31 Julho 2025
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 30-07-2025.
Dezenas de milhares de jovens lotaram a Praça São Pedro para participar da audiência de quarta-feira com o Papa. Antes da audiência, Leão XIV caminhou pela Praça São Pedro em meio a aplausos, gritos e faixas da juventude. Há um fervor na aclamação do novo Pontífice por parte daquela que, há anos, se autodenomina a "Juventude do Papa".
Ágil e em boa forma, o líder católico pega bandeiras, bonés, bichos de pelúcia, camisetas e todo tipo de objeto que os jovens animados jogam nele , além de cumprimentar e abençoar as crianças e aplaudir as próprias crianças.
Após o banho de multidões, Leão XIV glosa o texto do Evangelho em que Jesus diz "effetá" (justamente quando, na Espanha, esse movimento está sendo questionado pelas ações de suas promotoras, as Filhas do Amor Misericordioso) a um surdo-mudo.
Depois de reconhecer que "nosso mundo está atormentado por um clima de violência e ódio que mortifica a dignidade humana" e que "vivemos em uma sociedade que está adoecendo com uma 'bulimia' de conexões nas redes sociais", ele pediu aos jovens presentes que se comunicassem "com honestidade e prudência", para "não ferir os outros com nossas palavras".
Queridos irmãos e irmãs,
Com esta catequese concluímos nosso percurso pela vida pública de Jesus, feita de encontros, parábolas e curas.
Este tempo em que vivemos também exige cura. Nosso mundo está tomado por um clima de violência e ódio que mortifica a dignidade humana. Vivemos em uma sociedade adoecida por uma "bulimia" de conexões nas mídias sociais: estamos hiperconectados, bombardeados por imagens, às vezes até falsas ou distorcidas. Somos inundados por múltiplas mensagens que despertam em nós uma tempestade de emoções contraditórias.
Nesse cenário, o desejo de desligar tudo pode surgir dentro de nós. Podemos preferir não sentir nada. Nossas palavras também correm o risco de serem mal interpretadas, e podemos ser tentados a nos isolar no silêncio, numa falta de comunicação onde, por mais próximos que estejamos, não conseguimos mais compartilhar as coisas mais simples e profundas.
A este respeito, gostaria de me deter hoje numa passagem do Evangelho de Marcos que nos apresenta um homem que não fala nem ouve (cf. Mc 7,31-37). Precisamente como nos poderia acontecer hoje, este homem talvez tenha decidido calar-se porque não se sentia compreendido e silenciar toda a voz porque se sentia desiludido e magoado com o que tinha ouvido. De fato, não é ele quem vem a Jesus para ser curado, mas outros que o levam. Poder-se-ia pensar que aqueles que o conduzem ao Mestre são aqueles preocupados com o seu isolamento. No entanto, a comunidade cristã também viu nestas pessoas a imagem da Igreja, que acompanha cada ser humano até Jesus para que ouça a sua palavra. O episódio decorre num território pagão, pelo que nos encontramos num contexto em que outras vozes tendem a abafar a de Deus.
O comportamento de Jesus pode parecer estranho à primeira vista, pois ele chama essa pessoa de lado (v. 33a). Isso parece enfatizar seu isolamento; mas, em uma análise mais aprofundada, esse gesto nos ajuda a entender o que está por trás do silêncio e do retraimento desse homem, como se ele tivesse compreendido sua necessidade de intimidade e proximidade.
Jesus lhe oferece, sobretudo, uma proximidade silenciosa, através de gestos que falam de um encontro profundo: toca os ouvidos e a língua deste homem (cf. v. 33b). Jesus não usa muitas palavras; diz a única coisa necessária naquele momento: "Abre-te!" (v. 34). Marcos reproduz a palavra aramaica, "efatà", quase para nos fazer sentir o som e a respiração "vivos". Esta palavra simples e bela contém o convite que Jesus dirige a este homem que deixou de ouvir e de falar. É como se Jesus lhe dissesse: "Abre-te a este mundo que te assusta! Abre-te às relações que te desiludiram! Abre-te à vida da qual desististe!" Fechar-se, de facto, nunca é uma solução.
Após o encontro com Jesus, essa pessoa não apenas volta a falar, mas o faz "normalmente" (v. 35). Este advérbio inserido pelo evangelista parece querer nos dizer algo mais sobre os motivos do seu silêncio. Talvez esse homem tenha parado de falar porque sentiu que estava dizendo coisas erradas, talvez não se sentisse adequado. Todos nós passamos pela experiência de sermos incompreendidos e nos sentirmos incompreendidos. Todos nós precisamos pedir ao Senhor que cure nossa maneira de nos comunicar, não apenas para sermos mais eficazes, mas também para evitarmos ferir os outros com nossas palavras.
Voltar a falar "normalmente" é o início de uma jornada; ainda não é o fim. De fato, Jesus proíbe este homem de falar sobre o que lhe aconteceu (cf. v. 36). Para conhecer verdadeiramente Jesus, precisamos percorrer um caminho; precisamos estar com Ele e também vivenciar a Sua Paixão. Quando O tivermos visto humilhado e sofrendo, quando tivermos experimentado o poder salvador da Sua Cruz, então podemos dizer que O conhecemos verdadeiramente. Não há atalhos para nos tornarmos discípulos de Jesus.
Caros irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor que aprendamos a comunicar com honestidade e prudência. Rezemos por todos aqueles que foram feridos pelas palavras dos outros. Rezemos pela Igreja, para que ela nunca falhe em sua tarefa de levar as pessoas a Jesus, para que ouçam a sua Palavra, sejam curadas por ela e se tornem, por sua vez, portadoras da sua mensagem de salvação.
Queridos irmãos e irmãs,
Nesta catequese final dedicada à vida pública de Jesus, refletimos sobre a passagem evangélica da cura do surdo. Este doente, que não podia falar nem ouvir, foi levado por outros à presença de Jesus. Neste gesto de fraternidade, podemos ver a imagem da Igreja, que acompanha a todos em seu encontro com o Senhor.
Vemos nesta história que Jesus oferece aos surdos uma proximidade silenciosa, faz gestos significativos e profere uma única palavra: "Efatá", que significa "Abre-te". Esta palavra é um convite não para nos retrairmos ou isolarmos, mas para nos comunicarmos e nos relacionarmos com os outros de uma nova maneira.
No mundo “hiperconectado” de hoje, tão frequentemente bombardeado por imagens e mensagens que provocam emoções conflitantes, e podemos ser tentados a nos fechar em nós mesmos, o Evangelho nos convida a uma comunicação mais profunda com Deus e com os irmãos.
Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola, especialmente os numerosos grupos de jovens aqui reunidos para o Jubileu da Juventude. Rezemos hoje de modo especial pela Igreja, para que ela nunca deixe de levar as pessoas ao encontro do Senhor, para que ouçam a sua Palavra, curem as suas feridas e sejam também mensageiros da Boa Nova. Que Deus os abençoe. Muito obrigado.