O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o Evangelho do 32º Domingo do Tempo Comum – B (Marcos 12, 38-44), publicado por Religión Digital, 04-11-2024.
Uma das contribuições mais valiosas do evangelho ao homem contemporâneo é ajudá-lo a viver com um sentido mais humano em meio a uma sociedade doente de neurose de possessão.
O modelo de sociedade e de convivência que molda o nosso cotidiano não se baseia no que cada pessoa é, mas no que cada pessoa tem. O importante é ter dinheiro, prestígio, poder, autoridade... Quem tem isso avança e tem sucesso na vida. Quem não conseguir nada disso será desclassificado.
Desde os primeiros anos a criança é educada mais para ter do que para ser. O que importa é que você se treine para amanhã ter um cargo, uma renda, um nome, um título. Assim, quase inconscientemente, preparamos as novas gerações para a competição e a rivalidade.
Vivemos num modelo de sociedade que empobrece facilmente as pessoas. A demanda de carinho, ternura e amizade que pulsa em cada ser humano é atendida com objetos. A comunicação é substituída pela posse de coisas.
As pessoas se acostumam a se valorizar pelo que têm. E, desta forma, correm o risco de se tornarem incapazes do amor, da ternura, do serviço generoso, da ajuda solidária, do sentido livre da vida. Esta sociedade não ajuda a crescer na amizade, na solidariedade e na preocupação pelos direitos dos outros.
É por isso que o convite de Jesus a valorizar a pessoa a partir da sua capacidade de serviço e de solidariedade assume especial relevância nos nossos dias. A grandeza de uma vida é medida, em última análise, não pelo conhecimento que se possui, nem pelos bens que se conseguiu acumular, nem pelo sucesso que se conseguiu alcançar, mas pela capacidade de servir e ajudar os outros a viver de forma mais humana.
Quantas pessoas humildes, como a viúva do Evangelho, contribuem mais para a humanização da nossa sociedade com a sua vida simples de solidariedade e ajuda generosa aos necessitados do que muitos protagonistas da vida social, política ou religiosa, hábeis defensores dos seus interesses, seu protagonismo e sua posição.