17 Junho 2025
A oração e a meditação, ao longo daquela trajetória ininterrupta que o levou das ruas do Queens, em Nova York, aos palcos mais prestigiosos do mundo, ajudam Martin Scorsese a olhar para uma realidade que não lhe agrada nem um pouco e que não oferece nenhuma resposta positiva sobre o futuro do seu país e do mundo: "Não me dedico à filosofia política — declara o autor, premiado ontem à noite, no Teatro Antico, com o Prêmio Taormina pelo Conjunto da Obra —, mas o fato de Donald Trump ter sido eleito pela segunda vez foi uma grande decepção. Continuo me perguntando o que é importante para o ser humano e vejo que, nesse governo, falta completamente a compaixão. Aliás, parece-me que esse governo tem prazer em ferir e humilhar as pessoas. Uma atitude desse tipo por parte de quem tem a tarefa de liderar os Estados Unidos é contraproducente, mesmo para quem a implementa”.
A entrevista com Martin Scorsese é de Fulvia Caprara, publicada por La Stampa, 13-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Estamos testemunhando os protestos contra o ataque antimigrantes em Los Angeles. Mais uma vez, a nação, cujas origens você descreveu em filmes como "Gangues de Nova York", está no centro de episódios de violência e discriminação. Por quê?
O que está acontecendo me preocupa bastante. Com o ódio e a raiva, não se ganha nada, só se causa sofrimento às pessoas, e isso é profundamente trágico. Infelizmente, a história se repete. Os confrontos que estão ocorrendo nestes últimos dias são semelhantes aos do passado, que ocorreram em tantos lugares do mundo, em Alexandria, no Egito, como na Sicília. Quando pessoas novas, percebidas como diferentes, tentam se integrar entrando em comunidades já formadas, as disputas sempre acontecem, o caos é inevitável. Parece que, na ausência de conflito, a inclusão é impossível. Há uma divisão muito forte no país, semelhante à da Guerra Civil de 1861”. Como ítalo-americano, portanto, como alguém que cresceu na comunidade de imigrantes italianos que havia se estabelecido em Manhattan, como acredita que a situação evoluirá?
A convivência de diferentes grupos étnicos sempre causou problemas. Em Gangues de Nova York, os católicos irlandeses entravam em conflito com os protestantes anglo-saxões e nacionalistas, mas também me vem à mente West Side Story, onde a batalha via jovens brancos contra jovens porto-riquenhos. Amalgamar, superar as respectivas diferenças, parecia impossível e, além disso, todos os conflitos e todas as divisões acabam recaindo sobre as gerações subsequentes e, portanto, se prolongando no tempo".
Considera que a democracia nos EUA está em perigo?
Sim, às vezes tenho essa sensação, mas depois digo a mim mesmo que talvez esteja passando por uma fase em que está sendo posta à prova.
Quais poderiam ser os resultados da política de Trump?
Acho que há dois pontos principais. O primeiro é ver quanto poder o presidente consegue exercer, quanto seria possível trabalhar para controlá-lo, quanto tempo tudo isso poderá durar. O segundo é entender por quanto tempo as pessoas estão dispostas a tolerar políticas que poderiam ter custos sociais e econômicos muito altos, como aquelas tarifárias, por exemplo. Todas escolhas exatamente opostas as que eu votaria.
Um papa americano acaba de ser eleito. Esperava por isso?
De jeito nenhum, e o fato de ele ser estadunidense não me chama tanto a atenção. O Papa deve ser o Papa de todos, assim como acontecia com o Papa Francisco. Quando pensava nele, não me ligava que ele era argentino, eu o via sobretudo como um Papa capaz de abraçar toda a humanidade, todos os fiéis espalhados pelo globo.
Qual sua impressão do Papa Leão XIV?
Tenho grandes esperanças nele, acredito muito nele e acho que ele poderia ter a abordagem certa para o que está acontecendo no mundo. Gostei muito do fato de, em seu discurso de posse, ele ter falado de paz, embora eu acredite que um pontífice deva se ocupar, é claro, com os problemas das pessoas, mas também com aquela que é a esfera pessoal e espiritual de cada um de nós.
A fé religiosa é um dos temas centrais de sua inspiração artística. Continua ainda agora?
Sim, o cinema e a igreja são duas presenças fundamentais na minha existência. Eles respondem à minha busca constante pela verdade. Eu tinha diante dos meus olhos um mundo horrível, cheio de violência, gângsteres, crime organizado, apenas a oração e a religiosidade poderiam oferecer uma perspectiva de redenção. Além disso, o cinema tira você da solidão, do isolamento, torna as pessoas melhores.
Entre os desafios mais recentes que o ser humano está enfrentando há o da inteligência. Inteligência Artificial. O que pensa a respeito?
Para mim, IA pode significar muitas coisas, mas mesmo assim não consigo entender exatamente o que podemos fazer com ela. Certamente pode ajudar a eliminar etapas no processo de produção. Mas há também uma questão filosófica e cultural. Onde o ser humano vai parar em tudo isso?