Por: Cesar Sanson | 15 Janeiro 2013
Este ano ele completa 86 anos de vida. Apaixonado pelos pobres e dedicado integralmente a fazer o bem por meio do empoderamento dos cidadãos, sem assistencialismo. Em longa entrevista ao Sul21, 14-01-2013, o irmão marista Antônio Cechin falou sobre as atividades que influenciaram uma geração de militantes no Rio Grande do Sul e no Brasil. A conversa foi no apartamento onde vive com a irmã Matilde, uma fiel companheira de lutas, na mesma sala de onde, em duas oportunidades, foi retirado por agentes da ditadura militar e levado para a tortura no DOPS. “Ainda bem que esta entrevista não está acontecendo naquela época, em que nada poderia ser dito”, disse no começo da conversa.
Reticente em conceder a entrevista a princípio, Irmão Cechin (foto de Ramiro Furquim/Sul21) acabou concordando em seguida, dizendo estar falando “em nome do bem dos catadores”. Conhecido nacionalmente como uma espécie de profeta da ecologia, devido ao pioneirismo com as unidades de reciclagem no país, ele fala que “geralmente os que defendem os pobres não são ouvidos” pela grande imprensa. Desde a água da torneira fornecida à reportagem, até as vezes em que parou a conversa para atendimentos de catadores envolvidos no projeto Ecoprofetas, que administra com apoio da Petrobras, Irmão Cechin se mostrou um homem humilde e devoto, além de profundamente dedicado aos movimentos populares.
Um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criador da Romaria da Terra e da Romaria das Águas e idealizador da missa em honra a Sepé Tiaraju, ele contou sobre a incompreensão de sua própria congregação quanto a sua filosofia religiosa. “Nós temos na Igreja a última monarquia do mundo. O Papa como o único Deus da verdade absoluta, que não divide o poder. Esta igreja não é a que existe na América Latina”, disse.
Atualmente, Irmão Cechin luta pela recuperação dos 18 galpões de reciclagem que construiu com apoio da Igreja durante os governos do PT em Porto Alegre. Ele denuncia um suposto descaso da atual gestão municipal e responsabiliza também a “burguesia despolitizada”, que não possui consciência ambiental para respeitar os catadores ou começar, em suas próprias casas, as mudanças pelo meio ambiente saudável. “Não só o governo, é toda a sociedade que não tem consciência. Há um preconceito das pessoas com os catadores, principalmente das que moram perto das unidades de reciclagem, que se isolam com muros e grades como se estas pessoas fossem lixo”.
Eis a entrevista.
A luta pela preservação do meio ambiente é uma de suas principais causas. Sua atuação foi pioneira para o surgimento da reciclagem no estado, contribuindo para a organização da atividade dos catadores. Como o senhor começou este trabalho?
Eu comecei a partir das Comunidades Eclesiais de Base (CEB). Fizemos a primeira unidade de reciclagem na Ilha dos Marinheiros, em Porto Alegre. Existia uma mulher que liderava 30 carroceiros em Canoas e pediu apoio das comunidades eclesiais de base para combater o prefeito filhote da ditadura da época (Carlos Loureiro Giacomazzi). Fizemos passeatas e ocupações em frente à prefeitura até o lixão de Canoas ser reaberto. Depois disso, constatamos que também existiam catadores em Porto Alegre. Foi então que começamos, com trabalhadores da Vila Lupicínio Rodrigues e Vila Planetário. Por iniciativa do governo Olívio Dutra, eles foram reassentados e constituídos como carrinheiros e catadores. O sonho deles sempre foi conquistar o Centro, que é a região com lixo de maior qualidade. Nós passamos a empoderar este povo e ocupar também o Centro. Agora, temos um abandono desta atividade em Porto Alegre. Um exemplo é na Rua Paraíba, na vila encostada na Avenida Castelo Branco. Esta vila já incendiou algumas vezes. Por intervenção do governo Olívio, os ocupantes, dos quais existem 80 catadores, tiveram direito de ocupar o lugar para se organizar como unidade de reciclagem. A verba foi transferida ao município no último ano da gestão de João Verle (PT) e o projeto executado pelo prefeito José Fogaça (PMDB). A situação do local é de extremo abandono atualmente, assim como nas demais 16 unidades que construímos em Porto Alegre. Com o apoio dos governos do PT e da Igreja, foram criadas 18 unidades de reciclagem na cidade. Agora, com o projeto da Petrobras que estou executando (Ecoprofetas), estou conseguindo recuperar alguns.
Qual é o problema dos catadores na vila da Rua Paraíba exatamente?
Este local onde fica a vila, na Rua Paraíba, foi tomado pela Prefeitura, que ergueu o prédio de máquinas do DMLU. Agora, ganhamos na Justiça, por decisão do Ministério Público do RS, a devolução daquele galpão de reciclagem. Ele foi construído por nós com R$ 100 mil conseguidos da Igreja há 15 anos. Nos roubaram (o galpão). Agora, com o Ministério Público do RS, estamos recebendo de volta. Existe uma área específica de atuação no Ministério Público para o Meio Ambiente, que se transformou em uma mina de ouro para nós que trabalhamos com ecologia porque o dinheiro das multas das empresas, por decisão judicial do MP, é destinado diretamente às entidades que trabalham pelo meio ambiente. Por exemplo, com recursos que ganhamos de uma multa contra a CGTE em Gravataí, a empresa depositará por dois anos aluguel para trabalharmos com lixo eletrônico. Vamos inaugurar este projeto esta semana, em um prédio de três andares na Rua Voluntários da Pátria. Vou aproveitar o MP-RS e vou desafiar a Igreja e o governo para tentar resolver o problema desta vila na Rua Paraíba.
Porto Alegre tem duas situações que envolvem diretamente a atividade dos catadores: a terceirização do serviço de coleta seletiva do lixo e o programa de Inclusão Produtiva de Condutores de Veículo de Tração Animal (VTAs) e de Veículos de Tração Humana (VTHs) – o que, segundo acusam os críticos, seria uma maquiagem para a aplicação da Lei das Carroças até 2016. Qual a sua opinião sobre essas questões?
Esta Lei das Carroças é desta administração. O vice-prefeito é o autor da lei (Sebastião Melo). É algo contra a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, criada pelo governo Lula e que prevê que a catação tem que ser feita diretamente pelos catadores. Porém, a única catação que se fazia em Porto Alegre e que vem reduzindo é feita pelos carrinheiros e carroceiros. Esta lei municipal é para acabar com tração animal e humana, exatamente a atividade de catação que ainda existe em Porto Alegre. Eu até tenho um projeto em desenvolvimento na Engenharia da PUC de um carrinho que não seja mais com tração humana, mas não sai do papel nunca. Na prática, a única diferença é que carroceiros têm um meio de transporte melhor do que o carrinho de mão dos carrinheiros; na verdade, ambos são fundamentais para a saúde da sociedade. Estes ecoprofetas são responsáveis por 70% da reciclagem do lixo da cidade. As coletas feitas pelo poder público não representam 15%.
Na sua opinião, essas decisões da Prefeitura, que podem levar ao fim da atividade do catador, são fruto de uma visão política ou falta de consciência ambiental?
Não só o governo, é toda a sociedade que não tem consciência. O Brasil é o segundo país do mundo em produção de lixo. As atividades dos catadores são vitais para a saúde do meio ambiente. Aqui o governo criou uns contêineres que todos acham uma maravilha, mas está misturando o lixo seco com o orgânico e acabando com a matéria-prima dos recicladores. Por outro lado, quando vejo essas campanhas institucionais sobre a educação eu me contorço de raiva. Esta burguesia não sabe nem separar o lixo em casa e quer falar em educação! Recentemente eu conheci um projeto implantado em São Paulo e no Rio de Janeiro um pouco antes da Rio+20, o “Pimp My Carroça”. Eles foram em direção a uma centena de carroceiros. Um mutirão de carpinteiros ajudou a consertar as carroças, artistas decoraram com grafite, ofereceram serviços de higiene para os trabalhadores. Me comoveu tanto ver isso que pensei: quem dera que, ao invés da Lei das Carroças, Porto Alegre pudesse ter feito isso. Há um preconceito das pessoas com os catadores, principalmente das que moram perto das unidades de reciclagem ,que se isolam com muros e grades como se estas pessoas fossem lixo.
Como o senhor começou esta trajetória a frente de tantas causas?
