15 Outubro 2025
"É evidente que, no livro de Giordana, muitas perguntas parecem exceder as respostas e abrem cenários ainda a serem explorados. Afinal, uma teologia cristã do judaísmo, seja pequena ou grande, quando historicamente honesta, é composta mais de questões em aberto do que de certezas e afirmações apodíticas", escreve Massimo Giuliani, em artigo publicado por Avvenire, 14-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Um livro de Emanuele Giordana entrelaça a escuta de rabinos, filósofos e escritores com reflexões sobre questões como a cristologia e a relação entre os livros sagrados. Hoje, não há reflexão cristã, seja teológica ou pastoral, sobre judeus e judaísmo que não comece de a declaração conciliar Nostra Aetate, promulgada há exatamente sessenta anos. O objetivo principal dessas novas pesquisas e elaborações é demonstrar como a fé cristã não apenas não rejeita, ou seja, não pode rejeitar, suas raízes históricas, que afundam nos textos bíblicos de Israel e, em parte, na própria tradição farisaica, mas, na verdade, compreende melhor a sim mesma à luz da tradição judaica, conseguindo reconhecer sem inveja ou arrogância que a vitalidade contemporânea do povo judeu atesta uma fidelidade autêntica à aliança que se desenvolveu desde Abraão em diante, em cada geração, até os dias atuais.

Livro de Emanuele Giordana. (Foto: Editrice Queriniana/Reprodução)
O recente estudo de Emanuele Giordana, "Piccola teologia cristiana dell'ebraismo" (Queriniana), é uma síntese precisa e honesta do difícil status quaestionis em que se encontra o pensamento cristão, e especialmente a reflexão católica, a esse respeito. A escolha dos autores com os quais se confrontar revela a plena consciência de que, após desmontagens e remoções, a reconstrução de uma teologia cristã do judaísmo (sobre os escombros da "teoria da substituição") apenas começou, e para quem está de fora ainda parece um laboratório, ou melhor, uma sala de concertos onde todos os músicos estão afinando e testando simultaneamente seus instrumentos. Mas não se trata de uma cacofonia. Metáforas à parte, os capítulos desse livro são uma tentativa de harmonizar visões diversificadas da relação entre cristianismo e judaísmo, entre as variegadas confissões do primeiro e a quase anárquica pluralidade do segundo, para a qual mal cabe até mesmo a definição de "religião". Daí a decisão de Giordana de dedicar a primeira parte do livro à escuta de doze pensadores judeus, rabinos e outros, teólogos e filósofos, incluindo também uma voz diferente, como a de Primo Levi. De fato, o confronto e o diálogo inter-religiosos são construídos a partir do conhecimento da identidade e da trajetória alheia, especialmente daqueles que já construíram pontes entre a margem judaica e aquela cristã, de modo que essas reflexões teológicas sejam conduzidas "em ressonância", se não mesmo "na escuta" de Israel (para usar uma expressão cara ao Padre Pierre Lenhardt).
A segunda parte do livro entrelaça, então, três linhas ou planos de pesquisa. De uma primeira linha hermenêutica, centrada nos problemas da relação entre Bíblia hebraica e Novo Testamento, emergem temas-chave, como o cumprimento (ou não) das Escrituras e a superação de uma exegese tipológica, questões preliminares para acessar todos os outros níveis. Em um plano mais teológico, o livro busca formular um novo reconhecimento do valor religioso permanente da aliança divina com Israel, na esteira de uma fidelidade histórica que desafiou séculos de sofrimentos e perseguições. O tema da aliança inclui o da eleição e do testemunho ad gentes, isto é, para os não judeus. Por fim, uma terceira linha de investigação é de tipo cristológico, reexaminando a relação entre o Jesus judeu e a Torá e o conceito de Messias em relação às diversas, ou ausentes, explicitações do messianismo no contexto judaico.
É evidente que, no livro de Giordana, muitas perguntas parecem exceder as respostas e abrem cenários ainda a serem explorados. Afinal, uma teologia cristã do judaísmo, seja pequena ou grande, quando historicamente honesta, é composta mais de questões em aberto do que de certezas e afirmações apodíticas.
O esforço para sintetizar e ponderar meticulosamente a história das ideias religiosas aqui expressas é louvável, incluindo aquele neomarcionismo que parece estar de volta em certos círculos religiosos, às vezes uma expressão velada de compadecimento por aqueles que não podem ser recuperados para a verdadeira fé. Obviamente, exceto por monitorar os efeitos negativos que o desprezo antijudaico lhes causa, os judeus não querem interferir nessas elaborações, que essencialmente dizem respeito à autoconsciência das Igrejas cristãs. Mas sendo “objeto de reflexão”, não raro reagem quando as representações que o mundo cristão faz do judaísmo entram em conflito com a autoconsciência que os judeus têm de si mesmos.
No entanto, também seria injusto não recordar as memórias positivas, ainda que poucas, que viram a implementação de uma lógica de interação, reconhecimento e respeito de mútua estima, especialmente no plano do estudo exegético das Escrituras comuns. Seria muito fácil apontar que, nos autores cristãos aqui discutidos, a reflexão sobre o judaísmo continua a ignorar aquele perene elemento da identidade judaica que é o vínculo com a terra de Israel, que deve ser explicitado não apenas em sentido religioso, mas também político, como se o componente sionista-estatal da vida judaica atual fosse totalmente desprovido de valor religioso. Mas para uma obra prima como esse livro de Giordana vale o encorajamento para "buscar ainda mais".
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