A arte de viver pelo Espírito de Deus. Comentário de José Antonio Pagola

Foto: Nowshad Arefin/Unsplash

06 Junho 2025

A reflexão é elaborada pelo teólogo espanhol José Antonio Pagola, comentando o evangelho do Pentecostes, ciclo C do Ano Litúrgico, que corresponde ao texto bíblico de João 20,19-23, publicada por Religión Digital, 02-06-2025.

Eis o texto.

Os cristãos nunca se sentiram órfãos. O vazio deixado pela morte de Jesus foi preenchido pela presença viva do Espírito do Senhor Ressuscitado. Este Espírito do Senhor preenche a vida do crente. O Espírito da verdade, que vive conosco, está dentro de nós e nos ensina a arte de viver na verdade.

O que molda a vida de um verdadeiro crente não é o desejo de bem-estar, nem a luta pelo sucesso, nem mesmo a obediência a um ideal, mas a busca alegre da verdade de Deus sob o impulso do Espírito.

O verdadeiro crente não cai no legalismo ou na anarquia, mas busca a verdade com um coração puro. Sua vida não é programada por proibições, mas é animada e positivamente impulsionada pelo Espírito.

Quando vivemos essa experiência do Espírito, os crentes descobrem que ser cristão não é um fardo que oprime e atormenta a consciência, mas sim deixar-se guiar pelo amor criador do Espírito que vive em nós e nos capacita a viver com uma espontaneidade que nasce não do nosso egoísmo, mas do amor. Uma espontaneidade na qual renunciamos aos nossos interesses egoístas e nos entregamos à alegria do Espírito. Uma espontaneidade que é regeneração, renascimento e reorientação contínua para a verdade de Deus.

Esta nova vida no Espírito não significa apenas uma vida interior de piedade e oração. A verdade de Deus gera em nós um novo modo de vida, que se opõe ao modo de vida que brota da mentira e do egoísmo. Vivemos numa sociedade onde a mentira se chama diplomacia; a exploração, negócios; a irresponsabilidade, tolerância; a injustiça, ordem estabelecida; o sexo, amor; a arbitrariedade, liberdade; e o desrespeito, sinceridade.

Esta sociedade dificilmente consegue compreender ou aceitar uma vida moldada pelo Espírito. Mas é este Espírito que defende o crente e o conduz à verdade, libertando-o das mentiras sociais, da farsa e da intolerância do nosso egoísmo.

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