11 Setembro 2023
Apesar dos seus esforços nos últimos anos, as autoridades de Rabat são regularmente criticadas pela persistência de um “Marrocos em duas velocidades”, com uma disparidade cada vez maior.
A reportagem é de Camille Eid, publicada por Avvenire, 10-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O epicentro do terremoto, de fato, localiza-se naquele "Marrocos esquecido", que corresponde ao "Marrocos inútil", segundo a famosa expressão do marechal Lyautey durante o protetorado francês.
A pressão da placa africana em direção à da eurásia que gera um movimento de compressão na cordilheira do Atlas, não é a única fatalidade de Marrocos. No Índice Mundial de Pobreza multidimensional, publicado em 2015 pela Oxford Poverty and Human Development Initiative (Ophi), a análise do caso marroquino conclui que a região de Marrakech-Tensift-Haouz é a mais afetada por esse flagelo, tendo uma taxa de pobreza de 28,3 por cento, contra uma média nacional de 15,4 por cento.
Os habitantes - que falam Tashelhit, uma das três variantes berberes de Marrocos - sofrem um nível de privação estimado entre 33 e 40 por cento do necessário para satisfazer as necessidades básicas, enquanto um quinto deles vive num verdadeiro estado de indigência. O índice estabelecido pelo centro de pesquisa britânico é determinado com base em vários indicadores que incluem saúde, alimentação, mortalidade infantil, escolaridade com os anos passados na escola e, finalmente, o padrão de vida com acesso a eletricidade, água potável, gás butano e eletrodomésticos. No caso de região atingida pelo terremoto, afirma o relatório, várias famílias não têm um único membro que tenha continuado seus estudos por cinco anos consecutivos.
Algumas famílias já perderam dois ou mais filhos, enquanto a “desnutrição grave” afeta vários núcleos. A mesma fonte especifica que para obter água potável, os habitantes às vezes têm que caminhar até 45 minutos. A situação é ligeiramente melhor em Ouarzazate e Ksar d'Aït Ben Haddou, 200 quilômetros a sudeste de Marrakech, ambas atingidas pelo terramoto. Os habitantes desses dois locais, famosos por suas típicas construções antigas num fascinante panorama de cor ocre, beneficiam-se da indústria cinematográfica que se desenvolveu naquelas que agora são consideradas as duas "Hollywood do Marrocos". A localidade de Ksar d'Aït Ben Haddou é tomada literalmente de ataque pelos diretores, apesar do local estar inscrito na lista da UNESCO do patrimônio mundial.
O último diretor a desembarcar - ou seria melhor dizer a retornar - a esse lugar é Ridley Scott que está atualmente trabalhando em seu Gladiador II. Os milhares de figurantes recrutados no local recebem um salário fixo em espécie: 300 dirhams (cerca de 27 euros) cada um por um dia de 11 horas de trabalho, um quarto do que os figurantes teriam ganho na Europa. Tudo ao redor é de novo miséria. Em algumas aldeias não existem estradas, escolas, dispensários, redes de água e eletricidade.
As regiões nem sequer são cobertas pela rede de telecomunicações devido à baixa rentabilidade.
Os habitantes precisam percorrer quilômetros para fazer ligações e, em casos de emergência, enfrentam uma corrida com obstáculos e dependem da sorte.
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Marrocos. Pobreza de quase 30%, numa terra sem água nem linhas telefônicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU