12 Mai 2023
Para Zelensky, qualquer encontro com o Papa é importante, mas com líderes coma a premier Giorgia Meloni são ainda mais importantes. O que a viagem de Zelensky para a Itália tem a ver com a missão de paz da qual o Vaticano vem falando há dias? Alguém já quis registrar uma mediação inexistente?
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 12-05-2023.
Um anúncio de uma visita plausível do presidente Zelensky à Itália no próximo sábado, anúncio atribuído a "fontes do Vaticano", não foi oficialmente confirmado, mas também não foi negado. É possível e provável, mas também plausível.
É certo que, se Zelensky realmente visitar Roma por algumas horas, ele irá se encontrar com Meloni, ou com Sergio Mattarella, ou com Francisco. Para o presidente ucraniano, para os Estados Unidos, para a OTAN e para os maiores dos países da União Europeia, mesmo que nunca o digam, o encontro importante da viagem de Zelensky à Itália é precisamente e sobretudo o encontro com Giorgia Meloni.
Sem termos absoluta certeza de que Zelensky realmente chegará a Roma no sábado para essas três reuniões, já está circulando o bordão segundo o qual, depois de Zelensky, será a vez de Vladimir Putin. Ao dizer isso, queremos endossar a afirmação de que a mediação do Papa Bergoglio ocupa um lugar central no cenário planetário. Mas não é assim. Mesmo uma análise mais ampla mostra de imediato que as condições para confiar esta função na Santa Sé não existem agora.
Desde as origens da viagem romana de Zelensky, esta é uma decisão fundamental: ir a Roma para consolidar e aumentar a amizade com a Itália e buscar novas ajudas. Obviamente, o presidente ucraniano que vai a Roma para apelar e ajudar a travar a guerra é central para esta missão militar específica, que ele credita como a única forma de recompensar a "paz justa". "Ganhar a guerra para a Ucrânia significa expulsar os ocupantes de seu território e decidir livre e democraticamente o destino do país", repetiu o presidente ucraniano ainda recentemente.
Com o Papa as coisas obviamente seriam diferentes. De qualquer forma, um encontro sério de grande valor simbólico e midiático, mas pouco relevante do ponto de vista político-operacional. O papel que Zelensky representa, diante de um país em guerra e parte de seu território ocupado pelo agressor, não condiciona a visão pastoral papal.
O acordo de paz entre os dois é óbvio, mas o Papa não pode contestar diretamente o direito da Ucrânia de se defender. Zelensky, se necessário, poderia dizer a Francisco: não se defender é suicídio, é uma renúncia à vida que significa selar ou desaparecimento da Ucrânia e escancarar a porta para outras apropriações dos russos, os "usurpadores", palavra usada por Jorge Mario Bergoglio quando o Reino Unido retomou as Ilhas Malvinas/Falkland.
Então, quem já imagina um "segundo passo", um encontro entre o Papa e Putin, deve parecer impensável que ele vá a tribunal na Europa para que o líder russo possa ser levado a pedido pelo Tribunal Penal Internacional para a acusação de "crimes de guerra". O suposto mediador teria então que viajar para Moscou, diretamente para o Kremlin, de onde Putin ordenou e liderou uma guerra "feroz, desumana, sacrílega", segundo as palavras de Francisco.
Talvez outras operações criativas neste assunto sejam contraproducentes para o próprio Papa, e quem pensa que pode ajudá-lo com a hipótese de cenários semelhantes, no centro de uma mediação que é impossível sem o consentimento de Washington e Pequim, está fazendo um mal ao Papa Bergoglio.
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Papa Francisco encontrará Vladimir Putin depois de Zelensky? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU