03 Março 2015
A ONG New Ways Ministry, que se autodescreve como um “ministério gay de defesa e justiça das pessoas católicas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneras (LGBT)”, promoveu uma peregrinação a Roma na semana passada para quase 50 pessoas. O diretor executivo da organização, Francis DeBernardo, disse que eles desfrutaram “da melhor acolhida por parte das autoridades eclesiásticas nestes 38 anos de história do New Ways Ministry”. Disse que aos peregrinos – liderados pela Irmã Jeannine Gramick, cofundadora da organização em 1977 – foram dados “assentos VIP” na audiência papal na Quarta-feira de Cinzas, na Praça de São Pedro. Infelizmente, VIP não mais significa a mesma coisa que certa vez significou. Não com o Papa Francisco, que prefere passar a maior parte de seu tempo diante do público, andando por meio da multidão, descendo a todo instante de seu carro para, pessoalmente, cumprimentar as pessoas.
Não houve nenhuma saudação para os peregrinos do New Ways, postados na seção VIP. O Vaticano nem mesmo os reconheceu adequadamente, anunciando-os simplesmente como um “grupo de pessoas leigas acompanhado por uma irmã da Congregação de Loreto”.
Uma peregrinação semelhante vinda da Inglaterra, promovida por católicos LGBTs de Westminster (grupo conhecido como “Soho Masses”), também esteve na cidade, e um outro jornalista e eu fomos convidados a falar para estes dois grupos sobre o tema: “Noticiar um papa reformador”.
Na qualidade de católico gay (e creio que eu seja o único assumidamente gay entre os vaticanistas de Roma), foi um grande prazer realizar este momento, visto que uma série de queridos amigos de longa data se faziam presentes em ambos os contingentes. Devo confessar, porém, correndo o risco de enfurecer alguns aqui, não fiquei tão otimista quanto eles estavam sobre o assim-chamado “apoio e acolhida calorosa” que receberam das autoridades religiosas. Não tenho certeza dos motivos pelos quis os peregrinos ingleses estavam tão felizes com os cumprimentos que o cardeal arcebispo de Westminster lhes enviou. Tal comunicação sequer teve uma saudação apropriada. E era tão seguramente genérica que poderia ter sido endereçada a qualquer grupo de cristãos vindo de qualquer lugar do mundo.
A Comunidade Caravita, que diz existir para “especialmente acolher aqueles que, de alguma forma, foram afastados da Igreja ou marginalizados”, fez ao grupo inglês um reconhecimento semelhantemente vago (e seguro). O padre que presidiu a missa de domingo passado recebeu os peregrinos LGBTs como um “grupo de Westminster”. Ponto final.
Nós, católicos gays e lésbicas, deveríamos esperar mais dos nossos irmãos ordenados porque, como uma série de estudos têm mostrado, muitos deles são homossexualmente orientados tal como nós.
O comentário é de Robert Mickens, editor-chefe da revista Global Pulse, em artigo publicado por Commonweal, 25-02-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
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Por falar em irmãos ordenados… O Papa Francisco parece ter dito algumas palavras duras aos bispos que aceitam praticamente qualquer um (para as Ordens Sagradas), especialmente entre aqueles que apoiam a Missa Tridentina e a assim-chamada “reforma da reforma” da liturgia.
Digo “parece” porque as “palavras duras” chegaram até nós via fontes secundárias, depois de uma reunião a portas fechadas que o papa teve no dia seguinte à Quarta-feira de Cinzas com os padres da Diocese de Roma.
Segundo a agência noticiosa Zenit, um dos apostolados da ordem dos legionários de Cristo, Francisco disse haver alguns “santos” entre estes padres e bispos que falam de uma “reforma da reforma” e que eles assim o fazem “de boa fé”. Porém, disse, eles cometem um “equívoco”, ressaltando que alguns destes mesmos prelados aceitam seminaristas “tradicionalistas” expulsos de outras dioceses.
Segundo reportagem da mesma agência de notícias, o papa falou que os bispos aceitam porque eles parecem “muito devotos”, para apenas depois mostrarem sinais de “problemas psicológicos e morais”. Ordená-los, disse, é como “hipotecar a Igreja”. Naturalmente, eles ordenam tais homens porque há uma acentuada escassez de padres.
Nos bons tempos do Papa João Paulo II, todos sabiam que os bispos com muitos seminaristas e grandes turmas de ordenações eram promovidos a dioceses mais destacadas. É longa a lista de igrejeiros leais que foram promovidos a sés maiores e mesmo ganharam o barrete vermelho porque enchiam os seminários com qualquer um que prometesse viver a vida celibatária, não fazer perguntas e – pelo menos do ponto de vista exterior – fazer um esforço voluntário extraordinário nos procedimentos prescritos. Com demasiada frequência, estes bispos carreiristas deixaram seus pobres sucessores em maus lençóis.
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Pela primeira vez em cinco anos, o Sudário de Turim [ou Santo Sudário], que teria sido o manto que enrolou o corpo de Jesus Cristo em seu túmulo, estará em exposição pública. A amostra acontecerá entre os dias 19 de abril e 24 de junho. Esta é a sexta vez em mais de cem anos.
Para a ocasião, o bispo local – Dom Cesare Nosiglia – recentemente decretou que os padres que ouvirem confissões em seu território terão permissão para absolver e remover a excomunhão de todos os penitentes que confessarem terem estado diretamente envolvidos com a questão do aborto.
Eis uma grande notícia. Mas por que limitar este ato magnânimo e misericordioso a apenas dez semanas? Talvez a dúvida maior seja: Por que mesmo ele vai expor publicamente o sudário em tão pouco tempo depois de sua última exposição, ocorrida em 2010? Talvez porque uma exibição assim, tal como ocorrido com aquela de cinco anos atrás e com a que aconteceu uma década antes, geralmente atrai uma visita papal.
Dom Cesare Nosiglia ainda não recebeu nenhum papa. Quando foi nomeado para Turim, em outubro de 2005, a visita de Bento XVI, ocorrida vários meses antes, já era história esquecida. O Papa Francisco foi eleito em março de 2013, e no fim de outubro desse mesmo ano o Vaticano disse que ele – o papa – iria criar o seu primeiro grupo de cardeais ainda então não nomeados num consistório que se realizaria em fevereiro de 2014. Mas, antes que o papa anunciasse a lista dos homens que iriam receber o barrete vermelho, Dom Cesare Nosiglia surpreendeu a todos fazendo, ele próprio, o anúncio em dezembro de 2013, ao dizer que haveria uma amostra “extraordinária” do sudário no primeiro semestre de 2015. “Temos a confiança de que o Papa Francisco venha rezar diante do linho sagrado”, disse. (Ele irá, no dia 21 de junho.) [1]
Mas em nenhum de seus dois consistórios Francisco deu o barrete vermelho a Cesare Nosigilia, chefe de uma das principais dioceses italianas – tradicionalmente encabeçada por um cardeal. Se o papa não ficou tentado a fazer deste bispo um cardeal por causa da decisão dele de ter uma exposição extraordinária do sudário, talvez agora ele ficará por sua decisão de mostrar uma maior misericórdia às mulheres – como o próprio pontífice diz na Evangelii Gaudium – que, em “situações muito duras” e em “profundas angústias”, fizeram abortos, enquanto a Igreja “tem feito muito pouco fez para [acompanhá-las] adequadamente”.
Nota
[1] Veja o artigo “Pope will visit Shroud of Turin, commemorate birth of St. John Bosco”, disponível aqui.
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Peregrinos LGBTs desprezados; palavras duras aos tradicionalistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU