O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o 16º Domingo do Tempo Comum – B (Marcos 6,30-34), publicado por Religión Digital, 15-07-2024.
É alegre para um crente encontrar um Jesus que compreende profundamente as necessidades humanas. Por isso nossa alma se enche de alegria ao ouvir o convite que ele dirige a seus discípulos: "Vinde a um lugar tranquilo para descansar um pouco".
Nós precisamos "fazer festa". E talvez hoje mais do que nunca. Sob um ritmo de trabalho inflexível, escravos de ocupações e tarefas por vezes exaustivas, precisamos desse descanso que nos ajude a nos liberar da tensão, do desgaste e da fadiga acumulada ao longo dos dias.
O sujeito contemporâneo frequentemente se tornou um escravo da produtividade. Tanto nos países socialistas quanto nos capitalistas, o valor da vida tem sido reduzido na prática à produção, eficácia e desempenho laboral. Segundo H. Cox, o homem moderno "comprou a prosperidade ao preço de um empobrecimento vertiginoso em seus elementos vitais". A verdade é que todos corremos o risco de esquecer o valor último da vida ao nos afogarmos no ativismo, no trabalho e na produção.
A sociedade industrial nos tornou mais laboriosos, melhor organizados, mais eficazes, mas, ao mesmo tempo, muitos têm a sensação de que a vida está escorrendo tristemente por entre os dedos. Por isso o descanso não pode ser apenas a "pausa" necessária para recuperar nossas energias esgotadas ou a "válvula de escape" que nos liberta das tensões acumuladas, para voltarmos com novas forças ao trabalho de sempre.
O descanso deveria nos ajudar a regenerar todo o nosso ser, descobrindo novas dimensões de nossa existência. A festa deve nos lembrar que a vida não é apenas esforço e trabalho exaustivo. O ser humano também é feito para aproveitar, brincar, desfrutar da amizade, orar, agradecer, adorar... Não devemos esquecer que, acima de lutas e rivalidades, todos somos chamados desde agora a desfrutar como irmãos de uma festa que um dia será definitiva.
Precisamos aprender a "tirar férias" de outra maneira. Não se trata de nos obcecar em "divertir-se a todo custo", mas sim de saber desfrutar com simplicidade e gratidão dos amigos, da família, da natureza, do silêncio, do jogo, da música, do amor, da beleza, da convivência. Não se trata de nos esvaziarmos na superficialidade de alguns dias vividos de maneira desenfreada, mas de recuperar a harmonia interior, cuidar mais das raízes de nossa vida, encontrar-nos a nós mesmos, desfrutar da amizade e do amor das pessoas, "gozar de Deus" através de toda a criação.
E não esqueçamos algo importante. Só temos direito ao descanso e à festa se nos cansarmos diariamente no esforço de construir uma sociedade mais humana e feliz para todos.