Desmate zero não resolve clima sem corte radical de CO2 em energia

Áreas de desmatamento no Amazonas, próximo às Terras Indígenas do povo Mura (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real | Flickr CC)

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26 Mai 2023

Armazenamento pode compensar emissões residuais, mas não sustentar atuais níveis de despejo de carbono na atmosfera, aponta estudo; Brasil tem maior potencial para aumentar captura de carbono.

A informação é de Leila Salim, publicada por Observatório do Clima, 18-05-2023.

Estudo publicado nesta quinta-feira (18) na revista Science quantificou o potencial de armazenamento de CO2 por florestas de todo o mundo e concluiu que, sem “contundentes reduções nas emissões”, a estratégia baseada no potencial dessas áreas em capturar carbono é insuficiente para conter o aquecimento do planeta. A equipe de pesquisadores foi liderada por Caspar Roebroek, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich, na Suíça) e membro do Joint Research Centre, o instituto de pesquisas que apoia a elaboração de políticas públicas pela União Europeia.

O cálculo foi feito a partir da modelagem de um cenário em que todas as florestas globais estivessem livres de qualquer forma de intervenção humana — ou seja, desempenhando seu máximo potencial como “sumidouros” de carbono. Os cientistas estimaram, nesse cenário hipotético, quanto a mais de CO2 poderia ser absorvido pelas florestas.

Os resultados indicaram que, mantidas as atuais condições climáticas e com os atuais níveis de emissão e concentração de CO2 na atmosfera, as florestas existentes poderiam acumular até 44,1 bilhões de toneladas de carbono a mais, um aumento de 15% a 16% em relação ao que estocam atualmente. Um bilhão de toneladas de carbono corresponde a 3,67 bilhões de toneladas de CO2.

O potencial de armazenamento, ressalvam os cientistas, varia significativamente entre os países. As florestas tropicais da América do Sul e da África, que sofrem mais com desmatamento e degradação, apresentam um aumento robusto em suas capacidades de absorção de carbono no cenário de zero intervenções humanas nessas áreas. O Brasil, como mostra a figura abaixo, é o país que mais pode aumentar sua capacidade de sequestro de CO2.

O gráfico ilustra o potencial adicional para armazenamento de carbono por país (Fonte: Science | Reprodução Observatório do Clima).

Segundo os pesquisadores, a quantidade adicional de carbono que poderia ser armazenada com a preservação total das florestas, apesar de significativa, é insuficiente. Ela corresponde a aproximadamente quatro anos do total de emissões antropogênicas (decorrentes da ação humana) de CO2, considerando as taxas de 2019. O estudo considerou apenas o carbono fixado pelas florestas na chamada “biomassa acima do solo”, ou seja, aquele carbono que fica armazenados nas estruturas vegetais como troncos, ramos e folhas.

As florestas são consideradas “sumidouros” de carbono porque, através da fotossíntese, retiram CO2 e devolvem oxigênio à atmosfera. Mesmo que, no processo de respiração, as plantas consumam oxigênio e devolvam CO2 à atmosfera, parte do carbono fica retido na madeira, folhas e raízes.

“As atuais florestas têm um potencial adicional para armazenamento de carbono limitado para mitigar substancialmente a concentração de CO2 na atmosfera sem que haja uma grande redução nas emissões fósseis. Por isso, a mitigação baseada em florestas não deveria ser confundida com uma compensação aos atuais níveis de emissões de carbono. Pelo contrário, os esforços para reverter as tendências do desmatamento e aumentar os estoques de carbono devem ser vistos como estratégias preciosas e eficazes para compensar futuras emissões residuais do setor agrícola e de indústrias essenciais que provavelmente não atingirão emissões líquidas zero”, conclui o estudo.

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