15 Outubro 2025
"Falo de Desorientação gerada pela era da tecnologia, pois a tecnologia não tende a um propósito, não promove um sentido, não abre cenários de salvação, não redime, não revela a verdade: a tecnologia 'funciona'", escreve Umberto Galimberti, filósofo, antropólogo e psicólogo italiano, em artigo publicado por La Repubblica, 14-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Vivemos em uma desorientação ética e política, onde passado e futuro não fazem mais sentido.
Alessandro Baricco levantou uma questão fundamental no "Repubblica". O século XX realmente acabou? Entramos de fato em uma nova era? Sua resposta é sim. O século XX já é um "animal moribundo", mas imediatamente acrescenta que não há nada mais perigoso do que um animal moribundo. De fato, acreditar que a guerra é uma solução, que o sofrimento e a morte de civis são um preço, afinal das contas, aceitável, que imperialismo e colonialismo ainda estão em curso e devem ser perseguidos, mesmo que de outras formas, que nacionalismo e culto das fronteiras são valores irrenunciáveis — todos esses são traços típicos da cultura novecentista: as patadas de um animal moribundo. No entanto, algo de novo se anuncia se considerarmos simplesmente que os massacres em Gaza, a carestia induzida e a fome usada como arma de guerra trouxeram às ruas jovens que nunca conheceram o século XX e que, como nativos digitais, pertencem a uma cultura que derruba fronteiras e territórios, fazendo-os perder sua consistência e, com ela, a razão de ser das guerras do século XX.
Acredito que a novidade do novo século traz à sua máxima expressão o que havia sido preparado na segunda metade do século XX, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Essa novidade se chama Desorientação e consiste na absoluta impossibilidade de encontrar o sentido do tempo, de uma época e até mesmo da própria vida. Uma condição que a humanidade ocidental, até onde sabemos, nunca experimentou. Os Gregos, de fato, tinham como horizonte de sentido a Natureza, que, segundo Heráclito, é aquele "fundo imutável que nenhum homem e nenhum deus criou. Sempre foi, é e será". Ao contemplar a natureza, o homem pode descobrir as leis que a governam e construir uma cidade e um modo de vida segundo a natureza.
A tradição judaico-cristã, segunda raiz do Ocidente, tem como horizonte de sentido a "Palavra de Deus" que inscreve o tempo num plano de salvação. E quando o tempo é inscrito num plano, nasce a História, que prevê o passado como mal (pecado original), o presente como redenção e o futuro como salvação. A ciência pensa da mesma forma: o passado é ignorância, o presente é pesquisa, o futuro é progresso. Cristianismo laicizado. Até Marx pode ser considerado um cristão, pois acredita que o passado é injustiça social, o presente exige a explosão das contradições do capitalismo e o futuro justiça na Terra. Também Freud, que escreveu um livro contra a religião (O Futuro de uma Ilusão), acredita que traumas, neuroses e psicoses têm suas origens no passado (infância), no presente a terapia e no futuro a cura.
Tudo é cristão no Ocidente, porque o cristianismo não é apenas uma religião, mas uma cultura, uma forma de pensar projetada no futuro, capaz de trazer remédios para os males do presente.
No século XVII, com o nascimento do método científico, inaugura-se a era moderna, estabelecendo a Razão como horizonte de sentido, que deve emancipar-se das superstições, da religião e de opiniões difundidas, mas infundadas, culminando no convite de Kant, em época iluminista, "sapere aude": tenha a coragem de alcançar o conhecimento com as ferramentas da razão. O lema da era moderna é "quem pensa bem faz o bem", mas, como nos lembra Miguel Benasayag, "o nazismo demonstrou que também o mal pode ser pensado de maneira excelente".
O fim da era moderna e o nascimento da era pós-moderna, que chamo de "era da tecnologia", porque é precisamente na segunda metade do século XX que a tecnologia confirma o teorema de Hegel, segundo o qual, quando um fenômeno aumenta quantitativamente, não apenas temos um aumento quantitativo desse fenômeno, mas também uma mudança qualitativa radical da paisagem. Podemos nem sentir um terremoto de dois graus na escala de Mercalli, enquanto um aumento quantitativo na intensidade do terremoto transforma qualitativamente a paisagem em uma pilha de escombros.
Hoje, a tecnologia, devido ao seu aumento quantitativo, não é mais um "meio" à disposição do homem, como comumente se acredita, mas sim um "mundo", e o conceito de "meio" é radicalmente diferente do conceito de "mundo". Quando a tecnologia era modesta, o homem estabelecia objetivos e buscava os meios técnicos para alcançá-los. Hoje, devido ao seu aumento quantitativo, a tecnologia não é mais um "meio", mas sim o primeiro "fim" a ser alcançado e aperfeiçoado, pois todos os objetivos que os homens podem estabelecer para si mesmos não podem ser alcançados exceto por meio da mediação técnica. Dessa forma, a tecnologia substitui o homem, pois o homem só pode escolher seus objetivos dentro das possibilidades que a tecnologia disponibiliza.
Falo de Desorientação gerada pela era da tecnologia, pois a tecnologia não tende a uma propósito, não promove um sentido, não abre cenários de salvação, não redime, não revela a verdade: a tecnologia "funciona" e, como seu funcionamento se tornou planetário, devemos rever desde as bases os conceitos humanísticos de indivíduo, identidade, liberdade, salvação, verdade, sentido, propósito, mas também aqueles de natureza, ética, política, religião, história, de que se nutria a era pré-tecnológica e que agora deverão ser reconsiderados, abandonados ou restabelecidos desde a raiz.
A tecnologia não visualiza a natureza como nossa moradia, mas como matéria-prima a ser explorada, como diz Heidegger, até a exaustão. Ou como Max Weber dizia há um século: esse consumo descontrolado continuará "até que tenhamos consumido a última tonelada de combustível fóssil".
Na era da tecnologia, a ética se torna patética, pois como pode impedir a tecnologia que pode, de não fazer o que pode? Pode invocar ou atrasar por algum tempo a aplicação de descobertas tecnológicas, mas de forma alguma as impedir. A política, que Platão chamava de "técnica régia" porque, enquanto as tecnologias sabem como fazer as coisas, a política decide se e por que elas devem ser feitas, na era da tecnologia não é mais o lugar da tomada de decisões.
A política para decidir olha a economia, que por sua vez não é a última instância da decisão, pois, para seus investimentos, olha as inovações tecnológicas; assim, a instância decisória passa para a tecnologia, que, como vimos, não tem propósitos. Poder-se-ia dizer da tecnologia o que Nietzsche dizia da vontade de poder: "O que quer a vontade de poder? Quer a si mesma." O que quer a tecnologia? Quer apenas sua própria potencialização. A tecnologia tornou, e tornará cada vez mais, o homem a-histórico, porque a história é uma narrativa onde os eventos são inscritos em uma trama de sentido, enquanto, em relação à memória histórica, a memória técnica é apenas "procedural" e, portanto, traduz o passado na insignificância do "ultrapassado" e atribui ao futuro o simples significado de aperfeiçoamento de seus procedimentos. Os Gregos, que inauguraram a ética do limite ("quem conhece seu limite não teme o Destino"), acorrentaram Prometeu, que havia trazido a tecnologia aos homens, transformando-os, como escreve Ésquilo, "de indefesos e mudos em donos de suas próprias mentes".
Nós, porém, como afirma com razão Gadamer, o "libertamos". E se para os antigos a imprevisibilidade que causava angústia era atribuível a uma falta de conhecimento, hoje, para nós, depende do excesso das nossas capacidades de fazer, imensamente superior às nossas capacidades de prever os efeitos do nosso fazer. E assim nos movemos como cabras-cegas.
Essa condição de desorientação foi preparada na segunda metade do século XX, se é verdade que Günther Anders, um aluno judeu de Heidegger que, para escapar da perseguição nazista, havia se mudado para os Estados Unidos, onde foi trabalhar na Ford para poder sobreviver, escrevia ao seu professor na década de 1940: "O senhor me ensinou que o homem é o pastor do ser. Aqui na Ford, eu sou o pastor das máquinas, e posso lhe garantir que, na relação homem-máquina, a condução já passou para a máquina."
É por isso que, coerentemente, Günther Anders publicará em 1956 o primeiro volume sobre o tema, intitulado "O Homem é Antiquado", seguido pelo segundo volume em 1963, enquanto seu mentor Heidegger, em entrevista concedida ao Der Spiegel em 1966, afirmará: "Não precisamos de bombas atômicas, o desenraizamento dos homens é um fato. Temos apenas puras relações técnicas. Não há um só canto da Terra em que o homem, hoje, possa viver".
Essas datas que relatamos nos dizem que o primeiro século do novo milênio nada mais fez do que levar à sua máxima expressão o que havia sido preparado na segunda metade do século XX.
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