27 Março 2023
Um grupo de mulheres católicas na França escreveu aos quase 100 bispos do país no dia 8 de março para perguntar por que eles permitem que as paróquias recusem meninas como coroinhas, mas apenas quatro responderam.
Adeline Fermanian e Sylvaine Landrivon, membros do Comité de la Jupe, comentam o caso em artigo publicado por La Croix International, 23-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nosso grupo de mulheres católicas, o Comité de la Jupe (“Comitê da Saia”), enviou uma carta a cada um dos bispos da França no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, pedindo-lhes que se posicionassem sobre o status de algo chamado de “servidoras da assembleia”.
Essa prática envolve a atribuição de um papel diferente às crianças de acordo com seu gênero. Os meninos são designados para servir ao altar (carregar as velas ou o turíbulo, ajudar o padre durante o ofertório, preparar o altar etc.), enquanto as meninas servem à assembleia (distribuindo os folhetos, recolhendo o dinheiro na coleta etc.).
A prática está se espalhando em muitas dioceses e parece uma negação da igualdade batismal. O resultado é uma grave discriminação contra as meninas, que são excluídas do presbitério.
De acordo com nossa cartografia [disponível aqui], mais da metade das paróquias na França proíbem as meninas de serem servidoras do altar. Milhares de crianças, portanto, são afetadas. Que mensagem estamos enviando para as gerações mais jovens? Que as meninas são impuras e impróprias para se aproximarem do altar?
Mas essa exclusão das meninas vai contra a mensagem do Evangelho e também do Magistério. Será que alguns precisam ser lembrados de que Cristo compartilhou sua revelação e sua palavra, sem levar em consideração o gênero, com seus discípulos e discípulas?
No Evangelho de João, Marta diz a Jesus: “Creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus...”. E, embora em Mateus (16,16) Pedro também declare: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus não continua, como fez com Marta, se revelando no mistério da Ressurreição.
Em João, é mais uma vez uma mulher, a mulher Madalena, a quem Cristo confia a missão de anunciar sua ressurreição, sem se preocupar com o fato de que agir assim era contra os costumes da época...
São Paulo entendeu a mensagem que estava transmitindo aos gálatas quando explicou que “em Cristo não pode haver judeu nem grego... nem homem nem mulher” (Gl 3,28).
As Escrituras, portanto, atestam uma ligação possível, até mesmo necessária, entre as mulheres e a difusão da Palavra. Também é importante lembrar que o Vaticano II, no texto conciliar Gaudium et spes (§ 29), denunciou “qualquer forma social ou cultural de discriminação [...] por razão do sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião” como “contrária à vontade de Deus”.
Além disso, o motu proprio Spiritus Domini de janeiro de 2021, relativo ao acesso das mulheres aos ministérios instituídos do leitorado e do acolitado, contradiz essa estranha prática das “servidoras da assembleia” que relega as meninas e as mulheres a papéis subordinados.
O Papa Francisco afirma que “determinados ministérios instituídos pela Igreja têm como fundamento a condição comum de batizado e o sacerdócio real recebido no Sacramento do Batismo”. Ele continua dizendo que “uma prática consolidada na Igreja latina confirmou que tais ministérios laicais, baseando-se no Sacramento do Batismo, podem ser confiados a todos os fiéis que forem idôneos, de sexo masculino ou feminino, de acordo com quanto já é implicitamente previsto pelo cânone 230 § 2”.
Não faltam fundamentos bíblicos e magisteriais para rejeitar esse ostracismo das meninas, que é totalmente incompreensível para a sociedade civil, a ponto de afastar muitos fiéis que não encontram justificativa para essa segregação.
E os bispos sabem muito bem disso. “Nenhum texto do Magistério proíbe as meninas de servirem ao altar”, disse recentemente o arcebispo Guy de Kerimel, de Toulouse, em um artigo na revista Famille Chrétienne (12 de setembro de 2022).
O autor do artigo também se mostrou surpreso com a proliferação dessas “servidoras da assembleia”, uma prática “nascida há cerca de 15 anos na França, cujo crescimento é exponencial”.
Pedimos aos bispos que explicassem por que a prática foi iniciada e é mantida. Fizemos isso intencionalmente por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a fim de assinalar essa cruel falta de respeito pelos direitos das mulheres.
Até o momento, apenas quatro bispos nos responderam. O bispo Denis Moutel, de Saint-Brieuc, nos disse que a prática não existe em sua diocese. O bispo Jean-Marc Eychenne, de Grenoble, respondeu da mesma forma, assim como o bispo Christian Nourrichard, de Évreux. O quarto a responder foi o arcebispo Olivier de Germay, de Lyon. Ele confirmou que não há nada que se oponha à presença de meninas ao redor do altar; consequentemente, ele deixa seus padres livres para escolherem, enquanto os alerta para o fato de que “não tardaremos em perceber os limites” da “atual mistura de tudo”.
Aguardamos a resposta de todos os seus outros coirmãos para saber como aqueles que mantêm essa “moda” conseguem justificá-la. Porque esse é o dever deles – em nível antropológico, teológico ou eclesiológico – quando nada a sustenta nem a valida.
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Servidoras da assembleia? Bispos devem enfrentar a discriminação de meninas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU