06 Junho 2025
Os dados acima integram o estudo “Brasil como líder mundial em produção de soja: até quando e a que custo?”, que será lançado no próximo dia 10 (terça-feira) pelo Instituto Escolhas. O estudo mostra que o atual modelo de produção da soja corrói a rentabilidade dos produtores brasileiros.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 05-06-2025.
Em 1993, os produtores brasileiros usavam 1 kg de agrotóxico para produzir 23 sacas de soja. Em 2023, a mesma quantidade do insumo foi suficiente para produzir apenas sete sacas. Padrão semelhante ocorreu com os fertilizantes (fósforo e potássio). Em 1993, uma tonelada de fertilizantes produzia 517 sacas de soja, quantidade que caiu para 333 sacas em 2022.
O total de agrotóxicos utilizados na produção da soja no Brasil passou de 16 mil toneladas (1993) para 349 mil toneladas (2023), um aumento de 2019%. No caso dos fertilizantes, foram usadas 728 mil toneladas na produção do grão em 1993, contra 6 milhões de toneladas em 2022, um crescimento de 734%.
Maior produtor mundial de soja desde 2019, quando superou os Estados Unidos, o Brasil baseia sua liderança em um modelo de produção que depende do uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes e que se mostra cada vez mais ineficiente e insustentável, tanto econômica quanto ambientalmente. Entre os cinco maiores produtores de soja do mundo, o Brasil é o que mais usa agrotóxicos e fertilizantes por hectare.
O protagonismo global do Brasil, que deve bater o recorde de 168 milhões de toneladas de soja na safra 2024/2025, se explica mais pelo aumento do uso de insumos (agrotóxicos e fertilizantes) e da área plantada do que da produtividade. Entre 1993 e 2023, a área plantada de soja saltou de 11 milhões para 44 milhões de hectares, crescimento de 5% ao ano. A produtividade aumentou bem menos, 2% ao ano – era de 2.120 kg de soja por hectare e passou para 3.423 kg por hectare.
Os dados acima integram o estudo “Brasil como líder mundial em produção de soja: até quando e a que custo?”, que será lançado no próximo dia 10 (terça-feira) pelo Instituto Escolhas. O estudo mostra que o atual modelo de produção da soja corrói a rentabilidade dos produtores brasileiros.
“O produtor usa cada vez mais agrotóxicos e fertilizantes para produzir cada vez menos soja. Isso afeta sua renda, que também é impactada pelo aumento de preço desses insumos”, afirma Jaqueline Ferreira, diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas e coordenadora do estudo. Em 1993, bastavam 11 sacas de soja para o produtor pagar os custos com sementes, agrotóxicos e fertilizantes. Em 2023, ele precisou de 23 sacas de soja para dar conta dessas despesas.
O estudo do Instituto Escolhas mostra que a promessa que acompanhou o lançamento das sementes transgênicas de soja no final da década de 1990, de que elas ajudariam no controle de pragas e na redução do uso de pesticidas, não se cumpriu. “A realidade é que a disseminação de sementes transgênicas foi acompanhada do aumento do uso de agrotóxicos”, afirma Jaqueline Ferreira. Hoje, 93% das sementes usadas na produção de soja no Brasil são transgênicas.
O Brasil é líder mundial em uso de agrotóxicos. Segundo dados mais recentes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, 2022), o país foi responsável por 22% de todo o volume global de agrotóxicos utilizados na agricultura. Na comparação com os cinco maiores produtores de soja, o Brasil também se destaca com os piores números em termos de eficiência do uso do insumo por hectare de terras cultivadas (todas as culturas): 12,63 kg/ha de agrotóxicos no Brasil, 5,94 kg/ha na Argentina, 3,02 kg/ha nos Estados Unidos, 1,76 kg/ha na China e 0,24 kg/ha na Índia.