Medo de acreditar. Artigo de José Antônio Pagola

Pintura La tempestad, Oskar Kokoschkla (Foto: Wikimedia Commons)

21 Junho 2024

O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando 12º Domingo do Tempo Comum – Ciclo B (Marcos 4,35-40), publicado por Religión Digital, 17-06-2024.

Eis o artigo.

Os homens geralmente preferem o mais fácil e passamos a vida tentando evitar o que exige verdadeiro risco e sacrifício. Recuamos ou nos fechamos na passividade quando descobrimos as exigências e lutas que acompanham viver com alguma profundidade.

Temos medo de levar a sério nossa vida assumindo nossa própria existência com total responsabilidade. É mais fácil "se acomodar" e "seguir tocando", sem nos atrevermos a enfrentar o sentido último de nosso viver diário.

Quantos homens e mulheres vivem sem saber como, por que ou para onde. Eles estão lá. A vida continua, mas, por enquanto, que ninguém os incomode. Eles estão ocupados com seu trabalho, à noite os espera seu programa de televisão, as férias estão próximas. O que mais há para procurar?

Vivemos tempos difíceis, e de alguma forma precisamos nos defender. E assim cada um vai procurando, com mais ou menos esforço, o tranquilizante que mais lhe convém, embora dentro de nós se abra um vazio cada vez mais imenso de falta de sentido e de covardia para viver nossa existência em toda sua profundidade.

Por isso, nós que facilmente nos chamamos de crentes deveríamos ouvir sinceramente as palavras de Jesus: "Por que vocês são tão covardes? Ainda não têm ?". Talvez nosso maior pecado contra a fé, o que mais bloqueia gravemente nossa aceitação do evangelho, seja a covardia. Vamos dizer sinceramente. Não nos atrevemos a levar a sério tudo o que o evangelho significa. Temos medo de ouvir os chamados de Jesus.

Frequentemente isso é uma covardia oculta, quase inconsciente. Alguém falou da "heresia disfarçada" (Maurice Bellet) daqueles que defendem o cristianismo até com agressividade, mas nunca se abrem às exigências mais fundamentais do evangelho.

Então o cristianismo corre o risco de se tornar mais um tranquilizante. Um amontoado de coisas que precisam ser acreditadas, praticadas e defendidas. Coisas que, "na medida certa", são boas e ajudam a viver.

Mas então tudo pode ser falsificado. Pode-se estar vivendo sua "própria religião tranquilizante", não muito diferente do paganismo vulgar, que se alimenta de conforto, dinheiro e sexo, evitando de mil maneiras o "perigo supremo" de nos encontrarmos com o Deus vivo de Jesus, que nos chama à justiça, à fraternidade e à proximidade com os pobres.

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