11 Novembro 2025
- Exatamente um ano atrás, o Cardeal Luis José Rueda Aparicio presidiu os ritos fúnebres do Padre Gabriel Malagón Suárez. Aquela celebração foi muito mais do que um rito fúnebre: foi um gesto profético.
- A homilia do cardeal, que hoje resgatamos como um documento eclesial de grande valor, foi um hino ao provisório, ao compartilhado, ao peregrino.
A reportagem é de Victor Ricardo Moreno Holguín, publicada por Religión Digital, 07-11-2025.
Na Igreja de Bogotá, algo novo está brotando. Não é concessão, é comunhão. Não é ruptura, é uma semente plantada para o Reino. Exatamente um ano atrás, em uma Eucaristia marcada por ternura, solenidade e esperança, o Cardeal Luis José Rueda Aparicio presidiu a Missa de funeral do Padre Gabriel Malagón Suárez, um sacerdote que, após receber uma dispensa, formou uma família profundamente cristã com sua esposa Clarita e seus três filhos. Aquela celebração foi muito mais do que um rito fúnebre: foi um gesto profético.
O cardeal, homem de olhar profundo e coração humilde, próximo ao estilo pastoral do Papa Francisco e à serenidade de Leão XIV, celebrou aquela liturgia com a dignidade própria de um monsenhor. Dirigiu-se a ele como Arcipreste Gabriel, reconhecendo não apenas seu ministério sacerdotal, mas também sua liderança espiritual entre aqueles conhecidos como "padres com família". Sem dúvida, o Cardeal Rueda começou a construir uma tenda onde todos, absolutamente todos, se encaixam: padres com família, suas esposas, seus filhos, seus netos, seus sonhos.
Uma tenda compartilhada
A homilia do cardeal, que destacamos hoje como um valioso documento eclesial, foi um hino ao provisório, ao compartilhado, ao peregrino. Nela, ele teceu uma imagem poderosa: a vida como uma tenda, inspirada em São Paulo. E nessa tenda, disse ele, há lugar para filhos, netos, colegas sacerdotes, amigos e discípulos. Há também lugar para os sonhos de uma Igreja mais misericordiosa, mais fraterna e mais aberta.
Gabriel, membro itinerante da Escola de Contemplação Salmos, soube construir aquela tenda com Clarita, com seus filhos e com tantos outros sacerdotes que o acompanhavam na jornada. O cardeal o reconheceu como parte de uma comunidade viva, uma comunidade que não para, que avança em direção à grande casa, o coração de Deus.
“Gabriel e Clarita construíram uma tenda… seus filhos, María Clara, Laura Sofía e Juan Santiago, cabem lá dentro, e seus netos também caberão.” “Caminhamos juntos como membros do povo de Deus, aprendendo uns com os outros.” “Enquanto pudermos sonhar, estaremos no caminho para a eternidade.”
Padres com famílias: uma comunidade em progresso
O Cardeal Rueda Aparicio não limitou seu gesto a uma única liturgia formal. Há anos, ele reúne, ouve e acompanha sacerdotes que, após receberem uma dispensa, constituíram família. Ele os chama carinhosamente e com clareza de "sacerdotes com famílias". Ele os reúne, conversa com eles e lhes devolve a autonomia. Em Bogotá, esse grupo cresceu em fraternidade, espiritualidade e missão. Entre seus líderes estão o Padre Hans Schuster e o próprio Gabriel Malagón, ambos reconhecidos como "arciprestes" pelo cardeal.
Dezenas de padres compareceram ao funeral, juntamente com muitos membros de "padres com famílias" e suas esposas; num gesto de comunhão que não pode passar despercebido, pois é o de uma Igreja que ousa amar sempre:
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”, proclamou o cardeal do altar. E acrescentou: “Seu nome é misericórdia, e sua misericórdia dura para sempre”. “Se toda a nossa vida for repleta de misericórdia… viveremos até a morte com alegria.”
Essas palavras não eram apenas consolo. Eram um programa. Eram profecia. O cardeal está convencido de que a misericórdia é a face de Deus e que a Igreja deve refletir essa face. Portanto, seu compromisso com os sacerdotes que têm família não é uma exceção: é um sinal dos tempos.
Um convite para sonhar profundamente
Da Escola de Monges Urbanos, Salmos, queremos encorajar este grupo a continuar se reunindo, com uma visão cada vez mais profunda, contemplativa e profética. Que seus encontros, além de fraternos e espirituais, sejam uma contribuição de novas perspectivas para a Igreja. Que continuem a ser enriquecidos por retiros como os conduzidos por Gabriel, inclusive nos espaços do Seminário Maior, com a presença do arcebispo. Que se tornem uma semente de renovação para toda a Igreja.
Gostaríamos também de destacar a figura do Padre Rafael Dussan, um “padre com família”, com uma visão artística avançada, lúcida e sensível. Seu testemunho, reunido em um artigo recente, merece ser conhecido e replicado. Através dele, sabemos que existe uma geração que não renuncia à sua vocação, que encontra novas nuances no exercício do sacerdócio e que pode transformar a missão da Igreja pelo amor.
Uma Igreja que ousa amar
O gesto do Cardeal Rueda Aparicio não é isolado; ele é um homem preocupado com questões sociais, com uma evangelização mais profunda, com um clero mais contemplativo; ele é um verdadeiro abade para os futuros Monges Urbanos. Ele fala destemidamente pela reconciliação do país, ousando trazer políticos de ideologias opostas para a mesma mesa, como um ato profético, mesmo que os convidados nem sempre compreendam a profundidade de seus gestos. Ele faz parte de uma Igreja que, como diz o Papa Francisco, "ousa amar além das estruturas". É um compromisso com a misericórdia, com a inclusão, com a comunhão. É uma tenda que é montada e desmontada, mas que nunca para de avançar.
Que esta tenda continue a crescer. Aos outros cardeais e bispos, dizemos: Ousem! Escutem, acompanhem, celebrem. A vida destes sacerdotes com famílias não é uma renúncia, é uma transformação. E nela, a Igreja pode encontrar novas formas de proclamar o Evangelho com ternura, profundidade e verdade. Que a Igreja, como disse o cardeal, seja alimentada pela esperança, pela fé e pelo amor. E que os sacerdotes com famílias sejam reconhecidos não como uma exceção, mas como mais uma expressão viva do Evangelho.
As frases mais relevantes da homilia comovente
A vida como uma tenda
— “Somos como uma tenda… um lar temporário, uma casa provisória.”
— “A tenda costuma ser compartilhada, assim como a nossa vida.”
- “A arquidiocese não é a eternidade… o que é eterno é a casa do coração de Deus.”
— “Gabriel e Clarita construíram uma tenda… seus filhos, Laura e Juan Santiago, cabem nela, e seus netos também caberão.”
Peregrinação existencial e comunidade
— “Estamos em peregrinação e a esperança nos sustenta.”
— “Enquanto pudermos sonhar, estaremos no caminho para a eternidade.”
— “Caminhemos como membros do povo de Deus, aprendendo uns com os outros.”
— “Com essa comunidade, com essa tenda que é a nossa comunidade, todos nós crescemos em amizade, em fraternidade, em amor pleno.”
Misericórdia como a face de Deus
— “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.”
— “Seu nome é misericórdia, e a sua misericórdia dura para sempre.”
— “Deus nos trata com misericórdia… e Jesus diz: bem-aventurados os que são como Deus.”
— “Se toda a nossa vida for repleta de misericórdia… viveremos até a morte com alegria.”
Gabriel como arquipreste e testemunha
— “Gabriel era um arquipreste… talvez o Senhor precisasse dele ali.”
— “Obrigada, Clarita, por ter um coração feminino, misericordioso, compreensivo e fiel.”
— “Gabriel fez uma peregrinação… e vocês, seus filhos, fizeram uma peregrinação com ele.”
— “Eis-me aqui, Senhor, tu me trataste com misericórdia e estou pronto, quando quiseres, onde quiseres e como quiseres.”
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