Eu sou irmão marista. Religioso. Somos 15 irmãos de uma família de origem italiana. Moro com uma delas, a Matilde. Meu primeiro envolvimento como professor de movimentos populares foi no primeiro movimento de juventude religiosa do país, o JEC (Juventude Estudantil Católica) que até hoje não teve paralelo dentro da Igreja. Na época, a Igreja Católica se dividia entre hierarquia e laicado, e Pio XI pensou que seria necessário entregar aos leigos uma missão dentro desta hierarquia, uma militância. Em 1955 eu fui designado pelo bispo auxiliar de Porto Alegre, Dom Edmundo Kunz, a ir ao convento dos monges beneditinos, no Rio de Janeiro. Foi então que comecei a trabalhar com o método conhecido hoje como Teologia da Libertação: ver, julgar e agir. Isso foi minha entrada para um trabalho com jovens, no Colégio Rosário onde eu já era professor. Começamos a descobrir as diferenças de capacidade de aprendizagem dos alunos, introduzimos a primeira feira do livro na cidade, feita em consignação com livrarias e também desenvolvemos a Semana do Estudante. Primeiro em colégios católicos e depois nas escolas leigas. Foi ao conhecer o marxismo, por meio da chilena Marta Harnecker, que passamos a propagar entre todos os estudantes latino-americanos da Igreja lições desta filosofia, deste instrumento global de análise da realidade. Fomos pioneiros em fazer trabalhos nas periferias.
Foi este conceito que o levou a ser perseguido pela ditadura militar?
Enquanto irmão marista, eu já trabalhava ligado a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) como catequista, evangelizador e criador de Comunidades Eclesiais de Base. Quando estourou a ditadura militar, todos os que trabalhavam na periferia foram considerados comunistas, comedores de criancinhas. Na verdade, só utilizávamos o instrumento global de análise. Na nossa linha religiosa só existe um lado: o que leva para Jesus Cristo, filho de Deus, e que é também o lado dos pobres. Jesus foi perseguido e morreu como um político, com P maiúsculo. Tudo que se faz na vida tem dimensão política. Se ele não fosse político ele teria morrido na cama, aos 85 anos de idade. Ele morreu aos 33 anos, pregado na cruz, por causa da mensagem que trazia. Eu, Leonardo Boff, Frei Beto e tantos outros que ergueram a Teologia da Libertação acabamos perseguidos pelos militares. As fichas catequéticas foram consideradas de conteúdo altamente subversivo pelo órgão fiscalizador da época. O ministro da Educação, Jarbas Passarinho foi em rede nacional na Semana da Revolução, em abril de 1979, falar contra o material que utilizávamos nos colégios. Surgiu uma grande polêmica no país. Nos desfizemos de tudo que tínhamos, mas passamos a ser perseguidos.
O senhor foi preso por duas vezes e sofreu tortura no DOPS.
Me levaram daqui para o DOPS. Fui preso duas vezes, em 1969 e 1972. Nesta mesma mesa eu recebi um pastor norte-americano chamado John Wright, protestante que reuniu jovens católicos. A segunda prisão foi por causa dele. Não foram longas as minhas estadas na prisão. A primeira durou dois dias e na segunda foram dez dias. A segunda realmente foi tortura e tive que ser levado direto para o hospital. Eles queriam saber nomes de clandestinos que a polícia andava caçando. Os estudantes católicos, vendo que as ferramentas estudantis, universitárias e operárias viravam pelegas, resolveram se organizar. A ditadura militar trancou sindicatos e movimentos populares e a Igreja foi a única instituição onde eles não puderam intervir ou colocar seus aliados. Então os militantes e movimentos se refugiaram nos movimentos católicos.
A Comissão Nacional da Verdade pode esclarecer a verdade sobre a prisão ou mesmo fazer a reparação do que ocorreu?
Não sei. Não sei se vou ser interrogado. Não estou torcendo muito (para que aconteça). Demoro alguns dias a voltar ao normal quando tenho que puxar esta parte da minha memória.
O senhor confia na Comissão da Verdade como possibilidade de recontar a história do país?
Algumas coisas já estão sendo reveladas. Assim que a Comissão começou a funcionar já se divulgou a morte de um jovem padre que foi morto no JUC por vingança contra Dom Helder. Como não podiam matar o bispo, se vingaram no melhor padre de sua arquidiocese. Já localizaram aqui no Rio Grande do Sul um prédio na Rua Santo Antonio, onde se praticava tortura. As coisas vão aparecendo. E, apesar de eu ter dito que a juventude católica daquela época não foi substituída, hoje temos uma juventude que está se organizando, o Levante da Juventude, que é muito interessante. Eles começaram no ano passado a fazer os escrachos. A juventude está se politizando.
Qual foi a contribuição do que o senhor chama de ‘farroupilhismo’ para a ditadura militar?
O manifesto antitradicionalista, elaborado por um grupo de missioneiros que não aceitam essa situação, aponta as falhas deste movimento que não tem nada de tradicionalista. É um gauchismo inventado por Barbosa Lessa, Paixão Côrtes e outros dois jovens do Colégio Júlio de Castilhos em 1948 que, com saudade do interior das fazendas, começaram com este gauchismo aqui em Porto Alegre. É um gauchismo que não vem na linha do povo guarani, que criou o chimarrão, por exemplo: é de origem açoriana. Os guaranis na Missão Jesuíticas dos Sete Povos foram considerados por Voltaire – um dos ilustres intelectuais da Revolução Francesa – em seu romance Candido, como o maior triunfo da humanidade. Um povo de economia eminentemente solidária, sem moedas, apenas na convivência por trocas. Para acabarem com esta experiência, algo completamente diferente do capitalismo trazido de Portugal, os reis da Espanha e Portugal se mancomunaram para um novo Tratado de Tordesilhas e para acabar com as missões aqui. Esta é a fonte da história do RS. E este grande triunfo da humanidade, que nos jogou para história global e influenciou as missões jesuíticas da Argentina e Paraguai, que em 1975 foram proclamadas patrimônio da humanidade pela ONU, não é nem lembrado pela juventude de hoje. Este gauchismo de hoje, dentro dos CTGs, não apresenta militância em nenhum sentido para mudar alguma coisa. Para o gaúcho machista, Deus não pode existir porque não pode haver ninguém acima dele, nem mesmo Deus pode humilhá-lo. O pai patrão, típico da grande fazenda, é o cúmulo da blasfêmia.
O senhor falou há pouco sobre a Teologia da Libertação, que é um movimento que acaba tendo certa oposição por parte de setores mais tradicionais da Igreja…
O que queremos é o retorno do cristianismo às suas origens. A crise moral da Igreja, com a pedofilia de padres, está diminuindo o interesse nas vocações. Está diminuindo a entrada de pessoas no conventos, e as vocações são mais de linha conservadora, que atuam na linha verticalista da religião. É só “eu e Deus”, um cristianismo individual. Ao passo que a Teologia da Libertação, complementada pelo método Paulo Freire, é eminentemente comunitária. Ela cria comunidades, o que foi o grande projeto de Jesus Cristo, com o povo unido trabalhando e transformando a realidade.
O senhor defende que há uma divisão na igreja católica e crítica o conservadorismo da instituição.
Nós temos na Igreja a última monarquia do mundo. O Papa como o único Deus da verdade absoluta, que não divide o poder. Esta igreja não é a que existe na América Latina. A partir de Dom Helder, que criou a CNBB, e do Papa João XXIII, que proclamou a liberdade de consciência, surgiu o modelo da Igreja da Libertação, onde tudo é em comunidade e por meio de debate totalmente livre. Se não há liberdade, não há cristianismo.
O senhor auxiliou na fundação do MST. Como vê o trabalho deste movimento hoje e da Comissão Pastoral da Terra na luta pela reforma agrária no país?
O MST surgiu com o padre Arnildo Fritzen, de Ronda Alta, em 1979. Também foi fruto do trabalho das comunidades eclesiais de base no RS. João Pedro Stedile (líder e um dos fundadores do MST) me conheceu quando ele foi assessor da Comissão Pastoral da Terra e decidimos fundar o MST. Depois de duas ocupações organizadas pelas comunidades eclesiais de base de Ronda Alta, Arnildo Fritzen foi até a Emater negociar para os colonos serem assessorados no plantio das novas propriedades. No dia 7 de setembro de 1979, em São Gabriel fizemos a primeira ocupação do que veio a ser o futuro MST, na chamada fazenda Macari. O MST ficou debaixo das asas da igreja até 1984, nas comunidades eclesiais de base. Em Cascavel (PR), em 1989, realizaram um encontro nacional e se criou o movimento organizado como é hoje, sem a dependência da Igreja. Não tem como falar do MST sem falar de São Sepé Tiaraju. João Pedro Stedile é mais devoto do que eu, mas escrevi o texto São Sepé Tiarajú rogai por nós porque fiquei intrigado com este santo que a igreja não reconhecia, mas que o povo canonizou. Quando completou 250 anos de martírio de São Sepé Tiaraju, conseguimos por meio do deputado Sérgio Goergen (PT), integrante do MST, um Projeto de Lei para tornar Sepé Tiaraju herói guarani-missioneiro-riograndense. Foi aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O deputado federal Marco Maia (ex-presidente da Câmara Federal) e o senador Paulo Paim também o fizeram no Congresso Nacional. Sepé Tiaraju passou a ser herói brasileiro. Colocamos o nome dele no panteão da pátria, ao lado de Tiradentes. Aqui no RS nem se noticiou o fato. (1)
O MST mudou?
Fala-se em divisão interna. Eu não acredito nisso. Considero que eles são ainda o movimento de realização da reforma agrária no país. Eles têm, obviamente, uma linha política, mas mesmo diante dos governos Lula e Dilma adotaram independência. Eles fazem a estratégia do “bate e assopra”. É uma luta inteligente, não rompendo com os governos de esquerda. Governos de esquerda dentro do possível. Eu interpreto o Lula, que me conheceu no seu último ano de governo, como um animal político. Ele deu uma virada no Brasil. Nas comunidades de base e nos movimentos populares não se acreditava que um operário seria presidente da República. Todos votavam na hora da eleição na classe dominante. Lula conseguiu e firmou a classe trabalhadora no poder. Porém, tanto ele quanto Dilma têm o governo, mas não têm o poder. O poder está no dinheiro.
Hoje, os conflitos por disputa de terra são o principal problema não enfrentado pelos governos de esquerda. Como o senhor vê esta realidade?
Eles dominam o país. Hoje eles estão com tudo. O negócio da soja, os agrotóxicos, enfim. Todo nosso alimento está envenenado. Os presidentes da República estão tendo câncer e não estão enxergando isso, veja o (presidente da Venezuela, Hugo) Chávez, o Lula. Isto é por causa do veneno. Eu costumo dizer que os mesmos que oprimem o povo pobre são os que oprimem a natureza, que já não aguenta mais. Porém, acredito que cada vez mais a humanidade amadurece para a retomada de uma vida simples. Depois desta retomada dos governos populares na América Latina, por exemplo, principalmente pela atuação do governo do índio Evo Morales (Bolívia), todos estão buscando o bem viver. Aqui em Porto Alegre realizaremos em fevereiro mais uma edição do Caminho de São Sepé Tiaraju. Realizamos este roteiro desde 2006, mobilizando jovens, índios, todos em nome desse sentido ecológico. Este ano repetiremos o roteiro com bicicletas e com a presença do primeiro ativista de bicicleta eleito vereador de Porto Alegre, o Marcelo Sgarbossa (PT). Será um roteiro ciclístico de 300 km, de Rio Pardo a São Gabriel. É uma pedalada nas comunidades de base do campo, e temos o objetivo de reforçar esse sentido ecológico.
Aos 85 anos, existe alguma frente ou alguma coisa que o senhor ainda não fez dentro da sua missão?
A gente sempre sonha. Quero transformar aquela vila (Rua Paraíba) no oitavo povo das Missões Jesuíticas. Vou restaurar aquele lugar e vou colocar na frente da unidade de reciclagem a frase dos índios guaranis tupãbaê – “aqui, se trabalha para Deus”. Essa mística das Missões é maravilhosa. Tudo isso que o Fórum Social Mundial está dizendo hoje, já diziam os jesuítas e os guaranis no interior do RS há 300 anos. Mas meu próximo projeto, claro, é atender a bicicletada de São Sepé, que acontece no dia 7 de fevereiro.
Uma curiosidade: o senhor anda de bicicleta?
Não me deixam andar de bicicleta mais, mas eu andaria. Já andei muito de bicicleta. Acompanharei o roteiro de carro. Nossa intenção sempre foi fazer o Caminho de São Sepé Tiaraju a pé, nos moldes do Caminho de Santiago, mas quando fizemos de bicicleta caiu no gosto da juventude. Eles vão numa alegria só!
Nota:
1.- O fato foi noticiado pelas Notícias do dia publicadas pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, no dia 23-09-2009. Clique aqui. (Nota da IHU On-Line).
Veja também:
“Os pobres me evangelizaram”. Entrevista especial com Antonio Cechin. Revista IHU On-Line, no. 223
Fichas catequéticas, a prisão e a tortura. Entrevista especial com Antônio Cechin
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Irmão Cechin: aos 85 anos, o profeta dos catadores ainda está disposto a lutar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU