17 Dezembro 2022
"Ele [Jesus] não traz em suas costas um saco de presentes, nem tenta entrar sorrateiramente pelas chaminés das casas e não faz propaganda nos shoppings e tevês. Ao contrário, Ele não distribui presentes, Ele é o presente", escreve João J. C. Sampaio, graduado e mestre em Filosofia pelas Faculdades Anchieta/SP e UNIMEP – SP, respectivamente. É também formado em Teologia, pelas Faculdades Associadas do Ipiranga, e mestre em Teologia Dogmática, pela FAI/São Paulo.
O nosso tempo é especialista em transformar coisas e pessoas em mercadoria. Não é por acaso que são construídos em toda a parte os mega-shoppings e mega supermercados para acolher mais produtos e mais consumidores. O mundo religioso também não escapou a essa dolorosa realidade. Além das farmácias que vendem as mais diferentes drogas para acalmar as dores que acumulamos dentro de uma existência vazia e indiferente, encontramos também recintos religiosos que garantem curas fantásticas e riquezas incalculáveis, desde que, generosa e voluntariamente contribuamos com os nossos dízimos e ofertas. Ao que parece, ir ao supermercado para as compras ou ao templo nos momentos de angústia se tornou a mesma coisa. O nosso jeitinho de viver participa muito mais do mundo das conveniências do que das convicções. O mundo religioso vem se tornando mais o espaço das exibições que do testemunho, de modo que vale mais o espetáculo que o conteúdo dele.
Este é o nosso momento: o do consumo inveterado de tudo o que achamos que pode ser bom! As nossas convicções interiores, inexpressivas e frágeis, necessitam de mil-e-uma luzinhas exteriores para garantir a sensação de que tudo está bem. Quando fazemos muita questão de brilhar por fora é porque, por dentro, a luz do sentido da vida está um tanto bruxuleante. E assim continuamos doentes de corpo e de alma, mas consumindo sempre mais para levantar a nossa baixa autoestima.
E vem o Natal, o filé mignon das indústrias e comércios. Os outdoors proclamam a festança do consumo, as propagandas manifestam sua profissão de fé nos mimos que prometem satisfazer os nossos mais íntimos desejos e as vendas on-line exibem os mais recentes produtos que podem trazer muito prazer. Desse modo, os que podem se dar ao luxo de comprar o supérfluo exibem suas coleiras de ouro, os menos favorecidos se endividam por mais um ano ou mais e os desvalidos da vida ficam aguardando as migalhas que podem cair das mesas ricas nestes tempos de ternura ocasional ou de justificativas das riquezas. Afinal, insistimos em provar que nossas riquezas, justas ou injustas, procedem das mãos do Todo-Poderoso!
Sabemos que no Natal celebramos o aniversário de Jesus, que nós, cristãos, reconhecemos como Senhor e Salvador de nossas vidas. Sabemos também que a festa que realizamos em sua honra pode e deve ter brilhos exteriores, mas ela deve manifestar sobretudo o brilho que vai por dentro de todos nós. Afinal, temos motivos de sobra para o júbilo incontido, pois fomos e somos agraciados com o mais significativo dos presentes que poderíamos receber: o próprio Filho de Deus, em carne e osso, assumindo o jeito humano de ser e fazendo parte de nossas vidas.
Ele não traz em suas costas um saco de presentes, nem tenta entrar sorrateiramente pelas chaminés das casas e não faz propaganda nos shoppings e tevês. Ao contrário, Ele não distribui presentes, Ele é o presente. Não entra escondido em nossas casas, Ele vem fazer parte dela. Também não explora e não vende nada, ELE é a gratuidade em pessoa. O seu valor se encontra Nele mesmo e não nas vestes que usa, no sapato que calça, na casa que mora nem na comida que come. Ele basta a si mesmo e não vive do espetáculo das exterioridades. Se assim não fosse teria nascido num rico e bonito palacete na famosa Jerusalém e não em um estábulo na periferia de Belém.
O nosso aniversariante não quer que vivamos angustiados com o que temos ou deixamos de ter. A sua vida simples e sábia provou que não precisamos do supérfluo para viver. Além do mais, Ele não é mercadoria, é o nosso Deus!
Meu Irmão, minha Irmã! O melhor seria tomarmos a mesma a atitude de sua mãe Maria e nos abrirmos ao Espírito Santo de Deus e deixarmos nos engravidar de Jesus. Depois de inebriarmos com a sua presença, podemos, de verdade, sentir e desejar a todos um Feliz Natal!
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Natal de consumo. Artigo de João J. C. Sampaio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU