18 Novembro 2024
Um relatório divulgado durante um evento das Nações Unidas para o Dia Mundial dos Pobres mostra que os esforços para aliviar a pobreza global desaceleraram.
A reportagem é de Camillo Barone, publicada por NCR, 17-11-2024.
O Relatório Anual sobre Pobreza Global do Papa Francisco, publicado pela Universidade Fordham, administrada por jesuítas em Nova York, em 15 de novembro, revela que, após uma breve recuperação da pandemia, permanecem desafios significativos em áreas críticas como segurança alimentar, moradia e liberdades religiosas.
O índice global de pobreza está em 25,8% — praticamente inalterado em relação ao ano anterior. Em regiões como a África Subsaariana, Afeganistão, Haiti e Venezuela, o acesso às necessidades básicas continua severamente limitado. As liberdades espirituais são mais restritas em áreas da Ásia e do Norte da África, segundo o relatório.
“O principal resultado do relatório deste ano é que a recuperação da pandemia, que observamos no ano passado na redução da lacuna da pobreza global, pode ter estagnado”, afirmou Henry Schwalbenberg durante o evento da ONU em que o relatório foi apresentado. Schwalbenberg, professor de economia e desenvolvimento na Universidade Fordham, liderou o relatório deste ano com seus assistentes de pesquisa.
O relatório destaca o Fordham Francis Index — uma medida anual que aborda a pobreza global avaliando as necessidades materiais e espirituais. Inspirado na visão de Francisco sobre a dignidade humana, o índice acompanha o acesso à água potável, alimentos adequados, moradia segura e emprego, além de educação, equidade de gênero e liberdade religiosa. Ele utiliza os dados mais recentes disponíveis de diversas organizações internacionais confiáveis.
Este mapa destaca a distribuição geográfica das pontuações do Índice Fordham Francisco na amostra de 71 países. As pontuações mais baixas estão amplamente concentradas na África e na Ásia. A pontuação global de pobreza está em 25,8%. (Cortesia da Universidade Fordham)
Embora algumas áreas tenham mostrado progresso, como o acesso à água potável e empregos que pagam acima dos níveis de subsistência, outras estagnaram ou pioraram, conforme mostra o relatório. Em particular, o acesso à moradia adequada, à educação básica e à equidade de gênero não apresentou melhorias significativas, e tendências preocupantes persistem na segurança alimentar e nas liberdades espirituais.
Segundo Ana Barragán, bolsista Fulbright do México e assistente de pesquisa do projeto, os dados da Organização Mundial da Saúde e da UNICEF indicam uma queda contínua no número de pessoas sem acesso à água potável. Cerca de 9% da população global — cerca de 700 milhões de pessoas — ainda não têm acesso básico à água limpa.
“Desde 2017, o número de pessoas sofrendo de subnutrição começou a aumentar constantemente”, disse Genevieve Connell, que trabalhou anteriormente com o Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano da ONU para a Mongólia, ao apresentar dados sobre segurança alimentar. “Devido a conflitos e mudanças climáticas, muitos esperam que essa tendência continue a piorar no futuro.”
Em 2024, cerca de 9% da população global não conseguiu atender às suas necessidades alimentares.
Com base em dados da Oxford Poverty and Human Development Initiative, o relatório estima que mais de 1 bilhão de pessoas — ou 17% da população global — vivem em moradias inadequadas. O relatório define isso como estruturas com pisos de terra, telhados faltando ou paredes feitas de materiais improvisados.
Além disso, Connell afirmou que quase um quarto da força de trabalho mundial — cerca de 850 milhões de pessoas — permanece em "trabalho precário". Isso significa que estão desempregados ou ganhando menos de US$ 3,20 por dia, um limite que a Organização Internacional do Trabalho define como insuficiente para sustentar uma vida digna. Embora tenha ocorrido algum progresso após a pandemia, a recuperação desacelerou significativamente, com ganhos mínimos nos últimos anos, de acordo com o relatório.
O relatório também encontrou padrões de declínio nas "liberdades espirituais", incluindo o acesso à educação, à equidade de gênero e à liberdade religiosa.
Barragán também apresentou dados sobre educação, especificamente as taxas de alfabetização de adultos, com base em dados da UNESCO. De 2013 a 2022, ela disse, as taxas de analfabetismo diminuíram, e os dados mais recentes mostraram que 774 milhões de adultos permanecem completamente analfabetos. Essa barreira à educação, especialmente em regiões de baixa renda, limita as oportunidades de mobilidade econômica e desenvolvimento pessoal, afirmou.
Sobre a questão da equidade de gênero, referindo-se ao Índice de Saúde e Sobrevivência do Fórum Econômico Mundial, Connell relatou que, desde 2014, as disparidades de saúde e sobrevivência entre homens e mulheres pioraram. Com aproximadamente metade das mulheres do mundo — cerca de 2 bilhões de pessoas — enfrentando sérios riscos à saúde e sobrevivência devido à discriminação de gênero, o índice destacou a necessidade de mudanças sistêmicas para proteger e promover os direitos das mulheres globalmente.
A liberdade religiosa também sofreu um declínio. Barragán citou dados do Índice de Restrições Governamentais do Pew Research Center, mostrando um aumento significativo nas restrições à prática religiosa em todo o mundo desde 2017. "Estimamos que mais da metade da população mundial, cerca de 4,5 bilhões de pessoas, vive em países onde a liberdade religiosa é altamente restrita", afirmou.
Schwalbenberg concluiu a apresentação enfatizando a importância de ver a pobreza por uma ótica que englobe tanto as necessidades materiais quanto as espirituais. "Esperamos que esse impasse na recuperação desde a pandemia seja breve e que possamos observar melhorias no núcleo da pobreza global em um futuro próximo", disse.
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Dia Mundial dos Pobres: Relatório mostra que esforços contra a pobreza global estagnaram - Instituto Humanitas Unisinos - IHU