26 Agosto 2025
"Na segunda-feira, 25 de agosto de 2025, famílias Kaingang oriundas de Farroupilha (RS), município próximo a Canela, foram atacadas pelo pelotão de choque da Brigada Militar enquanto vendiam seus artesanatos ao lado da catedral. A mando da administração municipal - a mesma que não admite a presença dos Kaingang - os policiais agiram com extrema truculência".
A nota é do Conselho Indigenista Missionário - Cimi Sul, 25-08-2025.
Eis a nota.
O Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul (Cimi Sul) vem, por meio desta nota, manifestar seu mais veemente repúdio aos episódios de violência, discriminação e racismo praticados contra famílias indígenas no município de Canela, na Serra Gaúcha, no dia 25 de agosto de 2025.
O município de Canela, na Serra do Rio Grande do Sul, destaca-se pelo turismo. Seus administradores e empresários utilizam as belezas naturais para atrair multidões de pessoas do Brasil e do mundo.
No entanto, o turismo da Serra, que se apresenta como gastronômico e ecológico, tornou-se também burguês e elitista. Ou seja, o pobre, quando inserido nesse contexto, é utilizado apenas como mão de obra barata a serviço dos ricos.
Além de voltado quase que exclusivamente às elites, esse turismo é excludente e racista. É excludente porque os pobres não têm espaço, salvo em áreas periféricas, onde os turistas não vão e muitas vezes sequer sabem da existência. É, acima de tudo, racista, porque não permite que os povos originários - Kaingang, Xokleng, Guarani e Charrua - exerçam suas atividades culturais, religiosas e comerciais. Não há lugar para os Povos Indígenas, nem mesmo diante ou ao lado da catedral da cidade, que deveria ser a casa de Deus, espaço de acolhida e oração. Na prática, porém, a catedral é utilizada por turistas que desejam apreciar sua estrutura e tirar fotografias para postar nas redes sociais.
Há muitos anos, os indígenas buscam abrir caminhos pacíficos e conquistar possibilidades seguras para a venda de suas artes, artesanatos e outros produtos. Entretanto, seguem sendo reprimidos e enxotados de um lugar para outro.
Não foram poucas as vezes em que os Kaingang tiveram seus pertences apreendidos e retidos por fiscais da prefeitura de Canela (RS). Também, sob ordem dos administradores municipais, foram agredidos e expulsos da cidade.
O Ministério Público Federal (MPF) já propôs uma série de medidas para garantir acolhimento aos indígenas que vivem na região, bem como aos que se deslocam de outros municípios para comercializar seus produtos. Todavia, a intolerância tem se revelado como prática recorrente entre gestores do turismo, que aceitam de bom grado apenas aqueles que pertencem às elites.
Na segunda-feira, 25 de agosto de 2025, famílias Kaingang oriundas de Farroupilha (RS), município próximo a Canela, foram atacadas pelo pelotão de choque da Brigada Militar enquanto vendiam seus artesanatos ao lado da catedral. A mando da administração municipal - a mesma que não admite a presença dos Kaingang - os policiais agiram com extrema truculência.
O indígena Silvério Ribeiro foi brutalmente agredido com joelhadas, pontapés e socos desferidos por policiais, que o jogaram ao chão e o algemaram com violência desmedida. Um vídeo que circula nas redes sociais comprova a desproporção no uso da força, caracterizando a ação como cruel e covarde.
O Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul, repudia veementemente a violência, o preconceito, a discriminação e o racismo evidenciados na ação policial contra as famílias indígenas.
O Cimi Sul também questiona a Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado do Rio Grande do Sul: seria função da Brigada Militar reprimir pessoas que comercializam seus produtos artesanais? Essa é a missão destinada aos brigadianos?
O Cimi Sul requer, neste momento, que o Ministério Público Federal adote medidas urgentes para que essa ação desproporcional seja apurada de forma rigorosa e que os responsáveis sejam devidamente identificados e responsabilizados, civil e criminalmente.
Turismo e racismo são a combinação cruel de uma sociedade desleal, excludente e violenta. Que tais práticas sejam duramente enfrentadas, combatidas e reprimidas. Elas não podem ser naturalizadas, tampouco padronizar comportamentos e relações entre pessoas e povos. Que o respeito às diferenças e às liberdades prevaleça, para o bem viver em uma sociedade plural.
Chapecó (SC), 25 de agosto de 2025,
Conselho Indigenista Missionário
Regional Sul
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