14 Junho 2023
Uma nova e diferente fase do pontificado de Francisco. A saúde do Pontífice é uma prioridade. Uma revisão dos compromissos pastorais programados e da agenda futura.
A reportagem é publicada por IL Sismografo, 14-06-2023.
O cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, em um e-mail enviado aos cardeais (121 eleitores, 101 não eleitores, 222 no total) e relatado pelo vaticanista Francesco A. Grana, em Fatto Quotidiano, escreve: "Sua Santidade está se recuperando bem de saúde e retornará ao Vaticano na quinta ou sexta-feira".
As palavras do cardeal são de autoridade, de uma pessoa sempre bem informada. A esperança é uma só: que se realizem como foram previstos. Neste ponto, porém, uma pergunta importante deve ser feita: como o Papa Francisco voltará a Santa Marta? Qual e quanto será o impacto deste longo período de intenso sofrimento que terminou com uma exigente cirurgia do seu corpo, aos 86 anos? Já em 1957, aos 21 anos, Jorge Mario Bergoglio iniciou uma história de significativas operações cirúrgicas.
Seu cirurgião, Dr. Sergio Alfieri, após a operação de 7 de junho, lembrou que o Papa Bergoglio, operado para reparar um defeito herniário com uma cirurgia plástica na parede abdominal, já havia enfrentado sérias operações: lobectomia, colecistectomia e ressecção do cólon. A remoção de catarata também deve ser acrescida (substituição da lente talvez em 2019).
Nestas poucas palavras, talvez demasiado técnicas, mas muito claras para fundamentar esta consideração inequívoca: o Santo Padre já não é o que vimos até agora, mesmo depois do aparecimento da gonartrose.
Hoje seu físico está muito desgastado e sua - como já escrevemos - pobre saúde de ferro é cada vez menos férrea. O Papa Francisco, portanto, terá que mudar drasticamente os tempos, métodos e quantidades de compromissos. Por outro lado, a Igreja e a opinião pública terão de se habituar a ler as ausências do Pontífice com serenidade e participação, sem se deixarem levar pelo alarmismo ou pela espetacularização.
No meio médico, nos últimos dias, registramos unanimidade em outra consideração: os exercícios para a reabilitação da parede abdominal são dificilmente praticáveis para um paciente como o Papa acometido de gonartrose, fator fortemente limitante.
A grade de leitura do andamento do pontificado a partir de agora deverá considerar esta complexa e frágil realidade que já assume a forma de uma longa e permanente estada em casa.
Ao longo dos anos e com o envelhecimento, o Papa já cancelou vários eventos que se tornaram referências mas já não existem, como a missa da manhã em Santa Marta com uma breve meditação, as sextas-feiras da Misericórdia, as visitas às paróquias de Roma e arredores, as visitas pastorais às dioceses de Itália, a remodelação primeiro e, depois, a supressão da procissão do Corpus Domini, os ritos da Semana Santa e tantos outros momentos significativos que agora são memória.
As crescentes limitações físicas do Santo Padre permitem hoje, na prática, alguns e esporádicos momentos de "fisicalidade pastoral" tão caros a ele, especialmente com os mais fracos: idosos, doentes, crianças, deficientes... Para o Papa Bergoglio, este o impedimento é doloroso e o ícone do papado no imaginário coletivo muda muito. Já vimos isso nos anos da pandemia.
As mesmas viagens internacionais já planejadas, e ainda mais futuras, terão de ser severamente revistas, em particular - das três já anunciadas (Lisboa/Fátima, Marselha e Ulan Bator) a da Mongólia que se afigura um insidioso desafio. A distância ultrapassa os 7 mil km, o que aumenta em caso de impossibilidade de sobrevoar o espaço aéreo russo devido às sanções pela guerra contra a Ucrânia. O voo pode durar 12/15 horas.
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Papa Francisco e seu pontificado depois da doença - Instituto Humanitas Unisinos - IHU