muitos casos individuais de abuso irritou tanto as vítimas que viajaram a Roma quanto as que ficaram na Austrália.
Aos investigadores, Pell disse que a Igreja havia cometido “enormes equívocos” e feito “escolhas catastróficas” ao se recusar a acreditar nas crianças abusadas, movendo padres abusadores entre paróquias e contando demais que as práticas de aconselhamento seriam o suficiente para resolver o problema.
Pell falou ainda que fora enganado e que seus superiores mentiram para ele quanto era um jovem padre na década de 1970.
Dado o alto cargo que Pell ocupa no Vaticano, o interrogatório sobre os casos envolvendo centenas de crianças na Austrália, desde os anos 1960 à década de 1990, teve grandes implicações em torno da responsabilização dos prelados na Igreja.
Porém, Paul Levey, abusado sexualmente na infância, disse que os sobreviventes tentaram, em muitas ocasiões, fazer contato com o Vaticano via email, fax e carta escrita, e que também fizeram apelos via imprensa.
“O próprio Pell disse que faria tudo para ajudar a organizar um encontro com o papa”, declarou Levey.
Ele pediu que a imprensa ajudasse o grupo a arranjar um encontro. A maioria dos membros do grupo está indo embora esta semana, mas Levey irá somente depois. “Não queremos ser varridos para debaixo do tapete novamente”, completou.
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Vítimas australianas de pedofilia questionam o Vaticano por não poderem se encontrar com o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU