06 Julho 2012
O chanceler da Pontifícia Academia das Ciências comenta a descoberta do Cern. E pergunta: quem estipulou as leis da natureza descobertas pela ciência?
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada no sítio Vatican Insider, 05-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Dom Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências, já sabia de antemão, desde o ano passado, que a descoberta do bóson de Higgs já estava próxima.
Durante o simpósio sobre física subnuclear organizado na Casina Pio V, no Vaticano, alguns dos físicos do Cern haviam explicado que o Large Hadron Collider – o mega-acelerador de partículas no subsolo de Genebra, inaugurado menos de um ano antes – havia começado a captar "indícios" da misteriosa partícula perseguida pelos físicos há quase 50 anos. Partícula sem a qual, por assim dizer, no estado atual das teorias sobre a natureza do universo, nada no nosso mundo poderia ter massa, e tudo seria um caldo de pura energia.
"Todas as vezes se demonstra que a criação é algo maravilhoso", diz hoje Dom Sánchez Sorondo, comentando o anúncio da confirmação da descoberta nessa quarta-feira em Genebra.
O fato de que o bóson de Higgs existe, como previsto pelos físicos em 1964, mostra que o universo "tem uma estrutura fundamental que deve ser descoberta". "Mas se ela está aí – acrescenta o prelado argentino com um toque de malícia –, alguém a deve ter colocado".
O bóson de Higgs se tornou a "estrela" da física nuclear principalmente graças ao apelido que lhe foi dado em um livro de 1993 do prêmio Nobel de Física Leon M. Lederman: a "partícula de Deus". Na realidade, parece que, originalmente, o físico tinha pensado em "partícula maldita" – “goddman”, em inglês – para depois ver o seu o título ser mudado por um editor com uma grande intuição.
O nome, talvez, seja muito grandioso. "Mas me agrada – brinca hoje Dom Sánchez Sorondo – que Margherita Hack, que é ateia, também fala de 'partícula de Deus'".
Mais seriamente, o teólogo indica dois aspectos positivos na descoberta no Cern. Acima de tudo, "o nosso conhecimento ajuda a descobrir o que acontece na natureza". Na prática, "a matemática nos ajuda, mas só até certo ponto", porque não podemos ignorar o confronto com a realidade: é um filão de pensamento que o prelado chama de "neorrealismo", sublinhando como entre "o que acontece na natureza" e "o que é compreendido na mente" há uma correspondência efetiva. Em outras palavras: não estamos enjaulados na bolha de vidro da nossa cabeça; há uma correspondência real entre mundo e pensamento.
Depois, prossegue Dom Sánchez Sorondo, "o cientista descobre leis que ele não colocou ali. E se perguntar quem foi que as colocou ali é uma pergunta teológica: o cientista se limita a dizer que as descobriu; o crente vê o fruto da vontade de Deus".
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''A 'partícula de Deus' demonstra a maravilha da criação'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU