21 Abril 2023
A Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), iniciada no dia 19 de abril, prosseguiu nesta quinta-feira seus trabalhos. A oração das Laudes, primeiro momento de cada jornada, deu passo a uma pauta que começou com uma reflexão em torno à nova edição do Missal, uma tradução da 3ª edição, que, segundo Dom Edmar Peron, bispo da diocese de Paranaguá (PR), e presidente da Comissão Episcopal de Liturgia da CNBB, responde ao dinamismo da Igreja.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
“Mais importante do que a aprovação do Missal é como ele será recebido em nossas comunidades”, insistiu Dom Edmar Peron, que chamou a entender a liturgia não como rubricas e sim como evento de salvação, não caindo no rubricismo, passando do rito a ser observado para o rito a ser celebrado.
O bispo falou de algumas atitudes fundamentais: estupor, formação e silêncio, questionando aos presentes, seguindo a pergunta do Papa em Desiderio Desideravi sobre “como recuperar a capacidade de viver plenamente a ação litúrgica?”. O Missal, que foi promulgado no dia 25 de março deste ano, por decisão do Conselho Permanente da CNBB será de uso facultativo até o primeiro domingo do Advento e depois se tornará obrigatório.
A Comissão de Doutrina da Fé da CNBB refletiu sobre o papel da Igreja na transmissão da fé e dos bispos como “pais da fé”. Dom Pedro Cipolini, bispo de Santo André (SP), e presidente da Comissão destacou o interesse pastoral da comissão, relatando as atribuições que o Estatuto da CNBB lhe confere. O bispo mostrou algumas luzes e sombras da vivência da fé na Igreja do Brasil, destacando que a Igreja do Brasil foi uma das que melhor acatou o Concilio Vaticano II, assim como a sinodalidade.
Em relação ao Estatuto Canônico e o Regimento da CNBB, o primeiro deles foi aprovado em 2022 e nesta 60ª Assembleia Geral os bispos têm que aprovar o Regimento, que tem a mesma estrutura do Estatuto. Segundo Dom Moacir Silva, arcebispo de Ribeirão Preto, muita coisa mudou nos últimos 20 anos em que tem regido o atual regimento, se tornando necessário incorporar essas mudanças. Ao longo da Assembleia os bispos irão estudando o novo Regulamento com o fim dele ser aprovado. Um trabalho que já está sendo realizado nos encontros por regionais, que começaram nesta quinta-feira e nas reuniões privativas, que também começaram neste dia 20.
Algumas dessas questões foram abordadas na coletiva de imprensa, que contou com a participação de Dom Edmar Peron, Dom Pedro Cipolini e Dom Leomar Brustolin, arcebispo de Santa Maria (RS), que refletiu sobre o processo das novas Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que deveriam ser renovadas nesta assembleia, mas que em função do Sínodo 2021-2024 só serão publicadas em 2025, que estão sendo elaboradas com muita escuta, “para saber onde estamos e para onde vamos”, destacou o arcebispo de Santa Maria.
Tendo como ponto de partida a fé, Dom Leomar refletiu sobre como falar às novas gerações diante da atual conjuntura e as novas tecnologias, que aproximam e distanciam, e junto com isso a preocupação exclusiva no presente por parte das novas gerações, o individualismo, a religião privatizada, a falta de comunidade, elementos que demandam uma conversão pastoral. O arcebispo vê as novas diretrizes como oportunidade para se questionar em torno a como transmitir a fé às novas gerações, e junto com isso como refletir em torno ao senso de pertença eclesial, a comunhão, a sinodalidade e a diocesaneidade.
Isso numa sociedade em que mais do que acolhida, se dá uma escolha da fé. Dom Leomar Brustolin fez uma relação entre as 3 palavras chave do Sínodo e as novas diretrizes: comunhão como formar comunidades integradas na pluralidade de experiências, fazer das paróquias casa de irmãos; participação como senso de pertença, insistindo na questão dos ministérios ordenados e ministérios leigos; missão na perspectiva de colocar a dimensão missionária como transversalidade de todas as Diretrizes. O arcebispo de Santa Maria insistiu em não pensar só em questões religiosas e sim na diversidade de realidades, em trabalhar a fraternidade e amizade social, insistindo em que na elaboração das Diretrizes, estamos ainda num processo de escuta.
Tanto Dom Edmar Peron como Dom Pedro Cipolini insistiram em questões apresentadas aos bispos na plenária da 60ª Assembleia Geral da CNBB. Na questão da Liturgia o bispo de Paranaguá insistiu em que “é para a Liturgia que converge a vida da Igreja e da Liturgia a Igreja recebe uma graça para entender sua missão”, tendo como fundamento a Sacrosanctum Concilium.
Na dimensão da Doutrina da Fé, Dom Pedro Cipolini destacou que “não podemos compreender a Igreja sem a fé”, considerando que a questão da fé é de primeira importância em tudo o que a Igreja faz.
Resgatar a unidade diante da fragmentação é um elemento fundamental nas novas diretrizes, segundo dom Leomar Brustolin, que insistiu em que “ser católico é aceitar formas diferentes de pensar, a unidade não se faz sem um esforço de superar essa fragmentação”. Ele afirmou, seguindo Evangelii Gaudium que a Igreja existe para evangelizar, formar discípulos missionários a partir do encontro com Jesus Cristo que sempre é comunitário.
Seguindo a dinâmica do Sínodo, que implementou o Sínodo Digital como um instrumento que tem ampliado a escuta, Dom Leomar afirmou que “pode ser que a gente fique escutando sempre os mesmos, os que já estão em casa, pelo que essa proposta de ampliar a escuta é indispensável”. Junto com isso, “escutar aquilo que a gente não gosta de ouvir”, vendo como fundamental para a Igreja do Brasil “escutar os que se afastaram da Igreja” e quem vem em função dos sacramentos, buscando conhecer “qual é a percepção da presença pública da Igreja, a relevância da Igreja numa sociedade como a nossa”. Uma escuta digital “para que possamos ir ao encontro daqueles que estão em outros areópagos que não são necessariamente aqueles que estamos habituados a frequentar”.
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60ª Assembleia Geral da CNBB: Liturgia, Doutrina da Fé e Novas Diretrizes marcam a segunda jornada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU