A América Latina atinge seu menor índice de pobreza, mas continua a ser prejudicada pela desigualdade

Foto: Paul Pineda/Unplash

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27 Novembro 2025

Segundo a Cepal, a percentagem de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza está no nível mais baixo desde que os registos começaram. Mas a riqueza continua nas mãos de poucos.

A reportagem é de Eyanir Chinea, publicada por El País, 27-11-2025.

A porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza monetária na América Latina e no Caribe atingiu seu nível mais baixo no ano passado, desde que dados comparáveis ​​começaram a ser coletados, informou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). A organização destacou melhorias em indicadores como pobreza extrema e acesso à saúde, educação, moradia e salários. No entanto, alertou que a região permanece presa em um ciclo de desigualdade econômica que perpetua outras disparidades, com alguns países apresentando os maiores índices de desigualdade do mundo.

Em seu mais recente relatório anual, Panorama Social da América Latina e do Caribe, apresentado nesta quarta-feira, a Cepal indica que 25,5% da população da região, cerca de 160 milhões de pessoas, viviam em situação de pobreza de renda em 2024, representando uma redução de 2,2 pontos percentuais em comparação com 2023 e de mais de sete pontos percentuais em relação a 2020. A pobreza extrema — situação em que a renda é insuficiente para suprir as necessidades básicas, incluindo alimentação — ficou em 9,8%, uma leve queda de 0,7 ponto percentual em relação a 2023. Esse indicador não se recuperou desde 2014, quando atingiu seu nível mais baixo nas últimas três décadas.

Por outro lado, a pobreza multidimensional, um indicador criado pela Cepal para considerar as carências em habitação, saúde, educação, emprego e pensões, caiu de 34,4% para 20,9% na década, mostrando uma tendência decrescente que foi interrompida em 2020 devido aos efeitos da pandemia.

Em um contexto de baixa atividade econômica, pressionado por tensões comerciais e geopolíticas persistentes, a redução da pobreza deveu-se principalmente ao aumento dos salários reais, que se traduziram em maiores rendimentos familiares. Os países com os maiores rendimentos do trabalho declarados em 2024 foram a República Dominicana, a Costa Rica, o México e o Paraguai. No outro extremo, estavam o Equador e a Argentina, com declínios nos rendimentos reais.

O número de pessoas empregadas também cresceu, embora a um ritmo lento (1,8%), impulsionado pelos setores da indústria e dos serviços financeiros. Em 2024, o desemprego continuou a diminuir, atingindo 5,9%. No entanto, a informalidade continuou a afetar quase metade do emprego total, com um impacto maior sobre mulheres, jovens e trabalhadores de baixa renda, resultando em menor cobertura de proteção legal e social.

Colômbia, Brasil e Panamá, os mais desiguais

Adotando uma perspectiva menos otimista sobre as vulnerabilidades econômicas da região, o relatório alerta que as desigualdades persistentes criam barreiras ao acesso a sistemas robustos de educação e emprego, capazes de gerar estabilidade e prosperidade sustentável. A concentração de renda permanece “extrema”: os 10% mais ricos detêm 34,2% da renda, enquanto os 10% mais pobres recebem apenas 1,7%.

“Propomos cinco estratégias para escapar dessa armadilha: reduzir a desigualdade educacional; criar empregos de qualidade; promover a igualdade de gênero e a sociedade do cuidado; combater a discriminação e o desrespeito aos direitos humanos de pessoas com deficiência, povos indígenas e migrantes; e continuar fortalecendo as instituições sociais e seu financiamento. A América Latina e o Caribe devem redobrar seus esforços”, resumiu José Manuel Salazar-Xirinachs, secretário-executivo da organização, que apresentou o relatório com recomendações para a elaboração de políticas públicas alinhadas a esses objetivos.

Como exemplo das disparidades na região, apesar da melhoria relatada na pobreza multidimensional, esta se mostrou consistentemente mais elevada nas áreas rurais, entre crianças e adolescentes, e nos quintis mais pobres, com menor distribuição de recursos. "Essa realidade corrobora a existência de grupos sociais que enfrentam desvantagens acumuladas que os tornam mais vulneráveis ​​à pobreza multidimensional e dificultam sua capacidade de escapar dela", afirma o relatório.

O índice de Gini médio dos países — um indicador que mede a desigualdade socioeconômica — foi o mais alto entre todas as regiões do mundo, superado apenas por uma sub-região da África (África Subsaariana). Colômbia, Brasil e Panamá figuraram entre os países com os maiores níveis de desigualdade do planeta.

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