13 Mai 2024
Texto escrito em outubro de 2007 para o site pessoal da autora (hoje encerrado) e que na época circulou na revista da arquidiocese de Oristano.
O artigo é de Michela Murgia, escritora italiana, publicado por La Stampa, 09-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
No começo eu também acreditei na história de que os jovens eram o futuro do mundo. Aos dezesseis a palavra futuro – seja o meu ou do mundo – era tão distante quanto a constelação de Andrômeda.
Plurais maravilhosos rolavam na minha boca, como doces grandes demais para serem engolidos inteiros: Vocês Jovens. A Juventude. As Jovens Gerações. Não sei por que quando se diz "jovem" não se conjuga simplesmente no singular. Os Jovens na linguagem comum são sempre uma misteriosa entidade coletiva. Não importa se depois se envelhece sozinho, jovens é sempre em conjunto.
Deve ser por causa dessa convivência forçada que a certa altura me pareceu urgente abandonar o condomínio ruidoso da Juventude e sair correndo para reivindicar minha ‘adultude’. Tudo bem, admito: a palavra ‘adultude’ não existe. Eu a inventei, mas, afinal, todas as palavras foram inventadas.
Mas a forjei como um ato de justiça semântica e que venha a Academia de letras para me explicar por que os jovens têm a Juventude para lhes dar um nome coletivo e o adulto deve ser um adulto por sua própria conta. Lembro-me de ter pensado: “Isso é crescer? Ter que encontrar outras palavras para dizer quem você é?". Eu me sentia como Adão no Jardim das coisas recém-criadas, ainda todas sem nome; mas minha exultação de forjador de lemas não durou muito. Entendi quase imediatamente porque o termo nunca tinha sido inventado: era inútil. Adultos não querem a ‘adultude’. Para eles é essencial permanecer jovens-por-dentro. A cada aniversário, a cada encontro casual depois de muito tempo, todos dizem que o importante é aquilo. A que serve a palavra ‘adultude’ se ninguém nunca se torna adulto e todos querem permanecer jovens-por-dentro, os pés para frente e a cabeça virada para trás, olhando o horizonte ao contrário enquanto rezam para que exista um Botox para a alma. Deve ser aí que comecei a pensar que “jovens-por-dentro” era outra maneira de dizer “retardados”.
Felizmente, de vez em quando, não com frequência, encontro alguém que não tem vergonha de ser adulto-por-dentro. Você pode perceber isso pela forma como não se apodera dos sonhos dos filhos, pelo que compra quando já tem o que precisa para viver, pela maneira como olha para você, sem o arrependimento de quem desceu do trem na estação errada e não consegue mais subir de volta. É diante de um adulto assim que entendo por que Deus fez o primeiro pacto não com um jovem, mas com um velho estéril, capaz de ver as estrelas sem pretender contá-las todas. Nenhuma idade tem sozinha a responsabilidade de cada futuro possível, e é por isso que há muito tempo deixei de acreditar no desastroso conto de fadas de que os jovens são o futuro do mundo. Prefiro sair à procura de adultos-por-dentro e tentar ser como eles, porque nos seus olhos o futuro se vislumbra possível e próximo, ao alcance da esperança. Com todo o respeito pelos vazios ideológicos dos vocabulários, eu continuo chamando isso de ‘adultude’.
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Os jovens não são o futuro. Artigo de Michela Murgia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU