03 Março 2016
As vítimas da pedofilia contestam amarguradas as palavras do cardeal Pell. A terceira jornada de audições do cardeal australiano ante a Royal Commission (instituída há alguns anos para fazer luz sobre os abusos sexuais cometidos pelo clero na Austrália) foi marcada pelas críticas.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 02-03-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Pell, no decurso do último depoimento no hotel Quirinal em vídeo-conferença com Sidney, admitiu não ter prestado suficiente atenção às vozes de presumidas violências da parte de um monstro serial, o pároco Gerald Risdale.
“Não posso dizer que eu jamais soube o que todos sabiam”, disse ele.
“Não sei se era conhecido de todos ou se não o era. É uma história triste e jamais foi de grande interesse para mim”.
O cardeal negou repetidamente ter vindo ao conhecimento no específico de tais abusos.
Que talvez se tratasse somente de boatos de uma “triste história”.
Anthony Foster, pai de duas crianças violentadas por outro padre que gozou por anos da cobertura das hierarquias, se disse “destruído” por tais palavras. O homem – junto a outros familiares de vítimas abusadas – chegou especificamente da Austrália para ver Pell nos olhos, e entender por que decidiu permanecer em silêncio antes do que denunciar um criminoso.
O dilema do episcopado
Na Itália o caso de Pell alimentou um debate sobre o dilema do episcopado: obrigação de denúncia à magistratura italiana de um padre pedófilo, ou não?
“Denunciar os abusos não é fácil para a lei italiana”, disse Domenico Sigalini, bispo de Palestrina, retornando a uma polêmica que há tempo o havia investido, afirmando considerar de não denunciar os abusos.
O ponto é este.
“Dizei-nos o que devemos fazer de preciso e eu não tenho problemas – disse intervindo na Rádio Anch’io- [Também Eu].
Não vem ao caso o Vaticano e também não os Pactos Lateranenses. É o nosso código que prevê que, se há um menor no meio, a denuncia do padre deve ser pelo pai. Se o denuncio violo a privacidade da família e ponho o filho em praça pública. Esta é a lei italiana.
Eu, bispo, naturalmente, posso abrir um processo canônico e depois reduzir o padre ao estado laical”, mas sobre o restante é preciso verificar quais são os limites que impõe a normatividade italiana.
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Pedofilia, vítimas contra Pell: “Por que permaneceu em silêncio?” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU