Bispos alemães pedem que fiéis não votem na ultradireita

A Cruz do Caminho Sinodal na sessão de abertura, na catedral de Frankfurt, em 30 de Janeiro 2020: há uma crise de fé, de confiança e do sistema que a Igreja deve afrontar. (Foto: Reprodução | Der Sinodale Weg)

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23 Fevereiro 2024

A Conferência Episcopal Alemã apela para que membros da Igreja Católica não votem no partido AfD – em alta nas pesquisas – e aponta que o extremismo de direita é incompatível com os valores fundamentais do cristianismo.

A reportagem é publicada por Deutsche Welle, 22-02-2024.

Os bispos da Alemanha fizeram nesta quinta-feira (22/02) um apelo aos fiéis católicos do país para que se oponham ao crescente nacionalismo de extrema-direita, argumentando que essa corrente política é incompatível com as crenças fundamentais do cristianismo.

"O nacionalismo étnico é incompatível com a concepção cristã de Deus e do homem", apontou uma declaração conjunta apresentada por Dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã (DBK), durante um encontro na cidade de Augsburg. O apelo foi considerado incomum por parte da imprensa alemã, já que nas últimas décadas bispos alemães vinham adotando a prática de não manifestar posicionamentos sobre partidos do país.

No entanto, o pedido também ocorre em meio à ascensão nas pesquisas do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem aparecido em segundo lugar nas pesquisas nacionais, com mais de 19% das intenções de voto.

Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência mais liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam na imprensa por falas incendiárias ou racistas, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas e é vigiada de perto pelos serviços de inteligência alemães como uma ameaça potencial à ordem constitucional do país.

O partido também tem conexões com a extrema-direita mundial. Em 2021, uma de suas deputadas, Beatrix von Storch, foi recebida pelo então presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Extrema-direita não pode ser "um local de atividade política para os cristãos"

Em seu apelo, os bispos alemães abordaram diretamente a conduta da AfD, hoje o segundo maior partido de oposição no Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão), com 78 dos 735 deputados da Casa. "Depois de vários surtos de radicalização, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está agora dominado por uma atitude nacionalista".

Segundo os bispos, dessa forma "os partidos extremistas de direita e aqueles que proliferam nas margens dessa ideologia não podem, portanto, ser um local de atividade política para os cristãos e também não podem ser elegíveis".

A declaração também aponta que "a participação em políticas de extrema-direita – e particularmente qualquer forma de racismo ou antissemitismo – é incompatível com emprego ou serviço voluntário na Igreja Católica". A Igreja Católica alemã, especialmente por causa do seu braço beneficente, a organização Caritas, é um dos maiores empregadores da Alemanha depois do Estado, por meio da administração de uma ampla rede de hospitais, escolas e casas de repouso.

Ainda no mesmo documento, os bispos também se dirigiram a toda a Alemanha: "Apelamos aos nossos concidadãos, inclusive àqueles que não compartilham da nossa fé, para que rejeitem e repudiem a política da extrema-direita. Qualquer pessoa que queira viver em uma sociedade livre e democrática não pode abrigar essas ideias".

Bätzing também afirmou que era imperativo que a Igreja Católica assumisse uma posição clara, já que pesquisas vêm mostrando a AfD na liderança das pesquisas de intenção de voto para os três pleitos estaduais que devem ocorrer no leste da Alemanha neste ano: na Turíngia, na Saxônia e em Brandemburgo. Os levantamentos vêm provocando o temor de que a legenda possa finalmente eleger seu primeiro governador, no estado da Turíngia, um reduto da AfD no país.

A Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) também se posicionou contra a AfD no início de dezembro e declarou que a conduta do partido "não era de forma alguma compatível com os princípios da fé cristã”.

Em janeiro, milhares de alemães foram às ruas para protestar contra a ultradireita após a revelação pela imprensa de uma reunião realizada em Potsdam com a participação de neonazistas e membros da AfD, na qual foi apresentado um plano para a deportação em massa de milhões de imigrantes e "cidadãos não assimilados".

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