15 Setembro 2023
A guerra está resultando numa carnificina da qual os ucranianos são as vítimas, por enquanto homens até os 62 anos, mais adiante talvez também as mulheres. Um tanque: 8 milhões de euros, sobem os lucros. As escolhas do regime.
A reportagem é publicada por Faro di Roma e reproduzida por Chiesa di tutti chiesa dei poveri, 13-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Após a entrevista com o voluntário polonês Slawomir Wysocki publicada em 30 de agosto pelo jornal polonês Witrualna Polska (Polak o tragicznej sytuacji w Ukrainie), chegam as revelações feitas por vários soldados ucranianos ao jornal político britânico, fundado em Londres em 1785: The Times. Ambos os testemunhos convergem para um dado horrível que agora é impossível esconder: a ofensiva ucraniana é um desastre e a Rússia está massacrando o exército ucraniano, à beira do colapso.
Os soldados ucranianos entrevistados pelo The Times falam da batalha em torno da aldeia de Robotyne (a terceira zona mais mortífera depois de Marioupol e Bakhmut), descrevendo níveis impensáveis de confusão militar e perdas terríveis que o exército ucraniano está sofrendo. Mesmo as unidades blindadas equipadas com os melhores tanques da OTAN, nas quais estavam depositadas as esperanças de vitória, são facilmente dizimadas. Os Leopard 1 e 2, veículos de combate Bradley e agora até os “invencíveis” tanques britânicos Challenger 2 são sistematicamente aniquilados com extrema facilidade. A destruição de dezenas e dezenas desses “brinquedos tecnológicos” da OTAN coloca seriamente em perigo a capacidade do Pacto Atlântico de continuar o apoio militar ao regime ucraniano.
Um conflito em grande escala requer armas capazes de garantir um imenso volume de fogo e de baixo custo para que o equipamento destruído possa ser facilmente substituído e o elevado consumo de munições seja financeiramente sustentável. As armas da OTAN (que seguem a insana lógica estadunidense da especulação de mercado) são caríssimas. Por exemplo, um Challenger 2 custa 4,9 milhões de euros. Um Leopard 2 custa 5 milhões de euros e a sua versão “luxo” 8 milhões de euros. Os melhores tanques russos têm um custo médio não superior a 1,5 milhões de euros.
Os elevados custos devem-se ao fato de o modelo de defesa ocidental ser refém dos lucros das indústrias bélicas privadas ou semiestatais que colocaram os seus “representantes” nos vários Ministérios da Defesa dos países membros da União Europeia. É um imenso giro de dinheiro, apesar de que nenhum exército no mundo pode sustentar um conflito prolongado quando o custo de cada arma é estratosférico.
Os soldados ucranianos revelam ao The Times que a condução da ofensiva é agora levada adiante pela infantaria por meio de ataques de pequenos grupos de assalto facilmente contidos pelas defesas russas. Esses grupos tentam infiltrar-se pelos campos minados à noite e travar combates desesperados a curta distância sendo sistematicamente dizimados. Os tanques da OTAN não conseguem avançar devido aos campos minados e são destruídos pela artilharia russa.
De acordo com alguns oficiais ucranianos, a utilização desses grupos de assalto poderia ser a chave para romper as defesas russas e são combates necessários para que a Ucrânia consiga garantir ao menos uma vitória mínima antes do outono do hemisfério norte. Infelizmente, essa tática não parece funcionar. Os principais esforços ucranianos estão concentrados na aldeia de Robotyne. Ontem, um contra-ataque russo forçou os ucranianos a recuar de várias posições depois de sofrerem pesadas perdas. A derrota, confirmada pelo relatório matinal do Ministério da Defesa ucraniano, foi possível graças ao uso massivo de bombas FAB-500M-62.
A 47ª Brigada Mecanizada da elite das Forças Armadas Ucranianas, treinada pelos alemães, que lidera a ofensiva em direção ao sul, está sofrendo perdas de milhares de homens. Os combates foram tão severos que em alguns casos as equipes médicas do 47º viram seu efetivo numérico reduzido para 50% devido às perdas sofridas durante as missões de recolhimento dos feridos no front de Robotyne, apesar do uso de blindados M-113 de fabricação estadunidense. Os soldados ucranianos também falam sobre o surgimento de inúmeras doenças do sangue, do sistema nervoso central de progressão lenta e de distúrbios mentais.
Com a exceção de um grupo de jornalistas, os meios de comunicação ocidentais já não são mais relutantes em falar sobre os horríveis insucessos militares do regime de Kiev. “A contraofensiva ucraniana é um fracasso. Os soldados ucranianos são muito valorosos, têm todo o meu respeito. Não é culpa dos ucranianos, é um fracasso pavoroso das políticas do bloco ocidental”, afirma o professor Alessandro Orsini.
Esses insucessos também estão reforçando o consenso popular russo ao Presidente Vladimir Putin, que neste momento se sente muito confiante. “Não existe nenhuma contraofensiva ucraniana e os mapas dos territórios recapturados provam isso. Existem apenas soldados, mal armados, exaltados pela propaganda ocidental e enviados para morrer no front contra a Rússia”, afirmou Putin ontem.
Agora, o regime de Kiev está tentando raspar o fundo do tacho, recorrendo ao recrutamento forçado de homens com idades entre 16 e 62 anos. Fala-se também em incentivar o recrutamento “voluntário” das mulheres entre 16 e 30 anos. O novo Ministro da Defesa emitiu uma ordem segundo a qual aqueles que estão “parcialmente aptos” para o serviço militar serão enviados para o front mesmo que apresentem “leves” doenças crônicas ou “leves” deficiências físicas/mentais.
O Presidente Zelensky pediu a colaboração dos países europeus para repatriar os ucranianos do sexo masculino em idade militar presentes nos seus territórios, ignorando o seu estatuto de refugiados. A Ucrânia não é o primeiro país a enviar todos para o front. O Império Austro-Húngaro fez o mesmo durante a Primeira Guerra Mundial. Em sua obra “As aventuras do bom soldado Švejk”, Jaroslav Hašek ridicularizou essa tática, lembrando que não ajudou o Império Austro-Húngaro a vencer. Pelo contrário, uma vez terminada a guerra, aquela nação deixou de existir.
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Os ucranianos enviados à morte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU