"Poderíamos percorrer muitos caminhos para refletir sobre esta conhecida página do Evangelho e as demais leituras que a acompanham na liturgia da Epifania. Dentre eles, gostaria de convidar vocês a que adentremos nesta cena bíblica sob a luz do Ano Jubilar, inaugurado no último dia 24 de dezembro. Trata-se de um Jubileu Ordinário, celebrado tradicionalmente a cada 25 anos na Igreja Católica, como tempo oportuno de avivamento de nossa fé. Este é o Ano da Esperança, que terminará justamente na Solenidade da Epifania, em janeiro de 2026.
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A reflexão é de Priscila Cirino Teixeira, fmvd. Ela é missionária consagrada da Fraternidade Missionária Verbum Dei. Ela possui graduação em Comunicação Social na UFMG (1999), graduação em Teologia (2006) e o Mestrado em Teologia Sistemática (2020) pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE, onde atualmente é doutoranda em Teologia Sistemática.
Is 60,1-6
Sl 71(72),1-2.7-8.10-11.12-13 (R. cf. 11)
Ef 3,2-3a.5-6
Mt 2,1-12 (Visita dos Magos)
Olá! Saudações a você que nos acompanha aqui no Ministério da Palavra na Voz das Mulheres!
Hoje estamos celebrando a Solenidade da Epifania do Senhor. Ainda caminhando no Tempo de Natal, nós nos encontramos mais uma vez diante do Menino Jesus. Conhecemos bem a narrativa de Mt 2,1-12... Uns magos do Oriente viram uma estrela que lhes indicava o nascimento do “rei dos judeus” e partiram ao seu encontro. Na tentativa de descobrir onde estaria o Menino, pararam em Jerusalém e aí lhes foi informado que o Messias deveria nascer em Belém. A notícia que os peregrinos do Oriente trazem não é recebida como Boa Nova. Em lugar de se alegrarem – nos diz o evangelista Mateus –, “o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém” (v. 3). Guiados pela estrela que tinham visto ainda em sua terra natal, os magos finalmente chegam ao lugar onde Jesus está: “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram” (v. 11).
Poderíamos percorrer muitos caminhos para refletir sobre esta conhecida página do Evangelho e as demais leituras que a acompanham na liturgia da Epifania. Dentre eles, gostaria de convidar vocês a que adentremos nesta cena bíblica sob a luz do Ano Jubilar, inaugurado no último dia 24 de dezembro. Trata-se de um Jubileu Ordinário, celebrado tradicionalmente a cada 25 anos na Igreja Católica, como tempo oportuno de avivamento de nossa fé. Este é o Ano da Esperança, que terminará justamente na Solenidade da Epifania, em janeiro de 2026.
Para ajudar em nossa reflexão, trago aqui alguns trechos da Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025”, publicada pelo Papa Francisco. “Não é por acaso que a peregrinação representa um elemento fundamental de todo o evento jubilar. Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida. A peregrinação a pé favorece muito a redescoberta do valor do silêncio, do esforço, da essencialidade” (n. 5). Essas palavras do Papa nos remetem aos magos do Oriente: eles se puseram a caminho “à procura do sentido da vida”, que acreditavam poder encontrar no Menino, nascido em um povo diferente, distante, provavelmente pouco conhecido para eles.
Em seu trajeto (que, segundo nosso imaginário, inspirado nas palavras de Is 60,6, foi feito em camelos, mas bem poderia ter sido feito a pé), imaginemos como meditariam em silêncio, ou, em outros momentos, conversariam sobre como seria o “rei dos judeus”, que esperavam encontrar. Estariam eles animados? Apreensivos? Inquietos? Duvidosos? Firmes na esperança? Quanto esforço lhes supôs o peregrinar? Quantas coisas terão deixado pelo caminho, porque foram percebidas como desnecessárias, pesadas demais, supérfluas demais? O quanto se conectaram com a essencialidade da Vida, da qual nos fala o Papa, enquanto peregrinavam?
“Também no próximo ano, os peregrinos de esperança não deixarão de percorrer caminhos antigos e modernos para viver intensamente a experiência jubilar” (n. 5). Sendo peregrinas e peregrinos, como vamos caminhando? Vamos animadas/os? Apreensivas/os? Inquieta/os? Duvidosa/os? Firmes na esperança? Quanto esforço nos supõe o peregrinar? Como está nossa conexão com o que é essencial na Vida? Em que direção estamos caminhando?
Voltando à Bula do Ano Jubilar, lemos um trecho que diz: “Deste entrelaçamento de esperança e paciência [que a peregrinação supõe], resulta claro que a vida cristã é um caminho, que precisa também de momentos fortes para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus”. Não percamos, portanto, de vista qual é nossa meta: o encontro com o Senhor Jesus!
Em algum momento de seu caminho, parece que os magos perderam de vista a estrela que os guiava e acabaram dando uma volta por um terreno perigoso, cheio de intrigas e invejas... um ambiente em que ameaças de morte eram facilmente forjadas e levadas a cabo. Eles podiam ter ficado por ali, entretidos com buscas em pergaminhos proféticos, inquirindo sobre como e quando nasceria o tal Messias, rei dos judeus. Mas não foi isso que aconteceu! O rei Herodes foi quem lhes pôs de novo no caminho rumo ao encontro com o Menino Jesus, quando lhes disse: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo” (v. 8). Acho bastante curioso este fato! Quem “empurra” os magos para o encontro com o Messias é justamente aquele que, como sabemos pelo desenrolar da narrativa evangélica, tem más intenções com relação a Jesus.
Muitas vezes a vida é assim... Situações ambíguas, fatos contraditórios, pessoas com intenções tortuosas podem ser também o que nos move na direção do encontro com o Senhor! Nem sempre estamos como os pastores, que recebem anúncios de anjos que cantam “glória” e vão às pressas encontrar Jesus. Tantas vezes nossos caminhos para chegar até a meta – “o encontro com o Senhor Jesus” – se faz por trilhas mais tortuosas, lentas, confusas... que incluem alguma conversa com Herodes, um ou outro desânimo, alguma dúvida sobre o significado das luzes/estrelas que “vemos”... Diz-nos ainda o Papa Francisco: “Muitas vezes encontramos pessoas desanimadas que olham, com ceticismo e pessimismo, para o futuro como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade” (n. 1). São pessoas que conhecemos, pessoas com quem convivemos diariamente, esta pessoa que pode ser você, que posso ser eu...
Podemos nos encontrar num cenário parecido com aquele da primeira leitura da Solenidade de hoje (Is 60,1-6), em que o profeta Isaías diz: “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos” (Is 60,2). Vivemos tempos tenebrosos, difíceis, complexos... E a falta de perspectiva e de um futuro promissor se abate sobre nós, em meio às mudanças climáticas, as muitas guerras em nosso mundo, as sucessivas crises políticas, aos inúmeros problemas sociais de nosso país... Então, o que fazer? Voltemos ao Papa Francisco e ao profeta Isaías: “Que o Jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança!” (n. 1). “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém! Levanta os olhos ao redor e vê!” (Is 60,1.4). Algum movimento de nossa parte, alguma diligência é também necessária para encontrar os caminhos da esperança! Levantar, acender luzes, olhar para o céu para ver estrelas!
E então, seremos gratamente surpreendidas/os, “porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor” (Is 60,1). “E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande” (Mt 2,9-10). Deixemo-nos invadir, nesta solenidade que hoje celebramos, pela luz que vem sobre nós, pela grande alegria que sentimos ao caminhar ao encontro do Senhor Jesus! Confiemos que, mesmo sendo tortuosos os caminhos que percorremos, seremos avisadas/os para corrigir rotas, refazer passos, renovar vias, assim como aconteceu com os magos: “Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2,12).
Já chegando ao final de nossa reflexão, quero ainda recordar que um dos símbolos principais dos Anos Jubilares é a passagem pelas portas designadas como “santas” e que nos dão acesso às graças próprias deste tempo propício, que celebramos como Igreja. Na cena do Evangelho que hoje contemplamos, os magos também cruzaram uma porta, que lhes deu acesso ao encontro com o Menino Jesus, a quem adoraram, oferecendo-lhe presentes. “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11). A porta santa por onde os magos passaram era a porta de uma simples casa... Que neste Ano Jubilar da Esperança encontremos também muitas portas santas por onde passar para encontrar Jesus! Serão elas portas de grandes catedrais e lugares de peregrinação, mas também portas de humildes casas! Do outro lado de cada uma delas o Senhor certamente nos aguarda para nos oferecer o dom da esperança!
Um Santo Ano da Esperança para todos nós!